Estou de volta, pessoal. Quero, agora, fazer uma pergunta: você já pensou em fazer uma viagem onde possa conhecer o que existe melhor e pior nos reinos da vida após a morte? Pergunta difícil essa.
É sem dúvida uma viagem extraordinária poder se aventurar nesses três reinos, o Inferno, o Purgatório e o Paraíso. Os mais céticos dirão que isso é impossível, pois tais reinos não existem. Os mais crentes afirmarão que somente após a morte é que se pode conhecer esses reinos. Um tema delicado, que muitos preferem evitar.
Mas, com quem estaria a verdade? Isso pouco importa, pelo menos para os amantes da literatura, pois para esses o italiano Dante Alighieri escreveu a “Divina Comédia”, na qual ele convida o leitor a passear com ele por esses reinos. Um livro épico e sensacional que vem conquistando fãs ao longo dos séculos.
Dante foi além da “Divina Comédia” e deixou um legado de outras importantes obras para a literatura. Mas, sem dúvida, é impossível falar do autor sem falar da sua principal obra. Então vamos conhecer um mais sobre Dante Alighieri e a sua “Divina Comédia”
Primeiros anos
Existem dúvidas em relação ao dia em que Dante Alighieri teria nascido. Sabe-se que ele nasceu na cidade de Florença, na Itália, no ano de 1265, entre o final de maio e o início de junho. A data usada com mais frequência é 25 de maio. Ele foi poeta, escritor e político, sendo considerado por muitos o maior poeta da língua italiana e um dos maiores da história.
Era filho de Alighiero di Bellincione e Bella Degli Abati, uma influente e importante família de Florença. Quando estava com cinco anos Dante perdeu a mãe. Logo em seguida seu pai voltou a se casar, desta vez com Lapa di Chiarissimo Cialuffi. Desse novo matrimônio do pai nasceriam os irmãos de Dante, Francesco e Gaetana.
Naquela época, os casamentos dos filhos eram arranjados pelas famílias, de acordo com as conveniências financeiras e políticas destas. Aos 12 anos, em 1277, Dante foi obrigado a se casar com Gemma Donati, filha de Messe Manetto Donati, homem rico de Florença. Como os dois tinham 12 anos de idade, só foram viver juntos, como um casal, anos mais tarde.
A pai de Dante morreu quando ele estava com 18 anos, em 1283.
Formação e Literatura
Como Dante Alighieri viveu entre os séculos XIII e XIV, os registros sobre sua vida são imprecisos e existem muitas dúvidas sobre sua formação acadêmica. A versão mais usual é que Dante era um autodidata e aprendeu muita coisa sozinho. Alguns registros apontam que ele teria estudado letras, ciências, artes e teologia e teria feito parte desses estudos nos conventos de Santa Croce e Maria Novella, entre os anos de 1275 e 1282. Ele teria mostrado muito interesse em poesia, além dos textos bíblicos, e clássicos gregos e romanos.
Em 1281, aos 16 anos, escreve seus primeiros sonetos. No ano seguinte abandona a escola e faz amizade com vários artistas, como os poetas Brunetto Latini, Guido Cavalcanti, Lapo Gianni, Dino Frescobaldi, Guianni Alfani e Cino da Pistoia e o pintor e arquiteto Giotto di Bondone. Junto com esses poetas vai lançar um novo estilo de poesia, que posteriormente seria chamado de Dolce Stil Nuovo (Doce estilo Novo).
Dante tornou-se um grande erudito e escreveu diversas obras de grande qualidade filosófica e literária, entre as quais podemos destacar:
– A Divina Comédia
– Sobre a Língua Vulgar
– Vida Nova
– As rimas
– O Convívio
– Monarquia
– As Epístolas
– Éclogas
O autor escreveu diversas obras importantes, mas, sem dúvida alguma, “A Divina Comédia” acabou se tornando sua mais importante e conhecida produção.
A Divina Comédia
Escrita quando Dante estava no exílio, a “Divina Comédia” se transformou, ao longo do tempo, não só na sua principal obra, mais em um dos maiores livros da história, já tendo vendido mais de 12 milhões de exemplares.
O livro é um grande poema dividido em três partes
– Inferno: local dos pecadores.
– Purgatório: local dos pecadores que esperam o julgamento.
– Paraíso: local de purificação, que significa a santidade.
São 100 cantos, divididos em tercetos, cada um com 33 cantos e mais um de abertura, fechando o total de cantos. Na época o número 100 era considerado símbolo de perfeição.
Dante é o próprio protagonista de sua história, percorrendo o Inferno, o Purgatório e o Paraíso e descrevendo cada uma dessas etapas com riqueza de detalhes. No inferno recebe a ajuda do poeta romano Virgílio, autor da “Eneida”, que serve como uma espécie de guia e o conduz pelo reino das trevas e o Purgatório, onde eles observam os tormentos dos pecadores.
Por fim, Virgílio atinge o paraíso, onde é obrigado a parar, pois como pertence à era pré-cristã, é incapaz de receber a Graça. Lá Dante encontra sua nova guia, Beatriz, sua musa inspiradora, considerada por ele no poema ‘a ciência divina’.
