Dashiell Hammett um dos grandes gênios do romance policial

Vamos nessa, pessoal, hora de falar de romances policiais. E, não há mistério quando falamos dos grandes autores do gênero. Eles construíram um caminho maravilhoso, do ponto de vista literário, que abriu portas para quem está hoje, aqui, falando com vocês.

É sempre bom reverenciarmos os precursores de um gênero literário, aqueles que romperam barreiras e criaram um estilo próprio, inovador, marcando uma época e se transformando em referência para as novas gerações.

No caso do romance policial, temos um autor que foi considerado o precursor do romance policial americano e da literatura noir, um gênero que mistura terror, mistério, elementos policiais, detetives particulares e investigações criminais. Em geral eram histórias que se desenvolviam em ambientes sombrios como bares mal frequentados, ruas desertas, casas com assombrações e outros. Cenários pesados e sinistros.

Então vamos falar do precursor desse estilo. Chegou a hora de falarmos de Dashiell Hammett e, como não poderia deixar de ser, sua maior criação, o investigador Sam Spade.

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História

Samuel Dashiell Hammet nasceu no Condado de Saint Mary’s, no Estado de Maryland, no dia 27 de maio de 1894, era o segundo de três filhos do casal Richard Thomas Hammet e Anne Bond Dashiell. Sua família não possuía recursos financeiros e seu pai era alcoólatra e muito ‘mulherengo’. Ainda criança mudou-se para a cidade de Baltimore, no mesmo Estado, onde iniciou seus estudos. Aquando era bem novo, aos 14 anos, teve que parar de estudar para trabalhar e ajudar no sustento da família.

Hammett trabalhou como entregador de jornal, mensageiro, escriturário, estivador, apontador de mão-de-obra e detetive particular, entre outras atividades que desenvolveu. Quando estava com 20 anos ele foi trabalhar na agência de detetives Pinkerton, bem famosa na época, onde ficou de 1914 a 1921, trabalhando de forma intermitente. A experiência adquirida na Pinkerton seria muito utilizada, posteriormente, em suas histórias. Durante a Primeira Guerra Mundial, em 1918, alistou-se no Corpo de Ambulâncias do Exército. Nesse período contraiu tuberculose e esteve internado em vários sanatórios.

Nessa época começou a escrever suas primeiras histórias, que seriam publicadas em revistas populares como Black Mask e Smart Set. Seus textos logo chamaram a atenção e ele começou a ser reconhecido pelo público como um grande escritor, um inovador no gênero policial.

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A Carreira Literária

Sua carreira na literatura começa efetivamente a partir de 1922 com uma história publicada na revista Smart Set. Em 1923 publica outro conto, agora na revista Black Mask, intitulado “Arson Plus”, nele o autor apresenta um de seus importantes personagens, um detetive que trabalhava em uma agência de São Francisco, que ficaria conhecido pelo codinome Continental OP. Era um detetive diferente do padrão utilizado até aquele momento, pois não fazia o estilo intelectual, que usava toda inteligência para desvendar os mistérios, como Sherlock Holmes e Hercule Poirot. Longe disso, Hammet apresenta um detetive particular rude, nada cerebral, que age dentro um uma espécie de código de honra próprio, desprezando a autoridade e navegando sempre na fronteira entre o legal e o ilegal. Isso expondo o submundo da violência dos Estados Unidos nos anos pós crise de 1929, período da Lei Seca e das quadrilhas organizadas, estilo Al Capone. Esse tipo de personagem seria uma constante na carreira literária de Hammett.

Ao todo ele escreveu mais de 80 contos e cinco livros:

– Seara Vermelha (1929)

– Maldição em Família (1930)

– O Falcão Maltês (1930)

– A Chave de Vidro (1931)

– Ceia dos Acusados (1934)

Sua obra se caracterizou pelo estilo diferenciado do que existia até então. Em 1930 ele lança “O Falcão Maltês”, onde apresenta o detetive Sam Spade, um sujeito cínico, de caráter duvidoso, capaz de trair seu sócio, tendo um caso com a mulher deste. Contudo, Spade torna-se um justiceiro para vingar a morte desse mesmo sócio, ainda que tenha interesse na perseguição dos matadores, por conta de uma valiosa estatueta em formato de falcão, toda de ouro com pedras preciosas, que Spade quer para si. Um sujeito cheio de ambiguidades, ambições e interesses. Um detetive nada convencional para a época.

