Olá, pessoal, estou aqui de volta. Agora não vou falar de clássicos, poesias, romances policiais, novos autores ou deixar uma dica literária. O que me traz aqui hoje, dia 17 de dezembro de 2022, é uma notícia triste, a morte da escritora Nélida Piñon, ocorrida hoje em Lisboa. A causa da morte não foi divulgada.
Nélida Cuiñas Piñon nasceu no Rio de Janeiro no dia 3 de maio de 1937. Era filha de Lino Piñon Muíños e Olivia Carmem Cuíñas Morgado. Seu nome é uma homenagem ao avô materno, Daniel Cuiñas, sendo um anagrama do nome do avô.
Nélida estudou jornalismo na PUC do Rio de Janeiro. Iniciou sua carreira literária com o romance “Guia-Mapa de Gabriel Arcanjo”, publicado em 1961. Dois anos depois viria o segundo livro “Madeira Feito Cruz”. Ela também foi professora, a primeira da cadeira de ‘Criação Literária’ da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Ela foi eleita para a Academia Brasileira de Letras (ABL) em 1989. Tomando posse no ano seguinte, ocupou a Cadeira número 30. Em 1997 foi escolhida para presidir a ABL, justamente no ano do centenário da Academia. Foi, também, a primeira mulher a presidir uma Academia de Letras no mundo.
Sua obra foi traduzida para mais de 30 países. Para que se tenha uma ideia da grandeza de Nélida Piñon, conheça sua bibliografia, os prêmios e condecorações que ela recebeu ao longo da vida e um pouco do pensamento dessa grande autora.
Obras
Romance
– Guia-mapa de Gabriel Arcanjo (1961)
– Madeira feita de cruz (1963)
– Fundador (1969)
– A casa da paixão (1972)
– Tebas do meu coração (1974)
– A força do destino (1977)
– A república dos sonhos (1984)
– A doce canção de Caetana (1987)
– Cortejo do Divino e outros contos escolhidos (2001)
– Vozes do deserto (2004)
– Um dia chegarei a Sagres (2020)
Memórias
– Coração Andarilho (2009)
– O Livro das Horas (2012)
– Uma Furtiva Lágrima (2019)
Contos
– Tempo das frutas (1966)
– Sala de armas (1973)
– O calor das coisas (1980)
– O pão de cada dia: fragmentos (1994)
– A Camisa do Marido (2014)
Crônicas
– Até amanhã, outra vez (1999)
Infanto-juvenil
– A roda do vento (1996)
Ensaios
– O presumível coração da América (2002)
– Aprendiz de Homero (2008)
– O ritual da arte (inédito)
– Filhos da América (2016)
Prêmios literários
Nacionais:
– Prêmio Walmap, com o romance “Fundador” – 1970
– Prêmio Mario de Andrade, com o romance “A Casa da Paixão” – Melhor Livro do Ano – 1973
– Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte, com o romance “A República dos Sonhos” – Melhor Livro do Ano – 1985
– Prêmio Ficção PEN Clube, com o romance “A República dos Sonhos” – Melhor Livro do Ano – 1985
– Prêmio José Geraldo Vieira, com o romance “A Doce Canção de Caetana” – Melhor Romance do Ano – 1987
– Prêmio Golfinho de Ouro, pelo Conjunto da Obra 1990
– Prêmio Bienal Nestlé, Categoria Romance, pelo Conjunto da Obra – 1991
– Prêmio Alejandro José Cabassa, com o livro “O Pão de Cada Dia” – 1994
– Prêmio Adolpho Bloch – 1996
– Prêmio de Honra ao Mérito do Rotary Club do Rio de Janeiro – 1997
– Prêmio Jabuti, categoria romance, com o livro “Vozes do Deserto” – 2005
– Prêmio Jabuti, melhor livro do ano na categoria geral, com o livro “Vozes do Deserto” – 2005
Internacionais:
– Homenageada com o Prêmio Simón Bolívar – Miami, Estados Unidos – 1992
– Prêmio Simon Dawidowitz, Miami, Estados Unidos – 1992
