Vamos combinar uma coisa, qual o autor que não sonha em escrever um livro que se torne um grande clássico, uma referência não só em seu gênero literário, mas na história da própria literatura? Uma obra que se perenize e passe gerações sendo lida e admirada?
Sonhar com isso acredito que todos sonhem, mas entre o sonho e a realidade somente uns poucos conseguem atingir esse nível. Claro que você alcançar esse patamar é fantástico, coloca seu nome no Olimpo dos escritores, mas também tem um outro lado, como autor você vai sempre brigar com a sombra de sua obra épica, sendo cobrado para repetir a façanha toda vez que publicar um livro. Nem todos conseguem e acabam vendo sua carreira entrar em declínio, outros vão produzindo obras de grande valor e conseguem se manter no topo e eternizar seu nome e sua obra como um todo, como, por exemplo, foi o caso de William Shakespeare, pois quem conhece sua obra tem dificuldade em escolher um único livro como referência.
Agora vamos falar de um autor que produziu uma obra que se tornou gigante e transcendeu seu tempo, sendo lida e consagrada até hoje, mais de um século depois de sua primeira publicação. É hora conhecermos um pouco mais a vida e o trabalho daquele que foi considerado um dos mais importantes escritores góticos da Era Vitoriana, Bram Stoker e seu, literalmente, imortal “Drácula”.
O início
Abraham Stocker nasceu na Irlanda, na cidade de Dublin, em oito de novembro de 1847. Era o terceiro de sete filhos do casal Abraham Stoker e Charlotte M. B. Thornley, membros de igreja protestante da Irlanda. Depois ele adotaria o apelido “Bram”, pelo qual ficaria famoso.
Ainda criança teve sérios problemas de saúde, até os sete anos viveu a maior parte de sua vida dentro de casa, de cama. Depois vai iniciar seus estudos em uma escola particular. Nesse período recluso em casa, Bram seria fortemente influenciado pelas histórias contadas por sua mãe, como aquelas em que ela descrevia a epidemia de cólera de 1832, que matou milhares de pessoas. As narrativas de sua mãe, muitas vezes cruéis e assustadoras, com toda a certeza, serviram para influenciar as ideias literárias do jovem.
Em 1863 ele ingressa no famoso Trinity College, de Dublin, onde se graduaria em Matemática, como um aluno de destaque. Apesar dos problemas de saúde da infância, Stoker seria reconhecido como um bom atleta no período do Trinity.
Já formado, Bram Stoker foi trabalhar como funcionário público em Dublin, em 1867, onde trabalharia por dez anos. Em paralelo ao trabalho público, ele começou a escrever, para o jornal Dublin Evening Mail, resenhas teatrais e onde publicaria seus primeiros contos. Seria seu contato inicial com o mundo cultural e literário.
Stoker escreveu ótimas críticas sobre o trabalho do ator Henry Irving, o que iria aproximar os dois homens, que se tornariam amigos. Em 1879 Stoker se tornaria empresário e secretário de Irving, chegando a assumir a direção da companhia teatral Lyceum Theatre, em Londres, onde trabalharia por 27 anos.
Em 1878 ele se casaria com Florence Balcombe. O casal mudaria para Londres quando o autor foi trabalhar na companhia teatral com Henry Irving.
Literatura
A partir das histórias de sua mãe ele criou interesse pelo ocultismo e o sobrenatural. Já publicando seus contos no Dublin Evening, Bram vai produzir, em 1872, sua primeira história de terror, “The Crystal Cup”. Três anos depois, em 1875, ele escreveria seu primeiro romance “The Primrose Path”.
Os anos de trabalho no Lyceum Theatre foram importantes para Stoker, pois ele acabou podendo viajar por diversos países da Europa e de outros continentes, conhecendo novas culturas. Ele passou, também, a trabalhar para o jornal Daily Telegraph, de Londres, compondo a equipe literária, escrevendo textos de ficção e de outros gêneros.
