Hora de poesia, de falar de um poeta do período parnasiano, que foi um mestre da poesia satírica no Brasil. Vamos falar de Emílio de Meneses.
Infância
Emílio Nunes Correia de Meneses nasceu na cidade de Curitiba, no Estado do Paraná, no dia quatro de julho de 1866, filho de Emílio Nunes Correia de Meneses e de Maria Emília Correia de Meneses era o único menino ao lado de oito irmãs.
Durante a infância estudou no Instituto Paranaense. Como a família era numerosa e a renda não era alta, Emílio começou a trabalhar aos 14 anos, na farmácia de um de seus cunhados, para ajudar no orçamento doméstico.
Desde novo o jovem Emílio já mostrava uma conduta diferenciada para a época, no modo de agir e de se vestir. Já mostrava uma tendência à boemia.
Ao completar 18 anos, ele vai para o Rio de Janeiro onde começa a atuar como jornalista. Por intermédio do escritor Nestor Vítor foi trabalhar com o professor Antônio Coruja, um importante educador da época. Nessa fase ele conhece Maria Carlota Coruja, filha do professor Coruja, com quem se casaria, em 1888, e teria um filho, Plauto Sebastião. Como Emílio de Meneses tinha uma grande vocação para a boemia, seu casamento durou pouco tempo, logo ele se separa de Maria Carlota.
No ano seguinte, em 1889, voltou ao Paraná, como funcionário do Recenseamento Federal, mas retorna ao Rio de Janeiro em 1890, continuando a viver sua vida boemia, frequentando bares e botequins em companhia de outros poetas e jornalistas.
Literatura
Nessa época Emílio de Meneses já escrevia e publicava seus poemas ferinos e provocantes, utilizando vários pseudônimos como Emílio Pronto da Silva, Gabriel de Anúncio, Gaston d’Argy e outros.
No final do século XIX a economia brasileira viveu a época do encilhamento, uma crise econômica vivida pelo país entre o final do período monárquico e o início da República. Nessa época o Ministro da Fazenda era Ruy Barbosa. Foi uma fase marcada por uma forte inflação e uma bolha de crédito. Emílio conseguiu algum capital e fez especulações com o montante, conquistando altas somas de dinheiro. Dá mesma forma como ganhou rapidamente seu capital, ele o perdeu, passando por uma situação falimentar.
Apesar dos problemas financeiros, Emílio de Meneses continuava escrevendo e publicou as seguintes obras, duas delas lançadas após a sua morte.
– Marcha fúnebre – 1892
– Poemas da morte -1901
– Dies irae – A tragédia de Aquidabã – 1906
– Poesias – 1909
– Últimas rimas – 1917
– Mortalha – Os deuses em ceroulas – reunião de artigos, org. Mendes Fradique – 1924
– Obras reunidas – 1980
Conheça um pouco mais a poesia forte de Emílio.
Noite de Insônia
Este leito que é o meu, que é o teu, que é o nosso leito,
Onde este grande amor floriu, sincero e justo,
E unimos, ambos nós, o peito contra o peito.
Ambos cheios de anelo e ambos cheios de susto;
Este leito que aí está revolto assim, desfeito,
Onde humilde beijei teus pés, as mãos, o busto.
Na ausência do teu corpo a que ele estava afeito.
Mudou-se, para mim, num leito de Procusto!…
Louco e só! Desvairado! A noite vai sem termo
E, estendendo, lá fora, as sombras augurais.
Envolve a Natureza e penetra o meu ermo.
E mal julgas talvez, quando, acaso, te vais,
Quanto me punge e corta o coração enfermo,
Este horrível temor de que não voltes mais!…
Envelhecendo
A Luís Murat
Tomba às vezes meu ser. De tropeço a tropeço,
Unidos, alma e corpo, ambos rolando vão.
É o abismo e eu não sei se cresço ou se decresço,
À proporção do mal, do bem à proporção.
Sobe às vezes meu ser. De arremesso a arremesso,
Unidos, estro e pulso, ambos fogem ao chão
E eu ora encaro a luz, ora à luz estremeço.
E não sei onde o mal e o bem me levarão.
Fim, qual deles será? Qual deles é começo?
Prêmio, qual deles é? Qual deles é expiação?
Por qual deles ventura ou castigo mereço?
Ante o perpétuo sim, e ante o perpétuo não,
Do bem que sempre fiz, nunca busquei o preço,
Do mal que nunca fiz, sofro a condenação.
Academia
O temperamento boêmio e mordaz afastou Emílio de determinados intelectuais, quando da fundação da Academia Brasileira de Letras (ABL) ocorreu, da qual acabou não participando.
Ele viria a ser eleito para a ABL em 1914, para ocupar a cadeira número 20, no lugar do poeta e jornalista Salvador de Mendonça, mas nunca chegou a tomar posse. Segundo as notícias da época, ele se recusou a alterar seu discurso de posse, no qual fazia fortes críticas a outros intelectuais e acadêmicos.
Desta forma o poeta nunca chegou a assumir seu lugar na ABL até o seu falecimento, ocorrido no dia seis de junho de 1918, no Rio de Janeiro.
Mordaz e irreverente
Emílio de Meneses era a autêntica alma boemia e irreverente que caracteriza muitos dos poetas mais radicais, aqueles que pouco se importam com convenções ou regras sociais, para quem o mais importante é viver de forma livre e lírica.
Assim ele levou sua vida, com muita poesia e irreverência, construindo seus versos mordazes que hoje fazem parte da nossa rica literatura.
Emílio de Meneses foi um poeta diferenciado que preferia a liberdade de um bar aos requintes do meio acadêmico.
Acima de tudo foi um grande poeta e assim merece ser lembrado, como um baluarte da poesia brasileira.