Agora vamos caminhar pelo mundo literário com mais uma dica de leitura, daquelas que envolvem um bom mistério. Vamos falar um pouco sobre o livro “O caso Saint-Fiacre”, de um dos grandes autores de romance policial da história, o escritor belga George Simenon.
O livro
Essa bela obra de George Simenon foi publicada originalmente em 1932. “O Caso Saint-Fiacre” é um romance muito interessante, que envolve o consagrado Comissário Jules Maigret, personagem criado por Simenon e que se tornaria uma das lendas do romance policial.
Esse é um livro bem diferenciado pois nele o autor explora muito a questão psicológica, da dimensão humana e os dramas pessoais que enfrentamos ao longo de nossas vidas. Nesse enredo, ao mesmo tempo em que realiza sua investigação, Maigret se depara com fantasmas do passado que o fazem refletir sobre a vida e as condições da sociedade em que vive.
A história começa quando Maigret recebe um bilhete anônimo informando que um assassinato será cometido durante a missa de Finados, na pequena aldeia de Saint-Fiacre, sua terra natal. Intrigado, ele retorna pela primeira vez ao vilarejo depois de anos afastado de lá, não como policial em missão oficial, mas como alguém em visita à região, mas, a princípio, sem revelar sua origem local.
E lá está Maigret, acompanhando a primeira missa do dia de Finados. Ao término da celebração, a Condessa de Saint-Fiacre, uma mulher envelhecida e melancólica, morre subitamente. Embora tudo indique um ataque cardíaco, o policial percebe que há algo mais por trás daquela morte.
Maigret foi criado no castelo de Saint-Fiacre pois seu pai fora, por 30 anos, o administrador da propriedade.
A partir da morte da Condessa desenrola-se uma investigação que não depende tanto de pistas materiais, mas da observação do comportamento das pessoas envolvidas naquele ambiente como o filho da Condessa, o padre, o mordomo da mansão, o amante da mulher, o novo administrador do castelo e seu filho.
Maigret mergulha na atmosfera decadente da antiga nobreza rural francesa, marcada por segredos, ressentimentos e interesses financeiros e, entre lembranças e decepções, tenta compreender a teia de motivações que levou um desses personagens a matar a velha senhora.
George Simenon, com sua escrita econômica e precisa, constrói um clima muito mais de melancolia e introspecção do que de ação. Nessa obra não vemos um Maigret perseguindo pistas e suspeitos, tentando desvendar o mistério e descobrir o que de fato aconteceu. O crime, aqui, é quase um pretexto para que ele possa refletir sobre a passagem do tempo, a desagregação moral de uma sociedade em transformação e sobre sua própria vida. O tom é mais humano que policial, e o leitor acompanha Maigret em um misto de nostalgia e desencanto.
Essa história apresenta um comissário mau humorado, muitas vezes à beira de um ataque de nervos, muito provavelmente por conta do seu envolvimento pessoal com o caso e com as pessoas que dele fazem parte.
Ao final, a verdade vem à tona deixando fluir as mais cruéis posturas do ser humano.
Mais sensível, menos racional
Nesse livro Simenon mostra um comissário Maigret menos racional, com menos ação. Ele não sai à caçada de assassinos. Pelo contrário, vemos um policial que volta ao local onde nasceu e cresceu, encontrando personagens do seu passado que o levam a várias reflexões sobre a vida.
O livro é interessante por ser reflexivo, mas não perde sua base investigativa, do mistério de quem é o culpado pela morte da Condessa.
“O caso Saint-Fiacre” é o décimo terceiro livro publicado de George Simenon cujo protagonista é Jules Maigret. Nele já aparece um Comissário amadurecido, já pelos 50 anos, um policial experiente, mas um ser humano ainda cheio de dúvidas e fantasmas de seu passado, como a maioria das pessoas.
Esse livro é uma obra bem interessante para quem quer conhecer melhor a obra de Simenon.
Vale a leitura!





