Nesse período ele passou a estudar o folclore europeu e as histórias mitológicas envolvendo vampiros, que seriam a base para seu livro de maior sucesso. Sem dúvida alguma a grande obra literária de Bram Stoker foi “Drácula”, isso é inegável. Mas ele produziu muito mais do que um único livro. Ao longo da vida o autor publicou várias obras, entre elas:
Romances
– The Primrose Path – 1875
– The Snake’s Pass – 1890
– The Watter’s Mou’ – 1895
– The Shoulder of Shasta – 1895
– Dracula – 1897
– Miss Betty – 1898
– The Mystery of the Sea – 1902
– The Jewel of Seven Stars – 1903
– The Man – 1905
– Lady Athlyne – 1908
– The Lady of the Shroud – 1909
– The Lair of the White Worm – 1911
Coleções de contos
– Under the Sunset – 1881 – contos para crianças
– Snowbound: The Record of a Theatrical Touring Party – 1908
– Dracula’s Guest and Other Weird Stories – 1914
Histórias
– The Crystal Cup – 1872
– Buried Treasures – 1875
– The Chain of Destiny – 1875
– The Dualitists – 1887
– The Gombeen Man – 1889/1890
– Lucky Escapes of Sir Henry Irving – 1890
– The Night of the Shifting Bog – 1891
– Lord Castleton Explains – 1892
– Old Hoggen: A Mystery – 1893
– The Man from Shorrox – 1894
– The Red Stockade – 1894
– When the Sky Rains Gold – 1894
– At the Watter’s Mou’: Between Duty and Love – 1895
– Our New House – 1895
– Bengal Roses – 1898
– A Yellow Duste – 1899
– A Young Widow – 1899
– A Baby Passenger – 1899
– The Seer – 1902
– The Bridal of Death – 1903
– What They Confessed: A Low Comedian’s Story – 1908
– The Eroes of the Thames – 1908
– The Way of Peace – 1909
– Greater Love – 1914
Não ficção
– The Duties of Clerks of Petty Sessions in Ireland – 1879
– A Glimpse of America – 1886
– Personal Reminiscences of Henry Irving – 1906
– Famous Impostors – 1910
– Great Ghost Stories – 1998
– Bram Stoker’s Notes for Dracula: A Facsimile Edition – 2008
Artigos
– Recollections of the Late W. G. Wills, The Graphic, 1891
– The Art of Ellen Terry, The Playgoer, 1901
– The Question of a National Theatre, The Nineteenth Century and After, Vol. LXIII, 1908
– Mr. De Morgan’s Habits of Work, The World’s Work, Vol. XVI, 1908
– The Censorship of Fiction, The Nineteenth Century and After, Vol. LXIV, 1908
– The Censorship of Stage Plays, The Nineteenth Century and After, Vol. LXVI, 1909
– Irving and Stage Lightning, The Nineteenth Century and After, Vol. LXIX, 1911
Drácula
Por mais que tenha escrito diversas obras ao longo de sua carreira, não há como falar do escritor Bram Stoker sem falar de “Drácula”. O livro se transformou em um dos escritos mais famosos da história da literatura, já tendo vendido milhares de exemplares e tendo se tornado uma das obras mais adaptadas para o cinema.
Nesse romance o mundo conhece o Conde Drácula, que vive na Transilvânia, na Romênia. A narrativa surge a partir dos relatos de Jonathan Harke, que vai até a Transilvânia onde conhece o misterioso Conde. De volta à Inglaterra, Harke é seguido por Drácula, que vive em sua eterna busca por sangue, para se manter vivo.
Em solo inglês o Conde também vai conhecer o professor e caçador de vampiros Abraham Van Helsing, que vai se opor ao vampiro e seu desejo por sangue. Coincidência ou não, Van Helsing tem o mesmo nome de Stoker.
Muitos estudiosos apontam que “Drácula” é inspirado em uma história real, do príncipe da Valáquia, Vlad III, que ficaria conhecido como Vlad, o Empalador. Se esse fato é real ou não, a verdade é que poucas histórias fizeram tanto sucesso ao longo do tempo e ganharam tantas versões para o cinema como essa. Entre as principais versões, estão:
– “Nosferatu”, de 1922, dirigido por F. W. Murnau, que filmou sem a autorização da família de Stoker. A viúva de Stoker, Florence processou os produtores e acabou vencendo a disputa.
– “Drácula”, de 1931, produzido pela Universal Pictures, dirigido por Tod Browning, que consagraria a interpretação de Bela Lugosi.
– “Drácula de Bram Stoker”, de 1992, dirigido por Francis Ford Coppola, estralado por Garry Oldman, Winona Ryder, Anthony Hopkins e Keanu Reeves.
– “Drácula, morto mas feliz”, de 1995, foi mais uma adaptação feita por Mel Brooks, que dava às histórias uma roupagem cômica. Nessa versão brilha Leslie Nielsen como Drácula.
Curiosidades
– Stoker foi uma criança com muitos problemas de saúde. Sofrendo de uma doença desconhecida ele não conseguia ficar de pé até os sete anos de vida;
– Infância doente, vida adulta diferente. Em seus anos no Trinity College ele praticou vários esportes com bom aproveitamento;
– Pelo Trinity College passaram escritores como Oscar Wilde e Samuel Beckett;
– Oscar Wilde foi contemporâneo de Stoker e disputou com ele o amor de Florence, que acabaria se casando com Bram;
– Em Dublin foi criado o ‘Bram Stoker Festival’, realizado no período do Halloween;
– A causa da morte de Bram Stoker não é um consenso entre os historiadores, alguns apontam a exaustão como a causa, outros preferem dizer que foi em consequência dos derrames sofridos pelo escritor e há quem aponte a sífilis como a causa de sua morte;
– Bram Stoker foi cremado e suas cinzas estão no Crematório Golders Green, em Londres.
Morte
Abraham ‘Bram’ Stoker faleceu em 20 de abril de 1912, depois de sofrer vários derrames cerebrais.
O eterno vampiro
Bram Stoker criou uma obra extensa, mas a atenção sobre o seu trabalho se concentrou em “Drácula”, que é realmente uma obra impressionante do ponto de vista literário. Esse sucesso o levou a ser considerado um dos mais importantes escritores de terror da Era Vitoriana, na Inglaterra.
Muitos críticos consideram “Drácula” como a combinação perfeita entre a bela e bem construída narrativa, personagens fortes, como o próprio Drácula e Van Helsing, e o terror como tema central.
O importante é que a escrita de Bram Stoker sobreviveu ao tempo e, até hoje, encanta e assusta gerações.