– Prêmio Internacional Juan Rulfo de Literatura Latino-Americana e do Caribe, pelo conjunto da obra – 1995
– Prêmio Ibero-Americano de Narrativa Jorge Isaacs, Cali, Colômbia – 2001. Primeiro autor de língua portuguesa e primeira mulher a receber esse prêmio
– Prêmio Rosalía de Castro, pelo conjunto da obra – Espanha – 2002
– Prêmio Internacional Menéndez Pelayo – Espanha – 2003 – Primeira mulher a receber este prêmio
– Prêmio Puterbaugh Fellow, Estados Unidos – 2004 – Primeiro escritor brasileiro a receber esse prêmio
– Prêmio Príncipe de Astúrias, Espanha – 2005 – Primeiro escritor de língua portuguesa a receber esse prêmio
– Prêmio Woman Together, 2006
– Prêmio Cervantes da Fundação Cervantina de Guanajuato, México – 2006
– Prêmio Casa de las Americas, Cuba – 2010, com o ensaio “Aprendiz de Homero”
– VI Prêmio Internacional Terenci Moix de Literatura, Espanha, na categoria de melhor livro do ano, com o livro “Coração Andarilho” – 2010
– Prêmio Cátedra Enrique Iglesias, outorgado pelo Banco interamericano de Desenvolvimento – 2013
– Prêmio El Ojo Crítico Iberoamericano, outorgado pela Rádio Nacional de Espanha – 2015
Títulos Honoris Causa
– Doutora Honoris Causa da Université de Poitiers, França;
– Doutora Honoris Causa da Universidade de Santiago de Compostela, Espanha;
– Doutora Honoris Causa da Florida Atlantic University, EUA;
– Doutora Honoris Causa da Universidade de Rutgers, EUA;
– Doutora Honoris Causa da Universidade de Montreal, Canadá;
– Doutora Honoris Causa da Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre, Brasil;
– Doutora Honoris Causa da UNAM, México.
Frases
– “Só envelhece quem vive.”
– “Se a memória simula esquecer os mortos, o amor, albergado no coração e sempre à espreita, a qualquer sinal açoita quem sobrevive às lembranças.”
– “Se a imaginação edifica enredos de amor, o corpo fatalmente sofre seus efeitos.”
– “O escritor não deve apenas criar, mas deve também emprestar a sua consciência à consciência dos seus leitores, sobretudo num país como o Brasil.”
– “Se vive e se escreve sem rede de segurança.”
– “O ser humano é um peregrino. É só na aparência que ele tem uma geografia.”
– “Nós nascemos pobres, mas com ilusões.”
– “Eu não confio no Estado. Eu confio na vigilância da sociedade.”
– “Quando os direitos humanos são desrespeitados em casa, tornam-se públicos.”
– “O afeto é uma espada no peito.”
– “A memória é frágil. Consulto suas fontes no afã de defender meus haveres.”
– “A suprema perdição de não conceber o universo além das dimensões da realidade.”
– “Não tenho filhos, mas leitores, capazes por si sós de defenderem a civilização contra os avanços da barbárie. A eles nomeio sucessores de uma linguagem irrenunciável. E, embora duvide às vezes se vale defender alguns princípios hoje contestados, persisto em inscrever certas normas no código dos direitos humanos.”
– “Aprendo a amar. Uma arte difícil, nenhuma norma me orienta.”
– “Anseio por liberar-me das obrigações, da falsa polidez, do peso dos objetos. A solidão, que a noite acentua, é a minha salvaguarda.”
Uma imortal
Nélida Piñon nos deixou, uma perda irreparável para a literatura brasileira e mundial. Infelizmente, a vida nos prega essas peças, agora nos tirando uma das grandes escritoras da língua portuguesa. Nélida parte, mas deixa sua vasta e rica obra, orgulho para o nosso país.