Agatha Christie a literatura universal e o romance policial

Olá pessoal, que bom estarmos juntos novamente. Não poderia faltar nesse espaço uma boa conversa sobre romance policial, afinal de contas, esse é o motivo número um de estarmos aqui batendo esse papo. Por isso os romances policiais têm um lugar reservado e especial nesse site.

E, quando falo de romance policial logo me vem à cabeça um nome, daquela que foi se não a maior expoente dos livros de mistério na história da literatura, com certeza está entre os principais nomes. 

Para mim é, e sempre será, o maior nome da literatura policial em todo o mundo. Ela ficou marcada como uma das romancistas de maior sucesso na história da literatura popular mundial em relação à quantidade de livros vendidos. Suas narrativas ultrapassaram todas as fronteiras e sua obra completa vendeu cerca de 4 bilhões de livros em todo o mundo ao longo do século XX e início do XXI. Em termos de vendagem de livros ela só perde para a Bíblia e para William Shakespeare. Suas histórias já foram traduzidas para mais de 100 idiomas.

Ela construiu uma brilhante carreira, ao longo de mais de meio século de publicações. Seu livro de maior alcance atingiu a marca de 100 milhões de unidades vendidas e figura na lista dos mais vendidos da história.

Se vamos falar em romance policial, temos que conversar sobre Agatha Christie, a “Dama do Crime”.

Agatha Christie A Dama do crime

A jovem Agatha

Nascida Agatha Mary Clarissa Miller, em Torquay, condado de Devon, na Inglaterra, em 15 de setembro de 1890, ela ficou mundialmente conhecida como Agatha Christie. Atuou como romancista, contista, dramaturga e poetisa. Era a terceira e mais nova filha do casal Frederick Alvah Miller e Clarissa Margaret Boehmer Miller, conhecida como Clara.

Em 1896, a família se mudou para a França. A filha mais nova dos Miller, ao contrário dos irmãos, por decisão da mãe, foi educada em casa. Ela estudou música clássica e sonhou em ser cantora lírica. Com a mãe teve o primeiro contato com a literatura. Até os 14 anos ela foi educada em casa, tendo diversos tutores e professores particulares.

Apesar de seu pai ser americano, ela foi criada na melhor tradição inglesa da época vitoriana. Agatha Christie passava a maior parte do seu tempo em casa, escrevendo. 

Em 1912 conheceu o coronel Archibald Christie, cujo sobrenome Agatha carregaria para o resto da vida. Eles se casaram em 1914, logo após o início da Primeira Grande Guerra. Enquanto ele, como oficial, estava na guerra, ela se alistou como voluntária no Exército da Cruz Vermelha, trabalhando em hospitais e em uma farmácia, onde teria contato com diversos medicamentos e até mesmo venenos, conhecimento que utilizaria em seu trabalho de escritora.

O Desafio

Em 1916 ela aceita o desafio de sua irmã Madge, de criar uma história policial em que o leitor não conseguisse desvendar a identidade do assassino até o final. Desafio aceito, surgia aí “O Misterioso Caso de Styles”, o primeiro dos muito romances policiais de Agatha. Após terminar o livro, ela viu seu original ser rejeitado por seis editoras até que, em 1920 a The Bodley Head publicou a obra.

Agatha Christie Primeiro Livro O Misterioso Caso de Styles 1

A história se passa na mansão de Styles, onde a proprietária é encontrada morta em seu quarto, com suspeita de envenenamento. Nesse primeiro livro Agatha Christie nos apresenta aquele que seria seu mais famoso personagem, o detetive belga Hercule Poirot, que voltaria em dezenas de livros da autora. Nele conhecemos também o Capitão Hastings, fiel parceiro de Poirot em várias aventuras.

A mansão de Styles seria palco de outras obras da autora, inclusive de “Cai o Pano” a última história de Poirot, publicada em 1975, um ano antes da morte de Agatha, seu último livro publicado enquanto ela ainda estava viva.

Poirot

Aqui preciso abrir um parêntese para falar do detetive belga Hercule Poirot, protagonista do seu primeiro livro e que estaria presente em aproximadamente 40 histórias. Com certeza, seu personagem mais famoso.