O personagem de Sam Spade se tornaria um ícone das histórias policiais quando o livro ganha uma versão cinematográfica, lançada em 1941, com a direção de John Huston, com genial Humphrey Bogart, com uma atuação primorosa, imortalizando o detetive.

Dashiell revoluciona as histórias policiais, explicitando a violência que até então ficava subentendida. Nas suas histórias ele narra, de forma clara, a maneira como o submundo do crime age. A partir de sua obra, vários outros autores assumiram o mesmo ritmo, criando um romance policial muito próximo da realidade das ruas, sem lirismo. Estava sendo inaugurada uma nova era na história do romance policial.

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Vida Pessoal

A infância de Dashiell não foi das mais fáceis, conviveu com muitas dificuldades financeiras, teve um pai alcoólatra, problema que também o perseguiria ao longo de sua vida. Precisou parar de estudar muito novo, para trabalhar e colaborar no sustento da família.

Participou da Primeira Guerra Mundial, alistando-se como soldado, em 1918, ocasião em que contraiu tuberculose. Quando estava no hospital das Forças Armadas dos Estados Unidos conheceu a enfermeira Josephine Dolan, que viria a ser sua primeira esposa e com quem teria duas filhas, Mary Jane Hammett e Joshepine Hammett. Por causa da tuberculose seu contato com a mulher e as filhas foi reduzido, por conta do alto risco de contágio. Eles ficariam casados até 1927, quando se divorciaram.

Após a separação, no início da década de 1930 o autor conheceu a escritora Lilian Hellman, com quem iria viver até a sua morte.

A bebida, que havia sido um problema na vida de seu pai, também atormentou a vida de Hammett. Isso serviu para agravar os seus problemas de saúde originados da tuberculose.

Dashiell Hammett participaria da Segunda Guerra Mundial, tendo se alistado e servido como soldado em um acampamento no Alasca, onde editou um jornal, em 1944. No ano seguinte, como sargento, recebeu a dispensa com honra.

A vendagem de seus livros rendeu fama e fortuna. Mas, Hammett gastou muito dinheiro com festas, bebedeiras e amantes, o que prejudicou, ainda mais, sua saúde.

Perseguição

Mesmo tendo ficado rico e famoso com a venda de seus livros, o autor não escaparia da onda reacionária que varreria os Estados Unidos no pós guerra, por conta da “caça às bruxas” aos supostamente comunistas.

A doutrina criada pelo senador Joseph McCarthy, ficou conhecida por Macartismo, foi caracterizada por intensa perseguição política, no pós segunda guerra, com métodos de censura e difamação, com acusações, em geral sem provas, de traição ou subversão contra o país. A indústria cinematográfica foi muito atingida por essa perseguição.

Dashiell era um esquerdista assumido e, por conta disso, foi preso e passou seis meses na cadeia, sob a acusação de se recusar a colaborar com a comissão que investigava as supostas atividades subversivas no ramo do cinema. Foi incluído em uma lista negra e impedido de trabalhar na indústria cinematagráfica, como muitos outros artistas.

Sem poder trabalhar, com sérios problemas de saúde e bebendo muito, Dashiell Hammett foi se tornando um homem amargurado e cada vez mais entregue à doença. O autor viria a falecer em 10 de janeiro de 1961.

Um divisor de águas

Não quero discutir aqui se Dashiell Hammett foi o melhor escritor de romances policiais da história ou não. Até mesmo porque, na minha modesta opinião, ele não foi. No gênero mistério, tenho minha preferência por escritores como Agatha Christie, principalmente, e outros como Raymond Chandler, esse um seguidor de Hammett, e Luiz Alfredo Garcia-Roza, por exemplo.

Mas, uma coisa é inegável, o romance policial teve duas fases distintas, marcadamente com modelos de construção totalmente diferentes, uma antes e outra depois de Dashiell Hammett. Antes dele os autores trabalhavam muito com a dedução, a inteligência e a lógica de seus personagens. A partir dele, os autores foram voltando seus personagens para mais próximos da realidade, policiais duros, com personalidades duvidosas, mais agressivos. Atualmente ainda prevalece essa estética inaugurada por ele.

Por isso, não podemos deixar de enaltecer e admirar o trabalho desse grande escritor, que deixou uma marca na literatura, especialmente no romance policial.

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Escritor Carlos Carvalho

Carlos Carvalho

Sou escritor, amante de literatura e apaixonado pelos mistérios criados por Agatha Christie. Escrevo contos, poesias e romances. Sendo o Romance Policial meu gênero literário preferido. Sou formado em Jornalismo e pós-graduado em Assessoria de Imprensa e Comunicação Empresarial.

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