Conto policial “Morte ao Acaso” – Capítulo 1

Um novo caso

1 – Um chamado repentino

A chamada telefônica de Nando encontrou Ricardo ainda dormindo. Era domingo e os dois policiais estavam de folga.

– Alô. – Foi tudo o que Ricardo conseguiu dizer assim que atendeu o telefone celular.

– Ainda dormindo às 10 horas da manhã? Porra, a noitada foi boa. – provocou Nando.

– O que houve? Já está com saudades de mim? – perguntou Ricardo olhando o relógio.

– Não, exatamente. O delegado me ligou, acabou de nos colocar em um caso. – explicou Nando.

– Como assim? Estamos de folga hoje. – devolveu Ricardo.

– Mas a madrugada foi agitada e pintou um caso lá em Copacabana. Ele não tinha quem mandar pra lá, então nós fomos os escolhidos para investigar esse caso. Isso significa que acabou nossa folga, vou passar na sua casa em 20 minutos.

– Calma. – falou Ricardo enquanto se sentava na cama, procurando despertar totalmente para poder raciocinar com clareza – Não precisa passar lá em casa não. – falou Ricardo.

– Tá bom. Explica melhor.

– Eu não estou em casa. – disse Ricardo olhando para a jovem deitada na cama, ao seu lado – Estou em Botafogo. Manda o endereço que eu te encontro lá.

– Que beleza! Mais uma festinha do nosso Dom Juan. Estou mandando o endereço, nos encontramos lá. – falou Nando.

– Tudo bem, combinado.

Ricardo desligou o telefone e acordou a jovem que estava ao seu lado, claro que o fez com muitos beijos.

– Marcelle, acorda.

– O que houve? – respondeu ela, ainda muito sonolenta.

– Precisamos ir, o Nando me ligou, apareceu um caso. Vou deixar você em casa e seguir para Copacabana.

– Mas você disse que hoje estaria de folga e que poderíamos ficar juntos. – reclamou ela fazendo um biquinho sensual.

– Eu disse. Mas, infelizmente, o delegado nos colocou em um caso. Preciso ir agora para Copacabana encontrar o Nando.

– Você não tem mais um tempinho para mim? – sussurrou ela ao ouvido do policial.

– Não dá coração. Preciso ir. Mas tarde te ligo e nos encontramos, tá bom? Aí prometo que terei todo o tempo do mundo para você.

– Tudo bem, acabei de perder você para um crime. – falou Marcelle, claramente desapontada.

Eles se arrumaram rapidamente. Ricardo deixou Marcelle em casa, nas Laranjeiras, antes de seguir para Copacabana. Em 15 minutos estava no endereço passado por Nando. O domingo estava chuvoso e isso facilitou, pois o trânsito estava tranquilo, já que o movimento de pessoas em direção à praia era pequeno, bem diferente do que ocorre nos dias de sol.

– Bom dia. – falou ele enquanto entrava no apartamento da vítima e se apresentava aos policiais.

– Bom dia, Inspetor. – falou o policial militar olhando a identificação que Ricardo apresentava.

– O que temos aqui?

– Uma mulher morta, pelas marcas no pescoço, deve ter sido estrangulada. Os vizinhos não ouviram nada, ninguém notou qualquer tipo de movimento estranho no apartamento.

– Quem encontrou o corpo?

– Uma vizinha que mora aqui nesse andar, disse que era amiga da vítima. Ela contou que ontem à noite elas iriam tomar um chopp, mas a colega não apareceu. Disse que não estranhou, pois, as vezes isso acontecia, delas marcarem, mas a colega dar um bolo. Parece que a falecida tinha um amante, que só aparecia de vez em quando, então ela largava tudo para ficar com ele. Segundo essa amiga, as duas tinham combinado uma caminhada hoje cedo, é uma rotina das duas, sempre caminham pelo calçadão aos domingos. Depois que acordou, ela já achou estranho que a amiga ainda não tivesse aparecido, pois geralmente era a falecida que acordava mais cedo e a chamava. Bateu na porta várias vezes e não teve resposta. A partir daí ela ficou bastante preocupada e resolveu chamar o síndico. Eles esmurraram a porta e, como não houvesse retorno, decidiram arrombar. Puseram a porta abaixo e encontraram a mulher morta, lá no quarto.

