A Literatura é fundamental para criar cidadãos capazes de construir uma grande nação. É com essa bela visão que o paulistano Angelo Asson encara o mundo literário e sua importância dentro da sociedade. E ele explica seu posicionamento. “Tenho para mim que a Literatura é fundamental para criar cidadãos capazes de construir uma grande nação, lastreada no conhecimento e na empatia, afinal, um país não vive apenas da economia. Somos, antes de mais nada, seres humanos, e devemos nos respeitar e praticar a solidariedade. Vejo hoje uma sociedade muito egoísta e violenta, e muito disso se deve a uma educação que não forma cidadãos, mas trabalhadores, peças de reposição para um sistema um tanto degradado e que necessita de transformações urgentes, a começar pela Educação.”
Ele não tem dúvida de que a escrita funciona muito bem para que seja possível, além de educar, apontar erros e propor mudanças dentro da sociedade.
Angelo enxerga a leitura e a escrita como fundamentais. “Na pandemia, por exemplo, eu escrevi muito. Sem saber, estava praticando a chamada escrita terapêutica, que eu sequer conhecia. Toda essa produção resultou num livro com os textos escritos no período de isolamento social. Por meio da escrita eu pude extravasar muitas das emoções que eu estava sentindo durante aqueles meses de incertezas. A leitura me levou para longe daquilo tudo”, descreve ele.

Apesar dessa relação, hoje tão próxima, na infância não era assim. A relação demorou um pouco para engrenar, como ele relembra. “Na escola, o ultrapassado método de oferecer às crianças uma literatura que não desperta interesse a elas fez com que eu me afastasse dos livros por muitos anos. Mas lembro que meu pai uma vez me deu um livro que talvez tenha sido o meu primeiro: ‘Como fazer amigos e influenciar pessoas’, de Dale Carnegie. Mesmo assim, eu sempre estava escrevendo, a princípio, sem preocupações com rimas e métricas. Isso funcionava como desabafos de uma criança tímida.”
Na adolescência ele formou uma banda com amigos e, nessa época, passou a se preocupar mais com a formatação de seus textos, para que pudessem ser adaptados a uma melodia. Além disso, ele acredita que o fator genético tenha exercido forte influência. “Meu pai sempre escreveu e eu me lembro de vê-lo consultar palavras desconhecidas num dicionário da estante da sala. Ver os adultos praticarem a leitura e a escrita funciona como um excelente exemplo para os filhos.”
Apesar de escrever desde a infância, Angelo nunca pensou em se tornar um escritor. “Já quis ser jogador de futebol, depois músico, mas a vida me levou para o design gráfico. Foi apenas pelos 50 anos que a vontade de ser escritor bateu mais forte e eu comecei a encarar isso com mais seriedade”, define ele. Sorte a nossa que a vontade de escritor chegou e ficou.
E a escrita chegou com toda a força. Angelo escreve crônicas, poesias, roteiros, enfim, um produtor de cultura de muita qualidade. “As vontades surgem e eu permito que elas se transformem em textos. Talvez eu seja apenas um veículo. Comecei com as poesias sem rimas quando criança, e depois as letras de música na adolescência. Daí para a frente, a vida tomou outros rumos e a Literatura ficou adormecida, mas quando voltei a escrever, não parei mais!”
Essa grande produção cultural lhe proporcionou um retorno que, para ele, não tem preço. “Em relação aos roteiros, talvez o começo disso tenha sido pelo fato de que o meu sonho de adolescente era ter uma letra musicada por alguma banda e isso nunca aconteceu. Hoje tenho um filho ator e, durante a pandemia, surgiu a oportunidade de escrever uma cena. Foi muito bacana poder escrever e, imagine, atuar ao lado de meu filho. É algo que não tem preço!”
Angelo mantém sua produção ‘a todo vapor’. Já publicou livros, revistas, criou um sarau literário em seu perfil do Instagram, e tem um canal no YouTube.
