Estamos chegando ao final de mais um ano, muito em breve estaremos nos despedindo de 2022. Foi um período conturbado, marcado por muitas questões internas e externas que, de alguma forma, abalaram as estruturas e convicções da nossa sociedade e que, infelizmente, deixaram a literatura em segundo plano. Mas, precisamos falar sobre esses assuntos, analisar os acontecimentos e refletir sobre o que nos espera no ano que vai começar.
Vivemos um período ainda preocupante com a presença da pandemia da Covid-19, que insiste em se manter presente, fazendo com que precisemos redobrar nossa atenção e nossos cuidados. Se o pior já passou, o problema ainda não está totalmente resolvido, então todo cuidado é pouco.
Nesse ano também vimos emergir uma guerra, entre Rússia e Ucrânia, uma triste e deprimente realidade, que envolve um conflito armado que coloca frente a frente homens que vão se matando. Quando o mundo deveria estar trabalhando pela paz, vemos morte e destruição.
Aqui no Brasil passamos por um processo eleitoral totalmente diferenciado do todos os anteriores, com uma campanha agressiva, até mesmo fisicamente, recheada de mentiras. Infelizmente, foi a eleição das “fake News” e com a não aceitação do resultado das urnas por parte de uma minoria que insistiu, inclusive, em clamar por uma “intervenção militar”, o que é um completo absurdo. Mais um pouco e estaríamos mergulhando em “1984”, de George Orwell”, um romance distópico e futurista, publicado em 1949 e que mostra uma sociedade que vive sobre um regime tirânico e com um forte culto à personalidade, cujo único grande objetivo é a manutenção do poder.
Mas, com tudo de bom e ruim que aconteceu no período, esse foi o ano de 2022, então vamos falar um pouco mais sobre tudo isso, como um convite à reflexão, e celebrar a chegada de 2023.
Os fatos
Dois mil e vinte e dois chegou e encontrou o mundo ainda vivendo sob a tensão da Covid-19. Vivemos, nos últimos três anos, sob o fantasma dessa doença, que já contaminou mais de 632 milhões de pessoas em todo o mundo, vitimando mais de 6,6 milhões de seres humanos por todo o planeta. Desse total, aproximadamente 690 mil mortes ocorreram aqui no Brasil, com o registro de mais de 34,9 milhões de casos no país. Foram três anos de muito sofrimento e agonia.
Enterramos nossos mortos enquanto aguardávamos a vacina, única solução para essa tragédia. Felizmente as vacinas vieram e com elas o ritmo acelerado de mortes com a doença pode ser contido. Hoje estamos vivendo um momento mais tranquilo, ou menos estressante, mas sabemos que precisamos continuar vigilantes, pois a Covid-19 não se foi, continua por aqui, à espreita.
Agora nesse final de ano surgem notícias de que uma nova variante foi encontrada em vários países da América do Sul, nos Estados Unidos e, também, da Europa. Ela já foi identificada no Brasil, no Amazonas, no mês de outubro. Há uma expectativa que ocorra um novo crescimento no número de casos. Não podemos relaxar diante da Covid.
Na política internacional, começamos o ano de 2022 com uma guerra. Em fevereiro a tensão entre Rússia e Ucrânia cresceu, principalmente por conta da aproximação do governo ucraniano com a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e a consequência foi uma invasão por parte da Rússia ao território do país vizinho.
No final de 2021 o governo ucraniano solicitou sua inclusão na OTAN, o que gerou uma insatisfação russa e fez surgirem protestos em várias províncias ucranianas, abertamente favoráveis a uma aproximação com a Rússia, como Donetsk, Luhansk, Kharkiv e Odessa. Em fevereiro Donetsk e Luhansk se proclamaram Repúblicas Populares independentes. A Rússia imediatamente reconheceu as repúblicas e enviou tropas para a região, para garantir a autonomia desses territórios. A sequência foi o início da guerra, que persiste até o momento.
A tensão entre os dois países, na verdade, vem crescendo desde 2014, quando houve a retirada do então presidente ucraniano Viktor Yanukovych, alinhado à Rússia. A agitação em favor dos russos cresceu e essa agitação fez crescer a tensão junto ao novo governo, favorável ao ocidente. Na ocasião, soldados russos assumiram posições estratégicas na Crimeia, no território ucraniano.
É bom lembrar que os dois países possuem uma relação que vem de muitos anos e séculos. A Ucrânia esteve sob o domínio do império Russo. Após a revolução russa, de 1917 passou a fazer parte da antiga União Soviética. A Ucrânia viria a recuperar a sua independência em 1991, após a dissolução do regime soviético.
