Hora de falar de poesia e de mais um grande poeta da nossa literatura, que participou da Semana de Arte Moderna de 22, publicou um livro “Cobra Norato”, que foi considerado o mais importante dentro do Movimento Antropófago. Vamos falar da vida e obra de Raul Bopp.
O início
Raul Bopp nasceu no dia quatro de agosto de 1898, em Vila Pinhal, Santa Maria, no Rio Grande do Sul, sua família era de imigrantes alemães. Quando ele estava com um ano eles foram morar na cidade de Tupanciretã, onde faria seus estudos e mostraria sua inclinação pela literatura.
Aos 16 anos, em 1914, iniciou uma série de viagens por vários Estados do Brasil. Nesse período, durante suas andanças, trabalha em diversas atividades como pintor e caixeiro viajante.
Em 1917 retorna a Tupanciretã e passa a se dedicar à literatura, fundando os semanários “Mignon” e “O Lutador”, onde passou a publicar seus poemas. Nessa época ele concluiria o ensino médio, ingressando, posteriormente na Faculdade de Direito de Porto Alegre. Ele fez seu curso de Direito entre 1918 e 1925, estudando também em Recife, Belém e Rio de Janeiro, cada ano letivo em uma das capitais.
Durante esse período, em 1920, fez uma longa viagem à Amazônia, de onde extrairia a base para sua mais importante obra “Cobra Norato”.
Esteve entre os participantes da Semana de Arte Moderna de 22, integrando o grupo de modernistas de São Paulo. Depois iria se aproximar do Grupo Verde Amarelo, mantendo contato com escritores como Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo e Plínio Salgado. Em 1928 vai integrar o Movimento Antropofágico, juntamente com Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. Raul chegou a trabalhar na Revista Antropofagia.
A literatura e Cobra Norato
Em 1931 Raul Bopp publica aquela que seria sua mais importante obra, “Cobra Norato”. Utilizando-se dos versos livres ele cria uma mistura de drama épico e mitológico, utilizando elementos da cultura e do folclore da Amazônia, fruto de sua experiência anterior, da viagem que fizera à região.
O livro fez sucesso e foi considerado uma das principais obras do Movimento Antropófago e um marco em nossa poesia. A obra transformou Raul Bopp num dos grandes expoentes da literatura de sua época.
Cobra Norato foi tão relevante que em 1977 ele receberia o Prêmio Machado de Assis, como destaque da literatura brasileira.
Confira, abaixo, um trecho dessa bela narrativa:
“No princípio era sol, sol, sol
O Amazonas ainda não estava pronto
As águas atrasadas
derramavam-se em desordem pelo mato
O rio bebia a floresta
Depois veio a Cobra Grande Amassou a terra elástica e pediu para chamar sono
As árvores enfastiadas de sol combinaram silêncio
A floresta imensa chocando um ovo!
Cobra Grande teve uma filha. Ficou moça
Um dia
ela disse que queria conhecer homem
Mas não encontraram rastro de homem
Então
Começaram a adivinhar horizontes
e mandaram buscar de muito longe um moço
Ai! Que houve festa na floresta!
Mas a filha da Cobra Grande não queria dormir com o
noivo
Porque naquele tempo não havia noite
A noite estava escondida atrás da selva
dentro de um caroço de tucumã
Ah! Então vamos buscar o tucumã
pra dar de presente de casamento (…)”
Além de Cobra Norato, Bopp publicou outras importantes obras literárias, como:
– Urucungo, Poemas Negros (1932)
– Poesias (1947)
– Movimentos Modernistas no Brasil (1966)
– Memórias de um Embaixador (1968)
– Coisas do Oriente (1971)
– Vida e Morte da Antropofagia (1977)
Diplomacia
Além da poesia e da literatura, Raul Bopp dedicou parte de sua vida profissional à carreira diplomática, que abraçou a partir de 1932. Como diplomata viveu em várias cidades como Los Angeles, Berna, Lima, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Brasília. Tornou-se embaixador em 1958.
Raul Bopp faleceu no dia dois de junho de 1984, no Rio de Janeiro, aos 85 anos.
Legado
Raul Bopp pertenceu à primeira geração do modernismo brasileiro. Esteve ao lado de escritores e artistas consagrados como Carlos Drumond de Andrade, Jorge Amado, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. Sua obra, que abordava temas históricos e culturais do nosso país, também destacou, em sua poesia, a participação da matriz africana em nossa formação cultural.
Foi um brilhante poeta, que buscou valorizar a nossa cultura, nossas tradições e, também, a nossa miscigenação. Adepto dos versos livres, mostrou ao mundo uma forma diferente de fazer poesia.
Foi, sem dúvida, um dos poetas mais importantes do modernismo brasileiro. Por isso merece muito ser lido.