Poirot Agatha Christie Maior Personagem de Romance Policial 1

Christie cria um “herói” antagônico ao policial tradicional. Ele é adepto da ordem e do método ao invés do esforço físico. Como ele mesmo afirmava em alguns livros, era capaz de resolver um crime “sentado em sua poltrona”, utilizando suas “pequenas células cinzentas”, expressão que ele tornaria famosa. Ela criou uma personagem curiosa fisicamente, ao menos para um policial. Com aproximadamente 1,60 m de altura, a cabeça possuía o formato de um ovo, sempre inclinada para um lado, os olhos verdes, um espesso bigode sempre bem cuidado e era um homem que estava sempre impecavelmente vestido. Além disso, Poirot é extremamente vaidoso e pouco modesto, sempre destacando a própria inteligência e a maneira eficiente como usava suas “células cinzentas”. 

Como ela mesmo descreveria o detetive belga em “Agatha Christie – uma autobiografia:

“Por que não fazer do meu detetive um belga?… Eu posso vê-lo como um homenzinho meticuloso, sempre organizando as coisas, preferindo os quadrados ao invés dos redondos. E ele deve ser muito inteligente!”

Diversas obras da autora foram adaptadas para o cinema, o teatro e a televisão e Poirot foi interpretado por diversos atores:

– Austin Trevor atuou em “Alibi”, “Black Coffee” e “Lord Edgware Dies”;

– Tony Randall interpretou Poirot em “The Alphabet Murders”;

– Albert Finney, outro que interpretou Poirot, foi indicado ao Oscar de Melhor Ator por “Assassinato no Expresso Oriente”, em 1974;

– Em 2001 Assassinato no Expresso do Oriente foi refilmado, com Alberto Molina no papel do detetive belga;

– Outro que viveu o papel de Poirot foi Peter Ustinov, que atuou em seis filmes;

– David Suchet, interpretou Poirot pela primeira vez em 1989 na minissérie “Agatha Christie’s Poirot”, do canal britânico ITV. Agatha Christie nunca viu a atuação de Suchet, que é considerada por muitos como a melhor caracterização da personagem até hoje feita.

Novos livros

Após “O Misterioso Caso de Styles”, vieram uma sequência de lançamentos, ‘O Inimigo Secreto”, 1922; “Assassinato no Campo de Golfe”, 1923; “Poirot Investiga” e “O Homem do Terno Marrom”, em 1924; e “O Segredo de Chimneys”, em 1925. Em 1926 ela lança “O Assassinato de Roger Ackroyd”, que vende mais de 5 mil cópias e se torna o primeiro grande sucesso da autora, com toda a justiça pois é um excelente livro.

Se a carreira de escritora decolava, a vida pessoal entrava em crise. Em 1923 ela enfrentou a morte de sua irmã, Madge. Em 1926 seu marido confessa que tem uma amante e pede o divórcio.

Nesse momento ocorre um episódio, na vida da autora, que nunca foi totalmente esclarecido. Depois da confissão de Archibald, Agatha fica desaparecida por 11 dias. Seu carro foi encontrado próximo ao lago Silent Pool, em Surrey. A polícia utilizou até aviões na busca. Foram dias de apreensão, em que a já famosa Agatha Christie esteve sumida. Ela foi encontrada em um Hotel, na cidade de Harrogate, mas nunca esclareceu todos os fatos sobre o sumiço.

Apesar de toda a confusão Agatha e Archibald só se separariam oficialmente em 1928. No ano seguinte ela recebeu um convite do arqueólogo Leonard Woolley para conhecer Ur, uma importante cidade da civilização suméria, localizada no Iraque. Em Ur ela conheceu o assistente de Woolley, Max Mallowan, por quem se apaixonaria e com quem se casaria em 1930. O casal viveu junto até a morte da escritora.

Agatha Christie Com Segundo Marido Max Mallowan Decada de 1960 1

Se a vida pessoal de Christie estava muito conturbada e lentamente voltava aos eixos com o segundo casamento, a carreira literária continuava firme. Entre 1927 e 1931 ela publicou mais 10 livros, desses destaco “O Mistério dos Sete Relógios”, de 1929, que considero o melhor de todos os livros escritos por ela. E Agatha Christie não parou de produzir até a sua morte, em 12 de janeiro de 1976.

