A revolucionária poesia de Mário de Andrade e a nossa literatura

A poesia é uma das mais belas formas de expressão do ser humano e felizes são aqueles que possuem o dom de trabalhar as palavras de forma poética criando textos que emocionem, mas também façam as pessoas refletirem. O Brasil sempre foi um grande celeiro de poetas e poetisas que, nos mais variados estilos, construíram a nossa rica tradição poética.

Entre os grandes autores da nossa história um se destacou por sua incrível capacidade intelectual e a alta qualidade de sua escrita, foi poeta, contista, cronista, romancista, músico, professor, historiador, fotógrafo e crítico literário.

Além disso, sempre foi um vanguardista, um desbravador de novos horizontes e perspectivas para a nossa cultura, tendo sido um dos principais nomes da cultura brasileira, em especial da literatura, no século XX.

Vamos falar agora da vida e da obra de Mário de Andrade.

Juventude

Nascido na cidade de São Paulo, no dia nove de outubro de 1893, Mário Raul de Morais Andrade era filho de Carlos Augusto de Andrade e Maria Luísa de Almeida Leite Moraes de Andrade.

Em 1905 Mário foi estudar no Ginásio Nossa Senhora do Carmo. Era considerado um aluno muito inteligente, mas pouco interessado nos estudos. Depois foi para a Escola de Comércio Álvares Penteado, mas logo a abandonaria, após desentender-se com um professor de português.

Ingressa no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo em 1911 onde vai estudar piano, ele vai ser considerado um pianista prodígio. No ano seguinte já atua como monitor no Conservatório, ensinando princípios básicos da teoria musical.

Em 1913 ocorre a morte de seu irmão mais novo Renato, então com 14 anos, um duro golpe para toda a família, que vai para Araraquara, nesse momento Mário abandona temporariamente o Conservatório.

Após um tempo eles retornam a São Paulo e, quando ele retoma as aulas de piano, enfrenta algumas dificuldades para voltar a tocar, em razão de um problema de tremores nas mãos. Mário passa a estudar canto e aprofunda os estudos em teoria musical, com o objetivo de se transformar em professor de música.

Ele concluiria o curso de música em 1917. Nesse mesmo ano ocorre a morte de seu pai. Mário passa a dar aulas para ganhar dinheiro e poder sobreviver.

Ele passa a ter contato com vários artistas, entre eles Oswald de Andrade e Anita Malfatti, eles se tornariam grandes amigos e formariam o embrião da Semana de 22. Nesse mesmo ano vai publicar seu primeiro livro “Há uma gota de sangue em cada poema”, sob o pseudônimo de Mário Sobral.

Literatura

Nesse seu primeiro trabalho literário Mário de Andrade já mostraria seu senso crítico, fazendo apontamentos às mortes ocorridas na Primeira Guerra Mundial.

Além desse primeiro livro, Mário produziria uma grande obra literária publicando, poesias, romances, contos, crônicas, estudos e ensaios. Entre seus principais trabalhos estão:

– Há uma Gota de Sangue em Cada Poema – 1917

– Pauliceia Desvairada – 1922

– A Escrava que não é Isaura – 1925

– Losango Cáqui – 1926

– Primeiro Andar – 1926

– Clã do Jabuti – 1927

– Amar, Verbo Intransitivo – 1927

– Macunaíma – 1928

– Ensaio sobre Música Brasileira – 1928

– Compêndio de História de Música – 1929

– Remate de Males – 1930

– Os Contos de Belazarte – 1934

– O Aleijadinho de Álvares de Azevedo – 1935

– Lasar Segall – 1935

– Poesias – 1941

– O Movimento Modernista – 1942

– O Baile das Quatro Artes – 1943

– Os filhos da Candinha – 1943

– O Empalhador de Passarinhos – 1944

Obras póstumas

– Lira Paulistana – 1946

– O Carro da Miséria – 1946

– Contos Novos – 1947

– Poesias Completas – 1955

– Ensaio sobre a Música Brasileira – 1962

– O Turista Aprendiz – 1977

– O Banquete – 1978

A Semana de Arte Moderna

Como a publicação de seu primeiro livro não gerou grande impacto nos meios literários brasileiros, Mário decidiu viajar pelo interior de São Paulo e do Nordeste realizando um detalhado trabalho de documentação da história e da cultura, particularmente da música, pelo interior do país. Essas andanças teriam forte influência em seus trabalhos posteriores.

Em paralelo a essas viagens, Mário estreitava seus laços de amizade com Oswald de Andrade, Anita Malfatti e outros artistas como Tarsila do Amaral e Menotti Del Picchia, que formariam aquele que ficou conhecido como o ‘Grupo dos Cinco’. Eles seriam a grande referência da Semana de 22, que foi um movimento que tinha grande objetivo a experimentação artística e cultural, buscando a liberdade de criação e a ruptura com o passado. Era a tentativa de oferecer uma renovação cultural ao Brasil.

Além de Mário, Oswald de Andrade, Anita Malfatti e Menotti Del Picchia participaram da Semana de 22 artistas como Victor Brecheret, Plínio Salgado, Sérgio Millet, Heitor Villa-Lobos, Di Cavalcanti, Guilherme de Almeida, Tácito de Almeida e Agenor Fernandes Barbosa. Foi um movimento de grande repercussão e inspirador das futuras gerações da cultura brasileira. Tarsila do Amaral estava na Europa e só chegaria ao Brasil após a Semana de 22.

