Érico Veríssimo e a nossa rica e poderosa literatura

A literatura brasileira é muito rica em grandes autores e autoras. Seja no romance ou na poesia, nosso país produziu dezenas de grandes escritores e escritoras, que marcaram época e se eternizaram por meio de suas fantásticas obras, tornando-se referência no campo literário brasileiro e internacional.

Um desses grandes gênios da escrita foi Érico Veríssimo, autor da consagrada trilogia “O Tempo e o Vento”, uma das mais conhecidas obras da nossa literatura. Vamos conhecer um pouco da vida e da obra desse fantástico autor.

A família Veríssimo

Nascido em Cruz Alta, no Rio Grande Sul, no dia 17 de dezembro de 1905, Érico Lopes Veríssimo era filho de Sebastião Veríssimo e de Abegahy Lopes. Ele tinha um irmão, Ênio e uma irmã adotiva, Maria.

Seu pai recebeu, após o casamento, uma casa e uma farmácia, próximas ao sobrado em que seu avô Franklin Veríssimo vivia. O sobrado ficaria conhecido como “a sede do clã dos Veríssimo”.

Aos quatro anos contraiu meningite e ficou gravemente doente, mas felizmente acabou se recuperando.

A casa de Érico era repleta de livros, com uma biblioteca que o próprio autor estimava ter cerca de dois mil livros, rica em quantidade e, também, em qualidade. Nesse ambiente ele se tornou um grande leitor, devorando obras de autores como Aluísio de Azevedo, Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Oswald de Andrade, Coelho Neto, Mario de Andrade, Leon Tolstoi, Émile Zola, Fiódor Dostoievski, Oscar Wilde, Eça de Queiroz e muitos outros.

Na infância, em Cruz Alta, estudou no Colégio Venâncio Aires, onde era considerado um ótimo aluno. Em 1920 a família se muda para Porto Alegre e o jovem vai estudar no Colégio Interno Cruzeiro do Sul. Ele conclui o ensino médio em 1922, momento em que seus pais se separam e a situação financeira da família se complica em razão das gastanças de seu pai.

Com a separação dos pais, Érico vai trabalhar como balconista no armazém de seu Tio e, depois, no Banco Nacional do Comércio. Diante das dificuldades financeiras da família, Érico, a mãe e os irmãos retornam para Cruz Alta. Em 1926 ele vai se tornar sócio de um amigo em uma Farmácia. O empreendimento vai durar até 1930, quando o negócio vai à falência.

Nessa época Érico já trabalhava, em paralelo ao seu negócio, na transcrição de obras de autores consagrados como Machado de Assis e Euclides da Cunha. Em 1927 o autor conheceria Mafalda Halfen Volpe, com quem se casaria anos mais tarde. Dois anos depois de se conhecerem ficariam noivos. Ainda em 1929 ele consegue publicar seu primeiro texto, “Chico: um Conto de Natal”, em uma revista mensal chamada ‘Cruz Alta em Revista’. Na sequência seu conto “A Lâmpada Mágica” é publicado no jornal Correio do Povo.

Com a falência da farmácia, em 1930, Érico volta para Porto Alegre, onde é contratado para trabalhar como secretário de redação da Revista do Globo. Empregado e com a vida financeira mais estável, ele retorna a Cruz Alta para se casar com Mafalda e os dois vão morar em Porto Alegre. O ano de 1932 vai marcar sua estreia na literatura.

Ele teve um casal de filhos com Mafalda, Clarissa e Luís Fernando, que também se tornaria escritor. Érico Veríssimo faleceu no dia 28 de novembro de 1975, em Porto Alegre, vítima de um infarto.

Literatura

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Em 1932 Érico publica sua primeira obra, o livro de contos “Fantoche”. No ano seguinte publica “Clarissa”, que vai ser seu primeiro sucesso. Ao longo dos anos Veríssimo vai produzir uma obra rica e variada, indo do romance à literatura infantil. Confira os principais trabalhos do autor.

