Oi pessoal, hoje é dia de falar de clássico, mas não é no futebol, não, é na literatura, pois na arte da escrita o que não falta é clássico. Esse é muito especial, pois é considerado um dos maiores e mais importantes escritores da literatura mundial no século passado. Foi um dos maiores expoentes do chamado “realismo mágico” na América Latina. A qualidade inquestionável da sua obra fez com que conquistasse os prêmios literários mais importantes do mundo, o Nobel de Literatura e o Prêmio Internacional Neustadt.
Homem de múltiplos talentos, foi escritor, jornalista, editor e roteirista, exercendo com maestria suas atividades, principalmente as literárias, com isso deixou, para os leitores de todo o mundo, uma obra primorosa, já lida por milhares de pessoas. Seu livro de maior sucesso vendeu mais de 50 milhões de exemplares.
Estou falando de um dos maiores escritores de todos os tempos e um digno representante da América Latina no cenário literário mundial, Gabriel García Márquez.
Na Colômbia
Gabriel José García Márquez nasceu na Colômbia, na cidade de Arataca, no dia seis de março de 1927. Por meio do seu talento tornou a pequena cidade conhecida mundialmente, podemos dizer que ele colocou Arataca no mapa. Basta dizer que a maior atração da cidade é a casa onde García Márquez nasceu e viveu até os nove anos de idade. Gabo, seu apelido, era um dos onze filhos do casal Gabriel Eligio García e Luisa Santiaga Márquez. Quando estava com dois anos a família se mudou para Barranquilla, uma das mais importantes cidades da Colômbia, mas ele permaneceu em Arataca, com seus avós maternos, o coronel Nicolás Ricardo Márquez Mejía e Tranquilina Iguarán. Os dois tiveram forte influência na formação e na obra de Gabo. O avô lhe contava muitas histórias de guerras e batalhas, enquanto da avó ouvia histórias que nem lógica faziam. Essas narrativas inspiraram seu fantástico poder criativo.
Quando estava com oito anos, seu avô Nicolás faleceu e ele foi para Barranquilla viver com os pais, onde estudou no Liceu Nacional de Zipaquirá. Na juventude, após ler o livro “A Metamorfose”, de Franz Kafka, ficou encantado com o fato de o autor criar personagens e situações absurdas, totalmente fora da realidade e pensou que também poderia fazer aquilo.
Na década de 1940 ingressou em um grupo literário, Grupo de Barranquilla, organizado por Ramón Vinyes, dono de uma livraria que possuía um grande acervo literário, muito bem utilizado por Gabo.
No jornalismo
Em 1947, aos 20 anos, vai para Bogotá estudar direito na Universidade da Colômbia, e começa a trabalhar como jornalista para o jornal El Universal. Nesse mesmo ano publica, no jornal El Espectador, o conto “A Terceira Resignação”, sua primeira história a ser publicada.
Aqui é preciso explicar o contexto político em que se encontrava a Colômbia e que terá influência na vida do escritor. O país estava vivendo sob forte turbulência política desde 1946 quando Jorge Eliécer Gaitán, então candidato à presidência, foi derrotado e passou a fazer forte oposição ao presidente eleito, o conservador Mariano Ospina Pérez. Gaitán se candidatou com uma plataforma política de forte viés reformista, propondo a criação de uma legislação trabalhista e previdenciária e defendendo a reforma agrária. A tensão foi aumentando entre governo e oposição até que, em 1948, Jorge Gaitán foi assassinado. A revolta popular foi grande e os eventos que se sucederam à morte de Gaitán fizeram endurecer o regime político colombiano e lançaram o país em uma guerra civil, que duraria uma década e deixaria cerca de 200 mil mortos.
Obviamente a vida de estudante e jornalista novato de García Márquez foi fortemente influenciada pelos acontecimentos. Foram idas e vindas, com Universidades sendo fechadas e Gabo tendo que mudar de cidade para continuar estudando. Ele teve que deixar Bogotá e ir para Barranquilla e acabou em Cartagena. Por influência do médico e escritor Manuel Zapatta Olivella, foi trabalhar no jornal El Universal. Lá participa de um grupo literário, formado por escritores, que tinha como objetivo incentivar a leitura. Gabo então abandona definitivamente o direito para se dedicar ao jornalismo.
Em 1954 vai trabalhar no jornal mais antigo da Colômbia, o El Espectador, atuando como repórter e crítico. Nessa época já estava trabalhando em seu primeiro livro “A Revoada (O Enterro do Diabo)”, que seria lançado em 1955.
Gabo foi consolidando sua carreira de jornalista e o ano de 1958 reservou muitas emoções para ele. Foi o ano em que se casou com Mercedes Barcha e, também, marcou sua ida para a Europa, como correspondente do El Espectador.
Nesse período trabalhou em Genebra e Roma, vivendo ainda em Paris e tendo a oportunidade de passar por países do leste europeu, o bloco socialista conhecido como “Cortina de Ferro”, como Polônia, Hungria, Alemanha Oriental, Tchecoslováquia e União Soviética. Essa época marcaria sua aproximação ideológica com os regimes de esquerda.