Na mesma época da realização da Semana de Arte Moderna, Mário assumia uma cátedra no Conservatório de Música de São Paulo. Nesse mesmo ano publica seu livro “Paulicéia Desvairada”, um apanhado de seus primeiros poemas modernistas. 

Macunaíma

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Os eventos da Semana de Arte Moderna foram muito importantes para Mário de Andrade e apontaram um caminho para seu trabalho. Mas sua mente inquieta e libertária estava preparando aquela que seria a obra que marcaria sua carreira de escritor, “Macunaíma”. Era a história de um herói diferente do tradicional, um mocinho sem caráter.

Macunaíma é um índio brasileiro, um herói que, como acontece nas histórias tradicionais, não se destaca por ser valente, mas sim por ser desonesto e esperto. Mário cria um protagonista que foge ao ideal romântico.

Sob esse aspecto ele põe em evidência uma identidade brasileira carregada sob um forte aspecto crítico.

Publicado em 1928 é considerado a grande obra prima de Mário de Andrade e um dos maiores e mais importantes livros da nossa literatura.

Frases

Mário de Andrade também ficou conhecido pelas frases marcantes, que deixou registrada em suas obras e nas cartas que escreveu a amigos.

– “A arte tem entre os elementos que a constituem a insatisfação.”

– “O artista verdadeiro jamais estará satisfeito consigo mesmo nem com a obra de arte que produziu.”

– “Não existe um só artista verdadeiro que não arte faça com a intenção de ser amado.”

– “Esta é a cilada que o homem encontra cotidianamente em seu caminho, o conformismo.”

– “Nós devemos viver sempre nascendo.”

– “Toda facilidade, toda felicidade é desmoralizante.”

– “A gente tem vergonha de se repensar.”

– “A felicidade no amor nem é apenas justa, é uma espécie de dever.”

– “O momento da criação é um prazer sublime.”

– “A maioria dos seres vegeta em vez de humanamente viver.”

– “A arte jamais é independente da vida.”

Curiosidades

– Mário de Andrade foi um dos apoiadores do movimento antropofágico, idealizado por Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. Era um vanguardista.

– Quando era muito jovem Mário queria ser pianista, mas, após a morte de seu irmão Renato, passou a sofrer com tremores nas mãos e se dedicou, então, à literatura e a dar aula de música.

– Ele também se dedicou à fotografia, registrando paisagens de São Paulo e das cidades históricas de Minas Gerais.

– Foi diretor do Departamento de Cultura da cidade de São Paulo.

– Foi a partir de uma ideia sua que seria criado o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

– A obra de Mário de Andrade está em domínio público desde janeiro de 2016.

– Mario de Andrade é patrono da cadeira de número 40 da Academia Brasileira de Música.

Vida Pessoal

A vida pessoal de Mário de Andrade teve altos e baixos. Aos 20 anos perdeu o irmão Renato, de 14 anos, o que vai afetar sua capacidade de tocar piano. Aos 24 enfrentou a perda de seu pai.

Mário de Andrade nunca se casou, nem teve filhos. Ao longo da vida enfrentou insinuações sobre a sua sexualidade, boatos que ele nunca se preocupou em desmentir ou confirmar, pois sua vida pessoal interessava somente a ele.

Mário de Andrade morreu de ataque cardíaco, em sua casa, em São Paulo, no dia 25 de fevereiro de 1945, estava com 51 anos. Quatro anos depois, em 1949 morreria sua mãe.

Legado

O legado de Mário de Andrade para a cultura brasileira é gigantesco. Ele foi um dos grandes poetas da nossa história e, por conta de sua obra literária, recebeu muitas homenagens após a sua morte.

Fundada em 1925 a Biblioteca Municipal de São Paulo passou a ser chamada de Biblioteca Mário de Andrade em 1960.

Em 1975 a casa onde o poeta residiu entre 1921 e 1945 foi tombada e ali foi criada a ‘Casa Mário de Andrade’, que abriga um museu em homenagem ao autor e, também, oferece espaço para diversas atividades culturais.

Em 1993 o Banco Central lançou a cédula de 500 mil cruzeiros, com a estampa em homenagem a Mário de Andrade. Ela circulou entre janeiro de 1993 e setembro de 1994, sendo a cédula com o maior valor de face até hoje emitida.

Um Gênio da nossa Literatura

Mário de Andrade foi um dos grandes gênios da nossa literatura. Criativo, ousado e vanguardista ele quebrou regras e ajudou a mudar os rumos da nossa literatura e da nossa cultura, que jamais seria a mesma após a Semana de Arte Moderna de 1922.

Isso já seria o suficiente para garantir a ele um lugar sagrado no olimpo da cultura brasileira, mas ele foi além, nos legou obras como “Macunaíma” e “Paulicéia Desvairada”.

Mário de Andrade é um dos maiores poetas da nossa literatura e merece todas as reverências possíveis.

Viva Mário de Andrade. Viva a cultura brasileira!

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Escritor Carlos Carvalho

Carlos Carvalho

Sou escritor, amante de literatura e apaixonado pelos mistérios criados por Agatha Christie. Escrevo contos, poesias e romances. Sendo o Romance Policial meu gênero literário preferido. Sou formado em Jornalismo e pós-graduado em Assessoria de Imprensa e Comunicação Empresarial.

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