Hora de dica literária, um momento para falar de um livro singular, “O Diário de Anne Frank”. Essa obra, escrita pela jovem Anne, durante a Segunda Guerra Mundial, relata um período negro da história, a perseguição vivida pelos judeus diante de regime nazista de Adolf Hitler.
É uma narrativa que nos confronta com o drama de pessoas que viveram a tensão de ter que enfrentar o medo da morte diariamente, frente a um regime de governo que provocou um dos maiores massacres já registrados pela humanidade.
Em razão das atrocidades nazistas da Alemanha de Hitler, esse livro transformou-se num registro dolorido e cruel, mas ao mesmo tempo inocente, apresentado a partir do ponto de vista de uma menina. Ela que, aos 13 anos, precisou enfrentar, junto com sua família, a necessidade da mais absoluta reclusão como única forma de sobrevivência.
Por isso, “O Diário de Anne Frank” deveria ser leitura obrigatória. Precisamos conhecer a nossa história, nosso passado, para evitar que os erros e as tragédias se repitam.
Para que se tenha uma ideia da importância dessa obra, basta dizer que seu texto foi declarado patrimônio da humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e que o escrito está na lista dos 100 livros do século XX de acordo com o jornal francês Le Monde.
Vamos conhecer mais sobre Anne Frank e seu diário.
Anne Frank
Anne Marie Frank nasceu na Alemanha, na cidade de Frankfurt, em 12 de junho de 1929, filha do casal Otto Heinrich Frank e Edith Holländer-Frank. Ela era a segunda filha do casal, tendo uma irmã mais velha, Margot.
A família viveu em Frankfurt até o início da década de 1930. Seus pais vivenciaram o drama da Primeira Guerra Mundial e o período da depressão pós-guerra, no final da década de 1920. Eles presenciaram a ascensão de Hitler e das ideias nazistas. Em 1933 o partido nazista venceu as eleições e Hitler foi nomeado Chanceler Alemão.
A partir desse momento se intensificam os ataques aos judeus, que passaram a ser tratados pelo Führer como os grandes vilões da Alemanha, sendo responsabilizados pelos problemas vividos pelo país a partir da derrota na Primeira Grande Guerra, na visão de Hitler e do partido nazista.
Com a intensificação dos ataques antissemitas, a família Frank tomou algumas providências para garantir sua segurança. Ainda em 1933 Edith e as filhas mudaram para a cidade de Aachen, na fronteira com a Bélgica e a Holanda, vão para a casa de Rosa Holländer, mãe de Edith. Otto ficou mais um tempo em Frankfurt, organizando os negócios, até surgir a possibilidade de abrir um negócio em Amsterdã, na Holanda. O patriarca segue para a cidade holandesa para criar uma companhia para comercializar pectina, um ingrediente utilizado na preparação de geleias.

Após organizar o negócio e arrumar uma residência, ainda em 1933, Otto manda buscar Edith e Margot. Anne permaneceria mais um tempo com a avó, só iria se juntar à família em 1934. Eles fizeram parte de um grupo de mais de 300 mil judeus que deixaram a Alemanha entre 1933 e 1939.
A família vai viver em relativa tranquilidade até 1940, quando a Alemanha invade a Holanda. Após a ocupação os judeus passam a viver o medo constante da perseguição nazista. Otto Frank começa a preparar uma alternativa para esconder a família em caso da situação se tornasse mais crítica, o que aconteceu em 1942.
Nesse ano, em 12 de junho, Anne recebe de presente um diário, quando comemorava seu 13º aniversário. Em julho desse mesmo ano, a irmã de Anne, Margot, recebe uma intimação do governo para se apresentar a um campo de trabalho na Alemanha nazista. A perseguição atingia a família Frank.
Otto já havia preparado um esconderijo, que ficava em sua própria empresa, em Amsterdã. Eram cômodos que ficavam em um anexo, na parte superior do prédio. Era uma parte que todos pensavam estar abandonada, que era protegida da parte utilizada do imóvel por uma estante móvel, que escondia a passagem para o anexo.
Entre julho de 1942 e agosto de 1944 os Frank viveram escondidos no anexo, juntamente com a família Van Pels, formada por pai, mãe e filho, e com o dentista Fritz Pfeffer, eles ficaram ali por dois anos escondidos ali, até serem descobertos e deportados para campos de concentração. Na versão do livro, os nomes dos Van Pels de Fritz foram alterados para Van Daans e Albert Dussel respectivamente.
