Olá, pessoal. Vamos falar agora sobre um fator muito importante para a literatura brasileira, a venda de livros no país.
Uma pesquisa, realizada pela empresa Nielsen BookScan, divulgada pelo SNEL (Sindicato Nacional do Livro), aponta que no primeiro trimestre de 2024 foram vendidos 13,48 milhões de livros no Brasil. No mesmo período do ano passado foram comercializados 13,90 milhões de exemplares. Para a pesquisa, a Nielsen considerou as vendas em livrarias, supermercados e lojas de autoatendimento.
Os dados são obtidos diretamente das livrarias, e-commerce e dos varejistas. Em termos de valores, o volume cresceu, com um faturamento de R$ 728,35 milhões no primeiro trimestre de 2024, frente a uma arrecadação de R$ 670,35 milhões no mesmo período do ano passado. Parte desse crescimento no faturamento é justificado com as promoções realizadas no mês de março, por conta da semana do consumidor.
Em termos de vendas por gênero literário, a maior parte apresenta queda na comparação com o mesmo período em 2023. Somente o grupo de “Não Ficção Trade” (autoajuda, religião e biografias) apresentou crescimento, com uma variação positiva de 2,54%, com isso o gênero passa a representar quase um teço do faturamento do setor, para ser mais exato, 28,34% do total. Os demais gêneros apresentaram queda no período, em relação a 2023, livros infantis, juvenis e educacionais com uma queda de 1,09%; e ficção com uma queda de 0,72%.
É claro que números de pesquisa podem ser avaliados por ângulos diferenciados, de acordo com o interesse de quem os analisa. O SNEL, por exemplo, comemora o crescimento do faturamento no primeiro trimestre deste ano, em relação ao ano passado. Venderam menos unidades, mas o faturamento aumentou, isso é sinal positivo para quem vende. Do ponto de vista do vendedor o primeiro item a ser avaliado é o faturamento gerado que vai servir de base para comparação. Se o faturamento cresceu, ponto positivo, o cenário parece bom.
Se olharmos pelo ponto de vista literário, o número de livros vendidos caiu aproximadamente 3%, de 13,90 milhões de unidades (2023) para 13,48 milhões em 2024. Nesse aspecto não há o que comemorar, principalmente se avaliarmos que os livros direcionados para crianças e jovens, a categoria “Infantil, Juvenil e Educacional” apresentou queda de pouco mais de 1% no volume de vendas.
Esse é, na minha opinião, um dado muito ruim. Menos livros vendidos, menos livros lidos. Claro que essa não é uma conta exata, pois as pessoas podem não comprar novos livros, mas ler mais livros que já possuem ou simplesmente podem trocar livros, pegar livros emprestados. Não sei se os sebos também estão incluídos na pesquisa. Mas, se houve queda de venda de livros para jovens, isso tende a significar que os jovens estão lendo menos, o que é ruim.
Além disso, de uma maneira geral, independente do gênero, a decisão de comprar menos livros pode apresentar uma predisposição para ler menos, o que, se confirmado, significa uma péssima notícia para o meio literário.
É claro que a possibilidade de leitura gratuita de livros também influencia a decisão de muitas pessoas de não comprar livros. Muitos preferem fazer uma assinatura e ter acesso a diversas obras a ficar comprando livros. De qualquer forma, é preciso esperar o avanço dos trimestres para podermos fazer novas comparações e verificar qual será o comportamento do leitor/consumidor ao longo do ano.
Pode ser que a tendência de queda na venda de livros seja revertida nos próximos meses e tenhamos um aumento na venda de novos exemplares em nosso país. Se a média de livros vendidos desse primeiro trimestre, de 13,48 milhões, se mantiver ao longo do ano, fecharemos 2024 com algo em torno de 53 milhões de exemplares vendidos. Se considerarmos uma população de aproximadamente 210 milhões de pessoas, com essa proporção na quantidade de livros vendidos teremos, em média, uma pessoa em cada quatro comprando um livro novo esse ano.
Provavelmente se for mantida esse média de venda de livros, o faturamento do setor vai crescer um pouco mais, em relação ao que já cresceu, o que fará, com certeza, a alegria do setor. Muitos dirão que não é ruim, talvez não seja. Acho complicada essa conclusão se olharmos a realidade educacional brasileira.
Para uma melhor avaliação, precisaríamos verificar a quantidade de pessoas que está comprando e lendo livros, para avaliarmos o comportamento desses números. Não adianta termos um número pequeno de pessoas comprando mais livros, precisamos ampliar a base de leitores, com isso ampliaremos o leque de compradores. Isso é que significará um crescimento consistente para o mundo da literatura, beneficiando a todos, leitores, escritores, livrarias e outros revendedores de livros.
Se os números dessa pesquisa não são ruins, tão pouco vejo motivo para comemorações. Melhor esperar o correr do ano para vermos o que nos espera.