Das revistas em quadrinhos ao romance policial
Minha aproximação com a literatura surgiu ainda na infância, com a leitura de revistas em quadrinhos, que são uma atividade deliciosa para uma criança e, também, para os adultos, por que não? Eu agora estou voltando a desenvolver a leitura de gibis lendo junto com meu filho. Também era leitor voraz das páginas de esporte dos jornais. Eu sempre adorei praticar esporte e gostava de acompanhar as notícias sobre as mais variadas modalidades esportivas como futebol, basquete, vôlei, futebol de salão, automobilismo e até mesmo tênis, um esporte que na época não era muito popular no Brasil. Só lembrando, estamos falando do final dos anos de 1970, início dos anos 80. Outra leitura constante nessa fase era da revista Placar, sobre esportes, então dirigida de forma brilhante por Juca kfouri.
Mas essa relação com a leitura se estreitou mesmo quando, nessa mesma época, por volta dos 12 anos peguei um livro que minha irmã Fátima tinha acabado de ler. Perguntei se o livro era bom e ela disse que sim, que era muito bom e que valia a pena a leitura. Decidi, então, me desafiar a ler aquele livro, que seria minha primeira experiência com uma grande quantidade de páginas a serem lidas, eram mais de 300. Era um desafio, mas a curiosidade com a dica da minha irmã falou mais alto e fui em frente, encarrei a leitura do livro, que à época se chamava “O Caso dos Dez Negrinhos”, escrito por Agatha Christie. Hoje, aqui no Brasil ele passou a se chamar “E não Sobrou Nenhum”.

Li o livro em um final de semana. Na verdade, passei o sábado e o domingo lendo, pois não conseguia parar, queria logo saber quem era o culpado. Fiquei completamente envolvido por aquela trama e pela forma como a autora construiu a história, estava achando aquilo mágico.
Posso dizer que foi amor à primeira vista ou melhor à primeira leitura. Me encantei com o texto, achei fantástica a ideia de você criar uma história e, literalmente, convidar o leitor a dar um belo passeio por esse mundo que você criou. Fiquei impressionado com o poder que a escrita proporciona.
Depois de ler esse livro, passei a ser leitor frequente de Agatha Christie, devorando todos os livros da autora que eu encontrava e, a cada livro dela que eu lia, mais me encantava com a forma como ela construía aquelas histórias. Comecei a perceber uma vontade de realizar um trabalho parecido, de escrever e convidar as pessoas a embarcarem nas minhas viagens. Ao mesmo tempo, comecei a me arriscar na leitura de outros autores, com estilos literários diferentes ao de Agatha. O resultado foi parecido, cada livro que eu lia era uma viagem e eu me encantava cada vez mais com a leitura.
Surgia aí uma relação que duraria por toda a minha vida. Nessa mesma época, ainda garoto, comecei a rabiscar minhas primeiras histórias, quando ainda fazia o antigo ginasial.
Na primeira metade dos anos de 1980 fui cursar o que naquele tempo chamávamos de “segundo grau”, no Colégio Pedro II. Uma passagem marcante na vida, pelo aprendizado, o enriquecimento cultural e pelas amizades que fiz. Mas, aquele período de três anos, também era a hora de começar a pensar no futuro, na escolha de uma carreira e no ingresso na faculdade, convenhamos um momento complicado para a cabeça de um adolescente.
Agora estamos falando de 1984 e, naquela época, um garoto quando pensava em escolher uma profissão lembrava sempre das mais comuns, como médico, engenheiro e advogado.
É óbvio que nesse momento da vida a maioria dos jovens não está pronto para escolher sua profissão, existem as exceções, é claro, mas a regra é a maioria ficar perdida nessa época. Eu, particularmente não tinha predileção, e acho que nenhuma aptidão, por nenhuma das profissões que citei acima. Então, estava no grande grupo dos indecisos, não tinha uma ideia precisa do que queria fazer.
Em um momento como esse, muitas vezes precisamos contar com alguma ajuda para encontrarmos o caminho a seguir. Não é por outro motivo que muitas escolas promovem palestras com profissionais de diversas áreas, para que os jovens tenham esse contato com a realidade do mundo do trabalho e conheçam um pouco mais as possibilidades profissionais que existem.
Eu tive muita sorte na hora de fazer a escolha e minha decisão foi facilitada por uma Tia querida, Isabel, que lendo uma das minhas histórias me aconselhou a fazer comunicação social. Para ser bem sincero, essa possibilidade nunca tinha passado pela minha cabeça, mas, sem que eu tivesse noção, naquele momento meu destino profissional estava sendo traçado.