No total foram 80 romances policiais, seis romances escritos sob o pseudônimo de Mary Westmacott, 18 peças de teatro. Suas obras receberam nada menos que 33 adaptações para o cinema e outras 29 para a televisão.

Seu livro “O Caso dos Dez Negrinhos” (nome alterado depois para “E Não Sobrou Nenhum”), de 1939, vendeu cerca de 100 milhões de exemplares se tornando seu maior sucesso editorial e a obra de romance policial mais vendida da história, além de figurar na lista dos 10 livros mais vendidos de todos os tempos, independentemente do gênero.

Livro e nao sobrou nenhum de Agatha Chrstie Maior Sucesso 1

A autora também ocupa um lugar no Guinnes Book, pela peça teatral de maior longevidade do mundo: The Mousetrap (“A Ratoeira”), que estreou em 25 de novembro de 1952 e continua sendo exibida sem interrupção até hoje.  “A Ratoeira” foi escrita para atender a um pedido da família real britânica, em homenagem ao 80º aniversário da Rainha Mary. A primeira encanação foi transmitida ao vivo pela BBC.

Em épocas de pandemia livrarias e sebos da Inglaterra e de países como o Canadá constataram um forte crescimento na venda de livros da autora.

Pela importância da sua obra, ela foi condecorada pela Rainha Elizabeth II, que é fã dos seus livros, ganhando o título de Dama-Comendadora da Ordem do Império Britânico, em 1971. 

Outros Detetives

Além de Poirot, Christie criou diversos detetives que povoaram suas histórias e fizeram muito sucesso junto ao público.

Miss Jane Marple

Diferentemente de Poirot, Miss Marple nunca trabalhou na polícia. Era simplesmente uma pacata senhorinha solteirona, que vivia na aldeia de St. Mary Mead, local fictício criado por Christie para abrigar as histórias de Jane Marple. 

A solteirona era muito astuta e usava o seu grande conhecimento da natureza humana para chegar na frente da polícia e enganar os criminosos que não vislumbravam perigo naquela senhora com ar angelical e inocente.

Ela está presente em 12 livros, entre eles “Assassinato na Casa do Pastor”, “Um Corpo na Biblioteca”, “Mistério no Caribe”, “Um Passe de Mágica”, “A Testemunha Ocular do Crime” e “Convite para um Homicídio”, entre outros. É a segunda personagem mais conhecida da autora, ficando atrás apenas de Poirot. Ela também brilhou nas telas de cinema e televisão, sendo interpretada por diversas atrizes, como Gracie Fields, Margaret Rutherford, Helen Hayes, Joan Hickson, Geraldine McEwan e Julia McKenzie.

Tommy e Tuppence

Os amigos de infância Thomas Beresford (Tommy) e Prudence Cowley (Tuppence) se encontram em “O Inimigo Secreto”, o segundo livro da autora, publicado em 1922. Desempregados e sem dinheiro eles criam a ‘jovens aventureiros ltda.’, com o objetivo realizar qualquer trabalho e sobreviver. A partir daí se envolvem na busca por uma jovem desaparecida e por documentos confidenciais que ela portava. Ao final do livro os amigos acabam virando um casal, que voltaria à cena em mais quatro livros da autora.

Parker Pine

É um detetive que se considerava menos um investigador e mais um consultor sentimental, que anunciava seus serviços nos classificados dos jornais. A autora dedica a ele dois livros de contos, num total de 21 histórias.

Ariadne Oliver

É uma escritora de romances policiais, talvez seja só coincidência. Ela surge primeiro no livro de contos de Parker Pine, como amiga do detetive/consultor. Ao longo do tempo a mal-humorada Ariadne volta a aparecer em alguns livros em que o personagem central é Poirot.

Superintendente Battle

É um oficial da Scotland Yard, inteligente e que raramente demonstra suas emoções. Ele é personagem em cinco livros de Agatha Christie, entre eles “O Segredo de Chimneys”, “O Mistério dos Sete Relógios” e “É Fácil Matar”.

