Vamos falar de poesia e, desta vez, de um grande poeta lusitano, que viveu no século XIX e foi muito importante para a literatura, considerado por muitos críticos como um dos melhores poetas da língua portuguesa, sendo comparado por alguns a gigantes da escrita como Camões, Eça de Queiroz e Bocage. Vamos conhecer um pouco da história e da obra de Antero de Quental.
O jovem
Antero Tarquínio de Quental nasceu no dia 18 de abril de 1842, na cidade de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, que pertence ao arquipélago dos Açores, Portugal. Era o quarto dos sete filhos do casal Fernando de Quental Solar do Ramalho e Ana Guilhermina da Maia.
Aos 10 anos foi estudar em Lisboa. Em 1858, aos 16 anos, foi para Coimbra onde fez faculdade de direito, tornando-se um dos líderes dos estudantes. Em 1861 publica seu primeiro livro de sonetos, “Sonetos de Antero”. Muitas obras viriam depois, confira a relação:
– Sonetos de Antero – 1861
– Beatrice e Fiat Lux – 1863
– Odes Modernas – 1865
– Bom Senso e Bom Gosto – 1865
– A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais – 1865
– Defesa da Carta Encíclica de Sua Santidade Pio IX – 1865
– Portugal perante a Revolução de Espanha – 1868
– Causas da decadência dos povos peninsulares – 1871
– Primaveras Românticas – 1872
– Considerações sobre a Filosofia da História Literária Portuguesa – 1872
– A Poesia na Actualidade – 1881
– As Fadas – 1883
– Sonetos Completos – 1886
– A Filosofia da Natureza dos Naturistas – 1886
– Tendências Gerais da filosofia na Segunda Metade do Século XIX – 1890
– Raios de extinta luz – 1892
– O Infante D. Henrique – 1894
Conheça a poesia de Antero de Quental
Mais Luz!
Amem a noite os magros crapulosos,
E os que sonham com virgens impossíveis,
E os que se inclinam, mudos e impassíveis
A borda dos abismos silenciosos…
Tu, Lua, com teus raios vaporosos,
Cobre-se, tapa-os e torna-os insensíveis,
Tanto aos vícios cruéis e inextinguíveis,
Como aos longos cuidados dolorosos!
Eu amarei a santa madrugada,
E o meio-dia, em vida refervendo,
E a tarde rumorosa e repousada.
Viva e trabalhe em plena luz: depois,
Seja-me dado ainda ver, morrendo,
O claro Sol, amigo dos heróis!
A um poeta
Tu que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno.
Acorda! É tempo! O sol, já alto e pleno
Afugentou as larvas tumulares…
Para surgir do seio desses mares
Um mundo novo espera só um aceno…
Escuta! É a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! São canções…
Mas de guerra… e são vozes de rebate!
Ergue-te, pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!
A política
Depois de terminar a faculdade, voltou a morar em Lisboa. Entre 1865 e 1866 envolveu-se em uma discussão literária que confrontava duas vertentes, de um lado os realistas, com Antero entre eles; do outro os adeptos do romantismo, cuja figura de maior destaque era António Feliciano de Castilho. A disputa ficou conhecida como a ‘Questão Coimbra’, pois a maioria desses intelectuais tinha frequentado a famosa universidade desta cidade.
Em resposta a críticas feitas por Castilho a seus poemas, Antero escreve um forte texto direcionado a António Feliciano.
Em 1866 vai trabalhar como tipógrafo. Em seguida foi viver em Paris. Na capital francesa, em 1867, vai continuar a atuar como tipógrafo. Essa vivência como operário vai aproximá-lo da realidade da vida dos trabalhadores daquela época, despertando a sua militância política.
Retornando a Portugal passou a fazer parte do grupo Cenáculo, uma reunião de intelectuais que se encontrava para discutir literatura, política, arte, ciência e outros assuntos. Antero se torna um dos principais nomes desse grupo ao lado de Eça de Queirós.
Em 1870 fundou, ao lado de Oliveira Martins, o jornal “A República”. No ano seguinte, juntamente com Oliveira Martins, Eça de Queirós e Ramalho Ortigão, organizou uma série de conferências para discutir a sociedade portuguesa, foram as “Conferências Democráticas”, até que essas conferências foram proibidas, sob a acusação de que as ideias discutidas ali eram subversivas.
Em 1872 fundou a revista “O Pensamento Social”. A efervescência dessas discussões e sua atuação política cada vez mais intensa levaram Antero de Quental a participar da fundação do Partido Socialista Português e da revista “Ocidental”.
Vida Pessoal
Antero de Quental teve uma vida curta e atribulada. Além das questões ligadas a seu posicionamento político e literário, considerados subversivos para a época, teve que enfrentar a tuberculose.
Em 1880 decidiu adotar duas meninas, Albertina e Beatriz, filhas de seu amigo Germano Meireles, que havia falecido alguns anos antes.
Ainda enfrentando problemas de saúde, em 1881 vai viver na cidade de Vila do Conde, no norte de Portugal, onde ficaria até quase o fim de sua vida.
Com problemas de saúde e diagnosticado com transtorno bipolar e depressão, Antero tirou a própria vida, cometendo o suicídio com um revólver, no dia 11 de setembro de 1891 em sua cidade natal, Ponta Delgada.
Frases
– “A inteligência dos hábeis, dos prudentes, dos espertíssimos é muitas vezes cega em lhe faltando uma coisa bem pequena — a boa-fé.”
– “O piloto quer os olhos desvendados para ler nos astros o caminho da nau por entre as ondas incertas.”
– “Os grandes gênios modernos são grotescos e desprezíveis aos olhos baços do banal metrificador português.”
– “A idade não a fazem os cabelos brancos, mas a madureza das ideias, o tino e a seriedade.”
– “A futilidade num velho desgosta-me tanto como a gravidade numa criança.”
Genial e revolucionário
Antero de Quental foi um poeta a frente de seu tempo. Mais do que isso, foi um homem que pensou à frente de sua época. Foi revolucionário na literatura, trabalhando uma poesia totalmente diferente do que era o padrão da literatura portuguesa daquele momento.
Como cidadão, foi conhecer a realidade dos operários daquela época, tanto em Portugal como na França. Com esse conhecimento percebeu como os trabalhadores eram tratados e como era preciso se organizar politicamente para modificar essa realidade.
Antero foi um homem diferente, que marcou profundamente a literatura portuguesa. Não é à toa que é considerado um dos poetas mais importantes da língua portuguesa. Com toda a justiça!