Aos 13 anos Anne foi obrigada e vivenciar aquela situação de fuga e esconderijo, na luta pela sobrevivência. Ao longo desses dois anos e um mês em que esteve escondida no anexo, junto com os demais, ela registrou a vida dos residentes que estavam ali escondidos, revelando as dúvidas, os medos e a expectativas de todos no abrigo.
Era a narrativa do ponto de vista de uma menina que ao mesmo tempo que ia crescendo e vivendo as situações normais de uma jovem dessa idade. Ela narra os frequentes desentendimentos com a mãe, em função da diferença de pensamentos; da admiração pelo pai; a aproximação com o jovem Peter Van Pels, de quem se torna grande amiga e por quem se apaixona no esconderijo, tudo isso diante do perigo da descoberta do local e da possibilidade de prisão e morte.
Ela registrou todos esses momentos em seu diário.
O Diário
Entre 14 de junho de 1942 e primeiro de agosto de 1944 Anne registrou o dia a dia das pessoas que estavam escondidas no anexo, fugindo da perseguição nazista. Ela escreve para o diário, que batizou de “Kitty”, descrevendo tudo o que eles passaram naqueles dois anos.
Ela descreve não só o drama daquelas pessoas, mas também a rede de solidariedade que se formou entre os judeus para resguardar aqueles que era mais ameaçados por Hitler e pelo regime nazista.
No diário Anne fala sobre seu sonho profissional, o de se tornar escritora. Ela não sobreviveu ao Holocausto, morrendo no campo de concentração de Bergen-Belsen, na Alemanha, para onde foi enviada junto com sua irmã Margot.

Anne não sobreviveu, mas o diário sim, ele foi resgatado por Miep Gies e Elisabeth ‘Bep’ Voskuijl do esconderijo antes que a polícia fizesse uma batida no local e destruísse tudo.
Após a morte de Anne, Miep entregou o diário a Otto Frank, que foi o único sobrevivente entre as oito pessoas que viveram aqueles dois anos no anexo.
Otto Frank encarregou-se de publicar a obra, o que ocorreu pela primeira vez em 1947. O livro se transformou, ao longo do tempo, em um grande sucesso, já tendo vendido mais de 35 milhões de exemplares, sendo publicado em mais de 70 idiomas, em aproximadamente 40 países.
O sucesso levou o diário a ser transformado em peça teatral, em 1955, e a ganhar uma versão para o cinema, em 1959.
Otto também criou a Fundação Anne Frank, em 1963, que utiliza a renda apurada com a venda do Diário e seus licenciamentos para pesquisa científica, caridade e educação.
Vítima de uma atrocidade
Anne Frank era uma jovem como outra qualquer, que vivia seus momentos bons e ruins, que estudava, brincava, brigava, nada diferente de qualquer outra criança. Possuía muitos sonhos, que foram interrompidos pela violência de um regime político que usou como método de permanência no poder o extermínio de seus opositores. Inventou culpados para os problemas da população, perseguiu grupos, matou em nome de uma suposta supremacia racial. Ela foi uma das tantas vítimas do nazismo de Hitler.
Anne desejava ser escritora, criar e contar histórias para as pessoas. Seus sonhos foram interrompidos em março de 1945, não há informação exata sobre o dia de sua morte, em um campo de concentração na Alemanha.
O sonho de ser escritora ela não pode realizar, pelo menos não em vida, mas os textos que ela deixou escritos, que se transformaram em um livro, fizeram dela uma destacada autora do século XX. Precisou de apenas um livro para ser venerada.
Infelizmente morreu antes de completar 15 anos e não viu seu livro ser publicado, mas a mensagem que foi eternizada nas páginas da obra publicada por seu pai mostra que a intolerância destrói vidas e sonhos.
Passados 76 anos da primeira publicação do Diário, ainda não aprendemos a lição deixada por Anne e continuamos a nos perseguir e matar, em nome de supremacias raciais, econômicas e políticas.
Parece que pouco ou nada aprendemos com uma jovem que descreveu o horror que a perseguição política pode ocasionar.
Anne Frank queria ser escritora, acabou conseguindo por caminhos tortuosos. Nós, por outro lado, mesmo enfrentando muitas vezes caminhos tortuosos, ainda não aprendemos a viver em paz. Uma pena.
Esse é um livro que não pode deixar de ser lido. É um hino à liberdade, ao amor, à inocência. Não deixe de conferir.