– O pessoal da perícia já chegou?

– Chegaram uns 10 minutos antes de você.

– Obrigado.

Ricardo se dirigiu ao quarto, cumprimentou os peritos e ficou observando a mulher, deitada na cama, com os olhos arregalados, como se tivesse tido uma grande surpresa no momento de sua morte. Ele olhou em volta, nada parecia fora do lugar.

– Não há sinal de luta. – comentou ele.

– Não. – respondeu Luís Roberto, o perito – Tudo está arrumado. Aparentemente nada foi mexido.

– Só um detalhe. – falou o perito enquanto apontava para o colo da mulher. Logo abaixo do pescoço havia a marca de uma estrela, feita com algum objeto cortante sobre a pele da mulher.

– O que é isso? Algum tipo de marca de satanismo?

– Não sei, mas vamos verificar essa questão com o maior cuidado. – colocou Luís.

– Você lembra de algo semelhante recentemente?

– Não que eu tenha notícia. Mas é bom ficarmos atentos a isso. Pode não ser nada, mas pode ser o início de muitos problemas. – explicou o perito.

– Você tem toda a razão. – ponderou Ricardo – Já dá para ter alguma ideia sobre o que aconteceu?

– Ainda é muito cedo pra isso. Mas eu arriscaria que o criminoso era alguém conhecido. Talvez uma pessoa próxima da vítima. – respondeu o perito.

– Isso explica a expressão de surpresa da morta. – comentou Ricardo.

– Sim. – concordou Luís – Ainda vamos avaliar melhor, mas nada parece fora do lugar, não há sinal de luta, a porta estava fechada, não houve arrombamento, ou seja, quem esteve neste apartamento provavelmente entrou com autorização da falecida. Aí você já viu, a coisa começa como uma brincadeira, vai esquentando e de repente a pessoa dá o bote. Nossa amiga aí é pega de surpresa, poderia esperar várias coisas nesse momento, menos esse desfecho.

– Faz todo o sentido. – comentou Ricardo.

Nesse momento Nando chegava. Olhou a mulher, deu uma rápida vistoriada no quarto e falou com Ricardo.

– E então?

Os dois foram para a sala para que os peritos continuassem o trabalho e Ricardo repassou a Nando as informações que tinha conseguido com o policial militar e com Luís Roberto.

– Que coisa. O que as pessoas são capazes de fazer, cada hora encontramos uma coisa macabra. Esse povo consegue se superar. – ponderou Nando.

– O ser humano é capaz de muitas coisas, meu amigo. Quando você pensa que já viu tudo, aparece outra história como essa para você resolver. – falou Ricardo – Vamos conversar com os vizinhos que acharam o corpo, eles estão no apartamento ao lado.

Antes que eles saíssem, o perito interrompeu, chamando os dois.

– Acho que vocês também podem achar isso aqui interessante. – falou ele mostrando os documentos da mulher morta – A identidade dela está rasgada, faltando um pedaço.

– Estranho. Não há sinal de luta, portanto essa carteira não deve ter sido rasgada por ela. Pelo menos não aqui, na cena do crime. Será que o assassino fez isso de propósito ou a carteira já estava rasgada há mais tempo?

– E por que rasgar um pedaço da identidade? – indagou Nando olhando o documento – Se fosse para atrapalhar a identificação, daria para entender. Mas nesse caso o rasgo é no canto, não atrapalha em nada, a lógica seria sumir com o documento. Mesmo assim conseguiríamos indentificá-la.

– Só ia dar um pouco mais de trabalho. – comentou Luís.

– Você tem razão, é muito estranho. Suelen… – murmurou Ricardo olhando o nome que aparecia na carteira.

– Bem esquisito isso. – concordou Nando – Vamos lá falar com os vizinhos, depois voltamos a pensar esse problema.

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