Vamos falar de poesia, lembrando agora de um poeta que viveu no século XIX, teve uma vida, infelizmente, breve, mas marcou uma época e se consolidou como um grande expoente na história da nossa literatura. Chegou a hora de falar de Casimiro de Abreu.
Juventude
Casimiro José Marques de Abreu nasceu em quatro de janeiro de 1839, no distrito Barra de São João, que naquela época pertencia ao município de Macaé. Atualmente o distrito pertence ao município de Casimiro de Abreu, batizado com esse nome, em 1938, em homenagem ao poeta.
Ele era um dos três filhos de José Joaquim Marques de Abreu, um fazendeiro português, e Luísa Joaquina das Neves. Casimiro nasceu na Fazenda da Prata, na Serra do Macaé, que sua mãe havia herdado do seu primeiro marido, quando este faleceu.
José Joaquim e Luísa nunca chegaram a se casar, mas a situação financeira de ambos era bem confortável.
O jovem Casimiro não teve muita instrução. Estudou no primário por apenas três anos, entre os 11 e 13 anos, quando frequentou o Instituto Freese, em Nova Friburgo, que naquela época era a cidade mais importante da região.
Quando completou 13 anos foi para o Rio de Janeiro, junto com seu pai, para trabalhar no comércio, mesmo não gostando desse tipo de atividade. No ano seguinte Casimiro e o pai embarcaram para Portugal, a princípio para desenvolver as atividades comerciais.
Literatura
Em Lisboa o jovem vai iniciar a sua carreira literária, escrevendo contos, poemas e o drama “Camões e o Jau”, encenado no teatro e que se tornou um grande sucesso. Em Portugal Casimiro escreveu seu trabalho poético, tratando de temas como a saudade de sua terra natal e da família e o amor.
Casimiro ficou em Portugal por quatro anos, nesse tempo trabalhou na imprensa portuguesa, ao lado dos importantes escritores e historiadores portugueses Alexandre Herculano e Rebelo da Silva.
Entre as principais obras produzidas por Casimiro de Abreu estão:
Poesia e prosa
– Fora da Pátria – 1855
– Minha Mãe – 1855
– Rosa Murcha – 1855
– Saudades – 1856
– Suspiros – 1856
– Carolina – 1856
– Meus Oito Anos – 1857
– Longe do Lar – 1858
– Treze Cantos – 1858
– Folha Negra – 1858
– A Cabana – 1858
– Primaveras – 1859
Teatro
– Camões e o Jau – 1857
Em 1857 ele retorna ao Brasil, para trabalhar com seu pai no armazém da família. Contudo, não se afasta da literatura e passa a escrever para diversos periódicos como a Revista Popular, o Correio Mercantil, a Marmota e O Espelho. Nessa fase faz amizade com Machado de Assis.
Ele era um poeta de linguagem simples, que usava como temas centrais de sua obra o sofrimento amoroso, o sentimentalismo, a idealização da mulher, a melancolia e a morbidez.
Conheça, abaixo, um dos mais famosos poemas do autor:
Meus Oito Anos
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonho, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d’amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus —
Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Vida Pessoal
Os pais de Casimiro de Abreu possuíam dinheiro, nesse sentido o poeta teve uma vida tranquila. Eles nunca chegaram a se casar, apesar de terem três filhos, o que para época era uma situação complicada. Não há registro de que essa situação tenha tido influência sobre a formação de Casimiro.
Em 1857 Casimiro retorna ao Brasil, já com a saúde abalada por conta da tuberculose. Ela vai para a fazenda Indaiaçu, pertencente à família para tentar recuperar sua saúde. No início de 1860 seu pai vem a falecer e o poeta fica noivo da jovem Joaquina Alvarenga Silva Peixoto.
Sem conseguir reverter o quadro de tuberculose, Casimiro de Abreu vem a falecer no dia 18 de outubro de 1860, em Nova Friburgo, aos 21 anos de idade. Como era seu desejo, ele foi enterrado em Barra de São João, ao lado de seu pai.
Como uma estrela cadente
A passagem de Casimiro de Abreu pela vida foi muito curta, durou apenas 21 anos. Mas foi tempo suficiente para que ele mostrasse todo o seu talento literário, criando poesias inesquecíveis, lembradas e apreciadas até hoje.
Assim como uma estrela cadente, sua trajetória foi rápida, brilhante e encantou a todos. Infelizmente o pouco tempo de vida não permitiu que ele produzisse muitos trabalhos, mas o que ele deixou marca um dos mais importantes legados do romantismo no Brasil.
Por isso vamos reverenciar a memória do brilhante e genial Casimiro de Abreu, hoje e sempre!