Hoje, quatro décadas depois sou um jornalista com 32 anos de trabalho, escritor com três livros publicados e criador desse espaço para estar com vocês, falando de cultura. Muitas vezes é num detalhe que o seu destino é traçado. O meu foi decidido por um conselho.
Hoje minha Tia Isabel já não está aqui conosco, mas está sempre comigo, pois tudo o que eu faço hoje, seja como jornalista, seja como escritor, teve a participação dela e eu sou muito grato por isso. Felizmente ela pode acompanhar parte da minha carreira como jornalista e teve a oportunidade de ver meus livros publicados.
A decisão pelo jornalismo, depois dessa dica da Tia, acabou sendo fácil. Fiz o primeiro vestibular e não passei. No segundo entrei para a Universidade Federal do Rio de Janeiro e segui meu destino. E a literatura sempre presente na minha vida, seja na leitura e estudo dos textos acadêmicos ou no lazer, quando continuava lendo e muito. Aproveitava todo o tempo livre para ler. Sempre carregava um livro na mochila para poder ler no ônibus. Onde quer que eu estivesse, procurava sempre ter um livro por perto.
E a leitura agregou muito conhecimento à minha vida. Por meio dela pude conhecer muitos mundos e a magia que cada um deles me oferecia. Pude ter contato com a obra de verdadeiros gênios como Machado de Assis, Jorge Amado, Gabriel García Márquez, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Mello Neto, Ernest Hemingway, Cecília Meireles, Franz Kafka, Clarice Lispector, José Saramago, Dante Aliguieri e, obviamente, os escritores de romances policiais, os “gênios do crime” como Agatha Christie, Sir Arthur Conan Doyle, Edgar Allan Poe, George Simenon, Harlan Coben, Luiz Alfredo Garcia-Roza, Rubem Fonseca, Raymond Chandler e muitos outros autores que tive o prazer de ler ao longo desses anos. Provavelmente cometi o erro de deixar algum autor ou alguma autora fora dessa lista e desde já peço perdão pela falha, mas são tantos grandes autores(as) que fica difícil lembrar de todos, sem consultar uma lista com os nomes para não esquecer de ninguém.

Hoje, felizmente, tenho um bom acervo de livros em casa e estou sempre lendo, além de aproveitar o tempo, quando sobra algum, para reler alguns que valem uma releitura. A literatura teve e sempre terá uma grande importância na minha vida profissional. Os livros me levaram à escrita e essa me levou ao jornalismo e ao exercício profissional por mais de três décadas.
Se a literatura foi decisiva na minha vida profissional, ela também marcou minha vida pessoal, pois a leitura foi peça fundamental na minha formação como cidadão. Toda informação que adquiri lendo me levou à reflexão sobre os mais diversos aspectos da vida, influenciando meu pensamento e minhas ações.
Com certeza a formação que meus pais me proporcionaram, com cuidado, carinho e muita orientação foram decisivos na minha vida e, também, sempre me incentivaram a ler e estudar. Mas, a consciência que adquiri como cidadão devo muito também à literatura e às leituras que fiz ao longo da vida. Sou fruto de cada página que já virei ao longo da minha caminhada.
Por isso, hoje uma das coisas que faço como pai é tentar introduzir meu filho no mundo mágico da literatura. Procuro ler com ele todos os dias e estou sempre incentivando a leitura. Quero que ele tenha a mesma oportunidade que eu tive, de ter acesso aos livros, à cultura e possa viajar e conhecer histórias, pessoas e lugares que somente os livros podem nos oferecer. Quero que ele sinta a magia que eu sinto até hoje quando estou lendo um bom livro.
Como diz um ditado que muitos repetem, “livros não mudam o mundo, mas mudam as pessoas e essas mudam o mundo”. Que assim seja, que ele possa ser transformado, como eu fui, por uma boa leitura e uma boa viagem.
Por essa razão deixo aqui meu incentivo para que todos leiam. Procure um tempo livre para ler, não importa o que você vai ler, mas sim que você leia. Um dia o jogador de futebol Dario, o “Dadá Maravilha’ disse que “não existe gol feio, feio é não fazer gol”, hoje eu digo que não existe livro ruim, ruim é não ler um livro.

Livro bom é aquele que agrada ao leitor e gosto não discutimos, apenas respeitamos. Por isso leia sempre, não importa o tipo de literatura, desde que ela agrade a você. Ler é viajar, ler é adquirir conhecimento, ler é magia e sempre precisamos de magia em nossa vida, pois somente a vida não basta!