Ao longo dos anos o Brasil já ofereceu à literatura universal uma grande quantidade de escritores e escritoras da mais alta qualidade. Agora, vamos falar da vida e da obra de um desses gênios da nossa literatura, conhecendo mais um pouco sobre Lima Barreto.
Nascido no Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1881, Afonso Henriques de Lima Barreto era filho João Henriques de Lima Barreto e de Amália Augusta. Seus pais eram ambos filhos de escravas. O pai trabalhava com tipografia, já sua mãe, foi criada pela família Pereira Carvalho e, com boa formação, tornou-se professora. Ela faleceu quando o menino estava com seis anos. Seu pai teve que trabalhar duro para criar Lima Barreto e seus três irmãos.
Apesar de a família não dispor de muitos recursos financeiros, Lima Barreto era afilhado de Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto. Isso permitiu que ele pudesse estudar no Colégio Pedro II e, posteriormente, frequentar a Escola Politécnica. Mesmo assim Barreto não concluí o curso de engenharia na Escola Politécnica, pois precisa parar com os estudos para trabalhar e ajudar no sustento da família.
Em 1903 ele é aprovado em um concurso para a Secretaria da Guerra, tornando-se funcionário público. Lima Barreto vai conciliar o trabalho público com a escrita de textos literários. Em 1905 vai atuar como jornalista no jornal ‘Correio da Manhã’.
Dois anos depois, em 1907, participa da fundação da revista ‘Floreal’, avançando em sua produção literária.
Literatura
A literatura vai entrar definitivamente na vida de Lima Barreto em 1909, quando ele seu primeiro livro é publicado, “Recordações do Escrivão Isaias Caminha”. Em 1911 sua obra mais destacada, “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, é publicada no ‘Jornal do Comércio’, como folhetim. Posteriormente seria publicada em forma de livro.
Confira, abaixo, as principais obras de Lima Barreto. Algumas delas só foram publicadas postumamente.
Romances
– Recordações do Escrivão Isaías Caminha – 1909
– Triste Fim de Policarpo Quaresma – 1911
– Numa e a Ninfa – 1915
– Clara dos Anjos – 1948
Novelas
– As Aventuras do Dr. Bogoloff – 1912
– Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá – 1919
– Cemitério dos Vivos – 1956
– O Subterrâneo do Morro do Castelo- 1997
Teatro
– Casa de Poetas – 1951
– Os Negros – 1951
Contos
– Histórias e Sonhos – 1920
– Outras histórias – 1951
– Contos Argelinos – 1951
– O homem que sabia javanês e outros contos – 1997
Crônicas
– Bagatelas – 1923
– Os Bruzundangas – 1923
– Feiras e Mafuás – 1953
– Marginália – 1953
– Vida Urbana – 1953
– Coisas do Reino de Jambon – 1956
– Impressões de Leitura – 1956
– Toda crônica – 2004
– Sátiras e outras subversões: textos inéditos – 2016
Memórias e correspondência
– Diário Íntimo – 1953
– O Diário do Hospício – 1956
– Correspondência – 1956
Além dos diversos livros publicados, Lima Barreto teve várias de suas obras adaptadas para a televisão como “Clara dos Anjos”, “Triste Fim de Policarpo Quaresma” e “O Homem que sabia Javanês”. Além destas, a novela “Fera Ferida”, da Rede Globo, escrita por Aguinaldo Silva, Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzsohn, foi baseada nos livros de Lima Barreto “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, “Clara dos Anjos”, “Recordações do Escrivão Isaías Caminha” e “Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá”.
Em sua obra Lima Barreto foi um forte crítico da Primeira República do Brasil, 1889/1930, pela manutenção dos privilégios da aristocracia e dos militares. Barreto usou sua escrita para falar das desigualdades sociais e da hipocrisia social e para criticar o mundo a sua volta.
Curiosidades
– Neto de escravas, Lima Barreto nasceu no dia 13 de maio de 1881. No dia em que completava 7 anos foi assinada a Lei Áurea, acabando com a escravidão no Brasil. Essa recordação seria inserida em sua obra literária
– Quando entrou na Escola Politécnica foi abordado por um aluno veterano que indagou como podia um mulato ter o nome de rei de Portugal
– Na universidade, Lima Barreto preferia ler os grandes filósofos e escrever artigos para o jornal da faculdade a estudar
Frases
Algumas frases de Lima Barreto que se tornaram famosas, retiradas de suas crônicas e do livro “Diário Íntimo”.
– O que é verdade na raça branca, não é extensivo ao resto
– Eu, mulato ou negro, como queiram, estou condenado a ser sempre tomado por contínuo
– A capacidade mental dos negros é discutida a priori e a dos brancos, a posteriori
– Os protetores são os piores tiranos
– Nós já tínhamos os maridos que matavam as esposas adúlteras; agora temos os noivos que matam as ex-noivas
– Deixem as mulheres amar à vontade
– Esse obsoleto domínio à valentona, do homem sobre a mulher, é coisa tão horrorosa, que enche de indignação
– Pior do que o adultério é o assassinato
– Gosto da Morte porque ela é o aniquilamento de todos nós
– Quem, como eu nasceu pobre e não quer ceder uma linha da sua independência de espírito e inteligência, só tem que fazer elogios à Morte
– Estou cansado de dizer que os malucos foram os reformadores do mundo
– Quando me julgo — nada valho; quando me comparo, sou grande
Academia
Apesar de sua genial escrita, Lima Barreto teve uma relação ruim com a Academia Brasileira de Letras, pois se candidatou a uma cadeira na ABL por três vezes e nunca foi eleito. O máximo que conseguiu foi uma menção honrosa em 1921.
Morte
Lima Barreto faleceu no Rio de Janeiro, em primeiro de novembro de 1922, aos 41 anos, vítima de problemas cardíacos. O escritor conviveu, ao longo da vida, com o alcoolismo, depressão e problemas mentais. Em 1914 chegou a ser internado em um hospício.
Gênio indomável
Lima Barreto foi um escritor genial, que viveu no período da transição do Império para a República e de abolição da escravidão. Ele foi um contestador do sistema e da sociedade em que vivia. Pagou um alto preço por isso, sendo marginalizado por editoras e críticos e precisou buscar a publicação de algumas de suas obras em Portugal.
Felizmente Lima Barreto foi resgatado e retirado do limbo pelas gerações futuras e, para nossa sorte, passou a ocupar um merecido lugar na galeria dos grandes autores da literatura brasileira.
Viva Lima Barreto!