O Brasil é um país pródigo em produzir grandes poetas. Ao longo da história nosso país ofereceu ao mundo um imenso número de poetas e poetisas. Agora vamos falar de um desses inesquecíveis escritores que, além de escrever poesias, também era jornalista e foi um dos grandes cronistas da sua época.
Vamos conhecer a vida e a obra de Paulo Mendes Campos.
Infância
Paulo Mendes Campos nasceu em Belo Horizonte, no dia 28 de fevereiro de 1922, filho do médico e escritor Mário Mendes Campos e de Maria José Lima Campos, que era uma amante da literatura, característica que seria herdada por seu filho.
Paulo era o terceiro de um total de oito filhos do casal, além dele havia Carmen, Marino, Sílvio, Marília, Eunice, Aluizio e Maurício. Maria José, que adorava os livros, criou o hábito de reunir todos os filhos para ler poesia para eles. Esse foi um fator decisivo na relação do menino Paulo com a literatura.
Em seus primeiros anos de estudo, o pequeno Paulo enfrentou algumas reprovações e acabou indo para um colégio interno, o Dom Bosco, em Cachoeira do Campo. Em seguida, ele vai fazer o curso secundário, concluído em 1939, em São João del-Rei. Nessa época ele conhece o futuro escritor Otto Lara Resende.
Após a conclusão do ensino médio, Paulo inicia os cursos de odontologia, direito e veterinária, mas não conclui nenhum deles. Nessa época ele também ingressa na Escola Preparatória de Cadetes, em Porto Alegre, pois queria ser piloto. Foi outro curso não concluído por ele.
De volta a Minas Gerais, Paulo Mendes Campos acabou se tornando funcionário público, trabalhando na Diretoria de Saúde Pública.
Literatura
Paulo volta para Belo Horizonte em 1940 volta a manter contato com Otto Lara e conhece Fernando Sabino e Hélio Pellegrino.
Amante da poesia, em 1945 Paulo Mendes Campos vai para o Rio de Janeiro para conhecer o poeta chileno Pablo Neruda, que estava da cidade visitando os amigos Vinícius de Moraes e Di Cavalcanti. Paulo permanece no Rio, onde também já morava seu amigo Fernando Sabino e começa a escrever para vários jornais cariocas como o ‘Correio da Manhã’, o ‘Diário Carioca’ e ‘O Jornal’. Trabalhou também como Diretor de Obras Raras da Biblioteca Nacional e foi, durante vários anos, colunista da revista Manchete e do Jornal do Brasil.
Em 1951 publica seu primeiro livro de poesias, “A Palavra Escrita”. Após a publicação do primeiro livro, Paulo Mendes Campos não se separou mais da literatura, produzindo diversas obras de alta qualidade, algumas publicadas após o seu falecimento. Confira abaixo as principais obras do poeta.
Poesia
– A Palavra Escrita – 1951
– Forma e Expressão do Soneto, antologia – 1952
– O Domingo azul do mar – 1958
– Testamento do Brasil e Domingo azul do mar – 1966
– Transumanas – 1977
– Poemas – 1979
– Diário da tarde (poesia e prosa) – 1981
– Trinca de copas (poesia e prosa) – 1984
Crônicas
– O Cego de Ipanema – 1960
– Homenzinho na ventania – 1962
– O Colunista do morro – 1965
– Antologia brasileira de humorismo – 1965
– Hora do recreio – 1967
– O Anjo Bêbado – 1969
– Rir é o único jeito: supermercado – 1976 (reedição de Hora do Recreio)
– Os bares morrem numa quarta-feira – 1980
– O Amor acaba – Crônicas líricas e existenciais – 1999
– Brasil brasileiro – Crônicas do país, das cidades e do povo – 2000
– Alhos e bugalhos – 2000
– Cisne de feltro – 2000
– Murais de Vinícius e outros perfis – 2000
– O gol é necessário – Crônicas esportivas – 2000
– Artigo indefinido – 2000
– De um caderno cinzento – Apanhadas no chão – 2000
– Balé do pato e outras crônicas – 2003
– Quatro histórias de ladrão – 2005
Infanto-juvenil
– A arte de ser neta – 1985
Confira, abaixo, dois poemas de Paulo Mendes Campos.
As Mãos que se Procuram
Quando o olhar adivinhando a vida
Prende-se a outro olhar de criatura
O espaço se converte na moldura
O tempo incide incerto sem medida
As mãos que se procuram ficam presas
Os dedos estreitados lembram garras
Da ave de rapina quando agarra
A carne de outras aves indefesas
A pele encontra a pele e se arrepia
Oprime o peito o peito que estremece
O rosto o outro rosto desafia
A carne entrando a carne se consome
Suspira o corpo todo e desfalece
E triste volta a si com sede e fome.
Três Coisas
Não consigo entender
O tempo
A morte
Teu olhar
O tempo é muito comprido
A morte não tem sentido
Teu olhar me põe perdido
Não consigo medir
O tempo
A morte
Teu olhar
O tempo, quando é que cessa?
A morte, quando começa?
Teu olhar, quando se expressa?
Muito medo eu tenho
Do tempo
Da morte
De teu olhar
O tempo levanta o muro.
A morte será o escuro?
Em teu olhar me procuro.
Uma curiosidade literária interessante é que Paulo Mendes Campos nasceu em 1922, ano da famosa Semana de Arte Moderna, que seria um divisor de águas da literatura brasileira. Paulo se tornaria um poeta da terceira geração do modernismo brasileiro.
Prêmios
Com uma vasta obra de poemas e crônicas, Paulo Mendes Campos ganha o prêmio “Alphonsus Guimarães”, do Instituto Nacional do Livro (Ministério da Educação e Cultura), em 1959, pelo livro “O Domingo Azul do Mar”.
Tradução
Além de escrever seus livros e atuar como jornalista e cronista, Paulo desenvolveu um sólido trabalho com tradutor, participando da tradução de obras de autores consagrados como Shakespeare, Oscar Wilde, Júlio Verne, Jane Austen, Charles Dickens, C. S. Lewis, Gustave Flaubert, Pablo Neruda, T. S. Eliot, James Joyce, Jorge Luis Borges e outros.
Frases
Conheça algumas frases do autor, da crônica ‘A Aurora’, publicada em seu mais famoso livro, “O Amor Acaba”,
“A aurora chegou vestida de cor-de-rosa.”
“A alma de um homem é boba e vadia!”
“A doçura da preguiça de uma criatura que amanhece é infinita!”
“Abençoado sejas, irmão dentifrício, que me refrescas a boca.”
“Os cavalos dos poemas antigos traziam o Sol em atropelada brilhante.”
Vida Pessoal
Paulo Mendes Campos vem de uma grande família mineira, seus pais tiveram oito filhos. O gosto pela literatura veio desde pequeno, por influência de sua mãe. Apesar de ter feito vários cursos, Paulo não se formou em nenhum, mas era uma pessoa de uma grande capacidade intelectual e tornou-se um dos grandes escritores da nossa história.
Em 1951, ano em que lançou seu primeiro livro, casou-se com a inglesa Joan Abercrombie, com quem teve dois filhos, Gabriela e Daniel.
O poeta faleceu no Rio de Janeiro, no dia primeiro de julho de 1991.
Genial
Paulo Mendes Campos foi genial como poeta e cronista, suas duas formas preferidas de escrita. Com muito lirismo vem conquistando leitores ao longo dos anos. Transformou-se num dos grandes escritores brasileiros da segunda metade do século XX.
Uma leitura indispensável para poetas, cronistas e amantes da leitura!