Cada país tem suas razões políticas para sustentar as ações empreendidas. Mas o que resta é o número de mortos e feridos, que já passa de cem mil, incluindo aí muitos civis, crianças e idosos e a devastação do território ucraniano, um país que precisará ser reconstruído no pós-guerra.
É uma realidade muito triste vermos, em pleno século XXI, a cobiça política de governantes, incluo aí russos, ucranianos e dos demais países envolvidos indiretamente no conflito, leve dois países à guerra, com milhares de mortos e gerando uma crise econômica que afeta a maioria dos países do mundo. A guerra nunca será a solução.
O Brasil não é uma ilha e cada um desses fatos, tanto a Covid como a guerra da Ucrânia, tiveram grande influência sobre o nosso país. O primeiro, pois, infectou muitas pessoas, mandando milhares para os hospitais e tirou a vida de outras tantas, para nossa mais absoluta tristeza. Mesmo com o avanço da vacinação, ao longo deste ano, a pandemia continuou assombrando a população. No caso da guerra, além da tristeza, de observarmos o drama humanitário de pessoas morrendo, sendo feridas, mutiladas, cidades sendo destruídas, o mundo vivencia os problemas econômicos com o corte total ou parcial de produtos que são exportados tanto por Rússia como pela Ucrânia. Um outro tipo de drama, o econômico.
Como se não bastassem essas questões, entramos em 2022 com um processo de aceleração da inflação e um forte aumento no preço dos combustíveis. O resultado do somatório de problemas é que o Brasil voltou ao mapa da fome da ONU (Organização das Nações Unidas), de onde havia saído em 2014. Hoje aproximadamente 33 milhões de pessoas passam fome em nosso país.
Com esse quadro dramático o Brasil caminhou para as eleições gerais de 2022, onde seriam escolhidos, além do novo Presidente da República, os Governadores, deputados federais, deputados estaduais e um terço dos senadores.
O que poderia ser motivo de alegria, pois a eleição é sempre uma oportunidade para buscarmos solução para os nossos problemas, transformou-se num grotesco festival de disseminação de mentiras, as já famosas “fake news”. Foram meses observando o crescimento da propagação de inverdades, que amplificaram a violência verbal, enquanto avançava, em paralelo, a violência física, do confronto, que acabou, lamentavelmente, gerando mortes em nosso país. Nem nas tragédias shakespearianas vimos algo parecido. As mentiras espalhadas no Brasil de 2022, nessas eleições, fariam o Iago, de Otelo, parecer um menino inocente.
É muito triste constatar o grau de agressividade e descontrole a que chegou parte da população, que foi além da violência verbal e física, recusando-se a aceitar o resultado legítimo das urnas. Chegamos ao absurdo de vermos pessoas comemorando fatos inexistentes, propagados de forma leviana, como a vibração das pessoas diante de uma falsa notícia da prisão de um juiz do Supremo Tribunal Federal.
Volta por cima
Na questão da Covid, precisamos continuar atentos e adotando medidas preventivas, como forma de evitar que novas variantes aumentem demasiadamente o número de casos, o que pode nos trazer mais mortes e um descontrole no sistema de saúde.
Em relação à nossa realidade política, a constatação é triste, mas é muito real. Então, precisamos trabalhar com muita sabedoria para desfazer essa situação. Não é simples, isso é verdade, mas precisamos, a partir de 2023 repensar nossos valores e atitudes. Precisamos discutir quais os limites, ou a falta deles, que a tecnologia está nos apresentando nos sistemas de comunicações e como lidar com essa realidade.
A liberdade de expressão é sagrada e deve ser protegida, isso não deve ser colocado em questão. Mas a discussão que devemos propor está longe disso, a conversa deve girar em torno da propagação de mentiras. Distorcendo os fatos e se escudando na questão da liberdade de expressão, as pessoas querem para si o direito de dizer as maiores mentiras, sem se importar com as consequências. É isso que devemos combater.
A democracia pressupõe o respeito à liberdade, inclusive a de expressão. Mas isso não pode servir de pretexto para a propagação de “fake News”. E uma das melhores formas de combater esse problema é com educação. E a literatura faz parte desse processo. Por isso, vamos continuar aqui, nesse espaço, falando de literatura e defendendo que a educação e a cultura sejam uma porta de acesso para um mundo melhor.
Desejo a todos uma passagem de ano com muita paz e alegria e que 2023 seja infinitamente melhor do esse ano.
Em 2023 estarei de volta, com mais informações sobre autores e livros.
Viva a literatura! Viva a cultura!