Dante brinca com os personagens. Assim como usou o poeta Virgílio, figura do passado, e Beatriz, sua contemporânea, ele colocou no poema vários de seus amigos e, também, inimigos, juntamente com outras figuras do passado.
Além de um grande poeta de sua época, Dante Alighieri teve uma forte atuação política nas terras italianas.
Política
Dante também fez carreira na política e teve atuação militar, combatendo na Batalha de Campaldino ao lado dos cavaleiros florentinos. Na política atuou ao lado dos guelfos moderados, conhecidos como “brancos”. Os guelfos eram uma facção política dos partidários do Papa, que estava envolvida em uma disputa com os gibelinos, partidários do Sacro Império Romano-Germânico.
Além dos gibelinos, os guelfos estavam envolvidos em uma disputa interna, entre os denominados “guelfos brancos” e os guelfos negros”. Por suas posições, Dante acabou enfrentando vários problemas políticos, particularmente no papado de Bonifácio VIII, que pretendia promover a ocupação militar de Florença. Essas brigas políticas levariam Dante, em 1302, a ser condenado por corrupção nas atividades públicas que desempenhava e ele precisou se exilar para não ser executado.
Dante é forçado a um longo exílio, abandonando Florença e vivendo em Verona, Bolonha e Ravena, onde seria enterrado. Esse período de exílio foi muito sofrido para ele, mas também lhe rendeu muita inspiração para seu trabalho literário, a maior parte de sua obra foi escrita no exílio.
Somente no ano de 2008 é que o Comitê Cultural de Florença revogou o exílio de Dante, concedendo aos herdeiros do poeta a maior honraria concedida pela cidade, Il Fiorino D’Oro.
Vida Pessoal
A vida pessoal de Dante foi marcada por dois fatos. Primeiro por sua paixão por Beatriz Portinari, que ele conheceu aos nove anos de idade. Ela seria sua musa inspiradora, por quem o autor desenvolve um amor platônico. Além de aparecer em a “Divina Comédia”, ele dedica a ela o poema “Vida Nova”. Ela morreria em 1290, aos 24 anos.
A segunda marca em sua vida pessoal foi o casamento arranjado por seu pai com Gemma Donati, realizado em 1277 quando ele tinha 12 anos. O casamento só se concretizaria realmente anos depois, em 1285, quando ambos estavam adultos. Existem dúvidas em relação a quantos filhos o casal teria. A informação mais difundida é de que eles teriam tido quatro: Pietro, Giovanni, Jacopo e Antônia.
Quando Dante foi para o exílio, a família não o acompanhou, ficando em Florença. A versão mais conhecida é de que ele nunca mais voltou a ver a esposa. O poeta faleceu em setembro de 1321, na cidade de Ravena.
Curiosidades
– Dante na verdade era uma abreviação de seu primeiro nome, Durante.
– Ele foi um autodidata, tendo estudado a obra de grandes poetas e escritores como Virgílio, Horácio, Ovídio e Cícero.
– Aos nove anos conheceu sua grande paixão platônica, Beatriz Portinari, que seria sua musa inspiradora a quem ele dedicou “Vida Nova”. Ela também está presente em a “divina Comédia”.
– Por conta das questões políticas foi banido e exilado de Florença e seus bens apreendidos.
– Seu livro “monarquia” é uma grande reflexão sobre dois poderes que se confrontavam na época, o Papado e o Sacro Império Romano-Germânico e foi considerado herético. Por conta disso seus exemplares foram queimados na fogueira da Inquisição e figurou, por muitos anos, na lista dos livros proibidos.
Frases
- A alma é o maior milagre do mundo.
- Não se pode exprimir com palavras a passagem do estado humano ao divino…
- Não há maior dor do que a de nos recordarmos dos dias felizes quando estamos na miséria.
- Vês que a razão, seguindo o caminho indicado pelos sentimentos, tem asas curtas.
- Não se conquista a fama deitado sobre leves plumas.
- Amor e coração nobre são uma única coisa.
- Abandoneis toda a esperança, vós que entrais no inferno. (frase contida na obra “A Divina Comédia”).
- A natureza á a arte de Deus.
A Divina Comédia Humana
É inegável a importância da obra de Dante para a história da literatura, não só pelos diversos e grandes livros que escreveu, mas, principalmente, por conta da “Divina Comédia”. Tivesse escrito apenas essa obra, Dante teria se eternizado da mesma forma no mundo literário.
Ele foi um dos mais importantes escritores da época do renascimento. Ele escreveu sua obra no dialeto da Toscana, bem similar ao que é hoje a língua italiana, ao invés do latim, mostrando que aquela língua podia ser usada para a elaboração da textos mais sérios, como era o caso poesia. Isso foi transformador para a língua italiana.
A “Divina Comédia” é uma narrativa fantástica em que Dante descreve, com muita habilidade, talento e competência, sua viagem pelo Inferno, Purgatório e Paraíso.
Dante virou uma grande referência para o mundo da poesia, criando uma obra épica. Vale muito a leitura, a “Divina Comédia” é uma verdadeira obra prima e merece ser apreciada por todas as gerações.