Sobre os livros, ele comenta, “Por ter trabalhado muitos anos como designer, isso me ajuda no processo de criação. Tenho bastante conhecimento em projetos gráficos, fotografia, tipologia etc. Dessa forma, além de escrever, eu mesmo faço a revisão, crio o projeto gráfico e as capas dos livros. Faço as versões digitais, divulgo e tento fazer com que as pessoas leiam. É a parte mais difícil, num país que não tem a cultura como pilar fundamental para a formação de seus indivíduos.”
Os saraus serviram para ele conhecer pessoas talentosas de todo o país, como ele ressalta. “O sarau acontecia pelo Instagram. Foi outra novidade que tive que aprender. Talvez seja mais difícil apresentar do que ser entrevistado, e temos uma enorme responsabilidade sobre o que falamos. As lives funcionaram como um portal, para que eu pudesse aliviar a tensão de ficar entre quatro paredes. Nos saraus, conheci muita gente talentosa, com as quais aprendi a importância de interpretar uma poesia, o que a torna muito mais interessante, tem aquela coisa da atuação. Sem contar que as redes sociais encurtam distâncias. Conheci pessoas de norte a sul do país.”
Com relação ao canal no YouTube, ele relata, “Meu canal andava abandonado, mas, com o isolamento, comecei a gravar meus primeiros vídeos. Foi como sair da zona de conforto. Sou um pouco tímido para essas coisas de mostrar a cara, mas me surpreendi, gostei da experiência. É um tanto viciante e aos poucos você vai evoluindo. É uma boa forma de divulgar o nosso trabalho.”
Seu livro “Transbordamento – A palavra como companheira”, lançado no começo de 2021, é um livro diferenciado. Foi produzido em preto & branco, com papel reciclado, e foi impresso e montado em sua própria casa. “É como se fosse uma metáfora do período de isolamento a que fomos submetidos, quando não era possível sair de casa. Este livro tinha que nascer no isolamento do meu lar”. Além disso, cada texto tem um visual diferenciado, específico para cada conteúdo, no melhor estilo ‘fanzine’.

Seu mais recente lançamento, “A face poética da morte”, traz poemas sobre a vida e a morte, sem o peso que o tema exigiria. A começar pela capa, que foi inspirada no festival mexicano do “Dia de los muertos”, uma celebração festiva para os que já se foram. O autor distribuiu seus poemas como se fosse uma trilha que o leitor percorre feito um peregrino em busca de respostas. O ponto de partida é uma pergunta: “O que é a vida?”. A seguir, o leitor é levado a refletir sobre a nossa finitude a fim de se preparar de uma forma serena para o ponto final da nossa estrada. O livro foi premiado no ‘Salon du Livre’ de Genebra, na Suíça com o troféu “Talentos helvéticos-brasileiros”. Vale a pena conferir!
Angelo pretende se tornar um escritor com maior visibilidade, pois entende a escrita como uma ferramenta muito útil para levar conhecimento e cutucar feridas sociais como falar da miséria, das injustiças ou da fome. “Acho que um escritor tem que ter em mente que ele é, não apenas entretenimento, mas também um alto-falante para aqueles que são invisíveis na sociedade, os menos favorecidos a quem ninguém escuta. Meu desejo é poder incentivar a leitura e a escrita. Mostrar o poder que a educação tem, para que as pessoas deixem de ser úteis apenas em épocas de eleição, para depois serem esquecidas. Não canso de repetir que “conhecimento é poder!”
Ele enxerga esse poder transformador na literatura, que pode ajudar a criar um país mais justo. “O Brasil é uma terra maravilhosa, muito rica, multifacetada e com enorme potencial. Precisamos valorizar os nossos cidadãos e dar a todos a mesmas chances de vencer na vida. E isso faz parte do papel de um escritor que não visa apenas a fama e o dinheiro.”
Que assim seja e que Angelo possa nos oferecer muitos livros com a mesma qualidade de sempre, ajudando a transformar o Brasil em um país melhor e menos desigual. É disso que precisamos. Parabéns ao nosso querido escritor!
E quem quiser conhecer o belo trabalho de Angelo Asson, é só dar um pulo no perfil dele no Instragram: @angeloasson, ou em seu site: angeloasson.wordpress.com.
Vale a pena conferir!