– Fantoche, contos, 1932

– Clarissa, ficção, 1933

– Caminhos Cruzados, ficção, 1935

– Música ao Longe, ficção, 1935

– A Vida de Joana D’Arc, biografia, 1935

– Um Lugar ao Sol, ficção, 1936

– As Aventuras do Avião Vermelho, literatura infantil, 1936

– Rosa Maria no Castelo Encantado, literatura infantil, 1936

– Os Três Porquinhos, literatura infantil, 1936

– Meu ABC, literatura infantil, 1936

– As Aventuras de Tibicuera, romance didático, 1937

– O Urso com Música na Barriga, 1938

– Olhai os Lírios do Campo, ficção, 1938

– A Vida do Elefante Basílio, 1939

– Outra Vez os Três Porquinhos, 1939

– Viagem à Aurora do Mundo, 1939

– Aventuras no Mundo da Higiene, 1939

– Saga, ficção, 1940

– Gato Preto em Campo de Neve, impressões de viagem, 1941

– As Mãos de Meu Filho, contos, 1942

– O Resto é Silencio, ficção, 1942

– A Volta do Gato Preto, impressões de viagem, 1946

– O Tempo e o Vento I, O Continente, 1948

– O Tempo e o Vento II, O Retrato, 1951

– Noite, novela, 1954

– Gente e Bichos, 1956

– O Ataque, novela, 1959

– O Tempo e o Vento III, O Arquipélago, 1961

– O Senhor Embaixador, 1965

– O Prisioneiro, 1967

– Israel em Abril, 1969

– Incidente em Antares, 1971

– Solo de Clarineta, memórias, vol.I, 1973; Vol.II, 1975

Sua obra alcançou tal projeção que muitos de seus trabalhos ganharam versões para o cinema e a televisão.

Para o cinema

– Mirad los lirios del campo, Argentina – 1947

Baseado em Olhai os lírios do campo

 – O sobrado, Brasil – 1956

Baseado em O tempo e o vento

– Um certo capitão Rodrigo, Brasil – 1970

Baseado em O tempo e o vento

– Ana Terra, Brasil – 1971

Baseado em O tempo e o vento

– Noite, Brasil – 1985

Baseado em Noite

– O Tempo e o Vento, Brasil – 2013

Baseado em O tempo e o vento

Para a televisão

– O Tempo e o vento, Brasil – 1967

Telenovela baseada no romance homônimo

– Olhai os lírios do campo, Brasil – 1980

Telenovela baseada no romance homônimo

– O resto é silêncio, Brasil – 1982

Minissérie baseada no romance homônimo

– Música ao longe, Brasil – 1982

Minissérie baseada no romance homônimo

– O tempo e o vento, Brasil – 1985

Minissérie baseada no romance homônimo

– Incidente em Antares, Brasil – 1994

Minissérie baseada no romance homônimo

– O resto é silêncio, Brasil – 2005

Em teledramaturgia especial da RBS TV Cinco vezes Érico.

Além das adaptações, sua vida foi registrada no curta-metragem “Um contador de histórias”, de 1974, dirigido por David Neves e Fernando Sabino.

Toda essa excelência de sua escrita rendeu a Érico Veríssimo diversos prêmios e homenagens.

Prêmios

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– Prêmio Machado de Assis, em 1934 por “Música ao Longe”

– Prêmio Fundação Graça Aranha, por “Caminhos Cruzados”

– Título Doutor Honoris Causa, do Mills College, de Oakland, Califórnia, em 1944, no Mills ele lecionou Literatura e História do Brasil

– Prêmio Machado de Assis, em 1954, da Academia Brasileira de Letras pelo conjunto de sua obra

– Título de Cidadão de Porto Alegre, concedido pela Câmara de Vereadores local, em 1964

– Prêmio Jabuti – em 1965 pelo livro “O senhor Embaixador”

– Prêmio Intelectual do Ano (Troféu Juca Pato), em 1968

– Grã-Cruz suplementar da Ordem de Rio Branco, concedida pelo governo brasileiro em 2005 – póstumo

Traduções

Érico Veríssimo foi um dos grandes escritores da nossa literatura, mas também se notabilizou como um grande tradutor, vertendo grandes obras da literatura universal como:

Romances

– O sineiro (The Ringer), de Edgar Wallace – 1931

– O círculo vermelho (The Crimson Circle), de Edgar Wallace – 1931

– A porta das sete chaves (The Door with Seven Locks), de Edgar Wallace – 1931

– O homem sinistro (The sinister man), de Edgar Wallace – 1931

– O mistério da escada circular (The circular staircase), de Mary R. Rinehart – 1932

– Na pista do alfinete novo (The clue of the new pin), de Edgar Wallace – 1933

– Classe 1902 (Jahrgang 1902), de Ernst Glaeser – 1933

– A morte mora em Chicago (On the Spot: Violence and Murder in Chicago) de Edgar Wallace – 1934

– Contraponto (Point Counter Point), de Aldous Huxley – 1934

– A filha de Fu-Manchu, (Daughter of Fu Manchu) de Sax Rohmer – 1935

– A cobra amarela (The Yellow Snake), de Edgar Wallace – 1936

– E agora, seu moço? (Kleiner Mann – was nun?), de Hans Fallada – 1937

– Não estamos sós (We Are Not Alone), de James Hilton – 1940

– Adeus Mr. Chips (Goodbye Mr. Chips), de James Hilton – 1940

– Ratos e homens (Of Mice and Men), de John Steinbeck – 1940

– O retrato de Jennie (Portrait of Jennie), de Robert Nathan – 1942

– Mas não se mata cavalo? (They Shoot Horses, Don’t They?), de Horace McCoy – 1947

– Maquiavel e a dama (Then and Now), de Somerset Maugham – 1948

Contos

– Psicologia (Psychology), de Katherine Mansfield – 1939

– Felicidade (Bliss), de Katherine Mansfield – 1940

– O meu primeiro baile (Her First Ball), de Katherine Mansfield – 1940

Frases

Érico veríssimo também cunhou algumas frases que acabaram sendo eternizadas:

– “Todos nós somos um mistério para os outros… e para nós mesmos.”

– “A vida começa todos os dias.”

– “Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento.”

– “Na minha opinião existem dois tipos de viajantes: os que viajam para fugir e os que viajam para buscar.”

– “Nenhum escritor pode criar do nada. Mesmo quando ele não sabe, está usando experiências vividas, lidas ou ouvidas, e até mesmo pressentidas por uma espécie de sexto sentido.”

– “Em geral quando termino um livro encontro-me numa confusão de sentimentos, um misto de alegria, alívio e vaga tristeza. Relendo a obra mais tarde, quase sempre penso ‘Não era bem isto o que queria dizer’.”

Curiosidades

– Quase morreu aos quatro anos por conta de uma meningite, agravada por uma broncopneumonia.

– Na década de 1930 criou um programa infantil de auditório, na Rádio Farroupilha, o “Clube dos três porquinhos”, encerrado por conta da censura do Estado Novo

– O romance “O resto é silêncio”, que relata o suicídio de uma mulher que se atira de um prédio é baseada em um fato vivenciado por ele e por seu irmão Ênio, que presenciaram uma cena parecida

– A casa onde viveu, em Cruz Alta, foi transformada em “Museu Casa de Érico Veríssimo”

– Seu filho, Luís Fernando Veríssimo, assim como o pai, se tornou um grande escritor

O genial regionalista

Érico Veríssimo foi um escritor brilhante, um sensacional contador de histórias. Com uma capacidade literária única, um senso crítico da sociedade muito aguçado e uma consciência regional fantástica retratou de forma fiel a realidade do povo gaúcho, as histórias e costumes da região

O melhor exemplo desse fato é a saga “O Tempo e o Vento”, dividida em três romances, “O Continente”, “O Retrato” e o “Arquipélago”. Nessa vasta obra Veríssimo aborda, de forma brilhante aproximadamente 200 anos da história do Rio Grande do Sul. Uma obra prima da nossa literatura.

Por essas e outras razões Érico Veríssimo é considerado um dos maiores escritores que o Brasil produziu. Uma justa e correta avaliação.

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Escritor Carlos Carvalho

Carlos Carvalho

Sou escritor, amante de literatura e apaixonado pelos mistérios criados por Agatha Christie. Escrevo contos, poesias e romances. Sendo o Romance Policial meu gênero literário preferido. Sou formado em Jornalismo e pós-graduado em Assessoria de Imprensa e Comunicação Empresarial.

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