Os melhores livros da autora

Muito já se falou sobre a obra de Agatha Christie, sobre quais seriam seus melhores livros. Por isso, em 2015, o site oficial da autora, https://www.agathachristie.com/ realizou uma pesquisa junto aos seus fãs, para que esses escolhessem seus livros favoritos entre os produzidos por ela.

Foram milhares de votos de leitores de mais de 100 países, que elegeram os 10 melhores, que reproduzo abaixo:

10 – Cai o Pano

9 – Os Cinco Porquinhos

8 – Morte na Praia

7 – Testemunha Ocular do Crime

6 – Convite para um Homicídio

5 – Os Crimes ABC  

4 – Morte no Nilo

3 – O Assassinato de Roger Ackroyd

2 – Assassinato no Expresso do Oriente

1 – E não sobrou nenhum

Agatha Christie ja falava ha sempre lugar para um bom livro 1

Claro que sempre existirão controvérsias sobre os melhores trabalhos de um autor, nesse caso de Agatha Christie. Mas essa votação, feita por fãs da escritora serve como um parâmetro de seus livros preferidos pelo público. Eu mesmo, fazendo minha lista dos 10 livros que mais gosto dela cheguei a um resultado bem diferente. Conheça, abaixo, os meus preferidos.

10 – A Morte nas Nuvens

9 – O Inimigo Secreto

8 – Os Cinco Porquinhos

7 – Assassinato no Campo de Golfe

6 – Assassinato no Expresso do Oriente

5 – Um Gato entre os Pombos

4 – E Não Sobrou Nenhum

3 – O Segredo de Chimneys

2 – O Assassinato de Roger Ackroyd

1 – O Mistério dos Sete Relógios

E você, quais os seus livros preferidos de Agatha Christie?

Curiosidades

– O primeiro livro que ela escreveu com o pseudônimo de Mary Westmacott foi concluído em apenas três dias;

– Agatha Christie tinha a mania de comer maçãs na banheira;

– Ela adorava colecionar macaquinhos de pelúcia;

– Ela gostava de nadar em mar aberto, independente do tempo estar bom ou ruim;

– Em 1926, a escritora ficou desaparecida por 11 dias, mas parecia uma personagem de um livro seu;

– Foi a única dramaturga a ter três peças encenadas ao mesmo tempo no West End, a “Broadway de Londres”;

– Seu primeiro livro levou cinco anos para ser publicado e foi rejeitado por seis editoras;

– Hercule Poirot é o único personagem de ficção na história a ter um obituário na primeira página do The New York Times. Ele ganhou a primeira página do jornal em 1975, quando foi publicado “Cai o Pano”, livro que marca a morte da personagem; 

– Sua última aparição foi na estreia da adaptação de “Assassinato no Expresso do Oriente”;

– O livro “Cai o Pano” foi escrito por ela em 1940, mas ficou trancado num cofre e Christie só autorizou sua publicação em 1975, um ano antes de morrer.

Assassinato expresso do oriente filme ultima aparicao publica agatha 1

O legado da autora

Não há como falar em romance policial sem falar de Agatha Christie. O fato de seu nome e seus livros serem tão badalados 45 anos após a sua morte é uma prova disso. O primeiro livro escrito por ela completou 100 anos em 2020, mas continua sendo vendido e lido nos mais diversos países por leitores de todas as idades.

Agatha Christie popularizou o romance policial e o transformou em uma divertida caçada ao assassino. Sua forma criativa de elaborar um emaranhado de possibilidades ao longo da trama é fantástica e faz com que o leitor tente, de todas as formas, descobrir o verdadeiro culpado até que a verdade seja revelada ao final. Ela é brilhante nesse aspecto.

Para mim não é leitura obrigatória, mas uma leitura permanente, pois estou sempre relendo seus livros, pois vale muito a pena.

E você, conhece a obra de Agatha Christie? Deixe aqui sua opinião sobre ela?

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Escritor Carlos Carvalho

Carlos Carvalho

Sou escritor, amante de literatura e apaixonado pelos mistérios criados por Agatha Christie. Escrevo contos, poesias e romances. Sendo o Romance Policial meu gênero literário preferido. Sou formado em Jornalismo e pós-graduado em Assessoria de Imprensa e Comunicação Empresarial.

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