Em 1959 torna-se diretor da agência de notícias cubana Prensa Latina, criada por Fidel Castro, de quem vai se aproximar, podendo acompanhar a implantação do processo da revolução cubana, ocorrida naquele ano. Com essa aproximação acaba se filiando ao partido comunista.
No ano seguinte segue para ser correspondente em Nova York, mas sua proximidade com Fidel e seu posicionamento político de esquerda faz com que seja monitorado pela Agência Central de Inteligência Americana, a CIA e tenha seu visto de permanência nos Estados Unidos negado. Acaba indo para o México onde passaria a viver, como exilado, pois também não era bem-visto pelo governo colombiano, que o acusava de apoiar os guerrilheiros de seu país. Viveria o resto de sua vida no México, onde escreveria a maior parte de sua obra, incluindo seu livro mais famoso, “Cem Anos de Solidão”.
Na literatura
Como já havia dito, o primeiro livro que Gabo publicou foi “A Revoada (O Enterro do Diabo)”, em 1955. No mesmo ano publicaria “Relato de um Náufrago”, baseado na entrevista que fez com Luís Alejandro Velasco, sobrevivente do navio ARC Caldas, da marinha colombiana, que afundou no mar do Caribe, durante uma tempestade, quando retornava dos Estados Unidos.
O problema é que o relato de Velasco apresentava o real motivo do naufrágio, mantido em segredo pelo governo da Colômbia, o excesso de carga contrabandeada pela tripulação de um navio da marinha. A história, publicada no El Espectador, desagradou as autoridades de seu país e, por esse motivo, ele acabou sendo mandado para a Europa como correspondente internacional. Foi a saída encontrada pelo jornal para deixar Gabo à salvo e o governo satisfeito com seu afastamento do país.
Depois de fixar residência no México, Gabo passou a trabalhar intensamente em sua produção literária e brindou o mundo com algumas das mais belas obras da história da literatura. Seu vasto acervo incluí as seguintes publicações:
- A Revoada (O Enterro do Diabo) (1955);
- Relato de um náufrago (1955);
- Ninguém escreve ao coronel (1961);
- Os funerais da mamãe grande (1962);
- A sesta de terça-feira (1962);
- Má hora: o veneno da madrugada (1962);
- Cem anos de solidão (1967);
- A última viagem do navio fantasma (1968);
- Um senhor muito velho com umas asas enormes (1968);
- A incrível e triste história de Cândida Eréndira e sua avó desalmada (1972);
- Olhos de cão azul (1972);
- O outono do Patriarca (1975);
- Maria dos prazeres (1979);
- Crônica de uma morte anunciada (1981);
- Textos Caribenhos (1948-1952) – Obra Jornalística – Volume 1 (1981);
- Textos Andinos (1954-1955) – Obra Jornalística – Volume 2 (1982);
- Cheiro de goiaba (1982);
- Da Europa e da América – (1955-1960) – Obra Jornalística – Volume 3 (1983);
- Reportagens Políticas (1974-1995) – Obra Jornalística – Volume 4 (1984);
- O amor nos tempos do cólera (1985);
- O verão feliz da senhora Forbes (1986);
- A aventura de Miguel Litín Clandestino no Chile (1986);
- O general em seu labirinto (1989);
- Crônicas (1961-1984) – Obra Jornalística – Volume 5 (1991);
- Entre amigos (1990);
- Doze contos peregrinos (1992);
- Do amor e outros demônios (1994);
- Notícia de um sequestro (1996);
- Como contar um conto (1998);
- Viver para contar (2002);
- Memórias de minhas putas tristes (2004);
- Eu não vim fazer um discurso (2010).
Mesmo tendo feito tanto sucesso como escritor, Gabo sempre se considerou um jornalista e se preocupou muito com a qualidade que o este oferecia aos leitores. Por isso, voltou a Cartagena, em 1994, para criar a Fundação Gabriel García Márquez, cujo objetivo era estimular a prática de um jornalismo ético e responsável na América Latina.
Gabriel García Márquez produziu intensamente, até o final da década de 2000, quando começou a apresentar graves problemas de saúde. Em 2009 ele declarou que iria parar de escrever. Apesar disso, publicou sua última obra em 2010, “Eu não vim fazer um discurso”. Dois anos depois seu irmão Jaime confirmou que García Márquez estava sofrendo de um processo de demência e não voltaria mais à literatura.
Passados dois anos, em 17 de abril de 2014, Gabo viria a falecer, na Cidade do México, vítima de pneumonia. Ele também vinha lutando contra um câncer.
Nobel e outros prêmios
- Tendo publicado mais de 30 livros, ele construiu uma das mais sólidas carreiras literárias do século XX, que o levou a conquistar o Prêmio Nobel de Literatura, em 1982, pelo conjunto de sua obra. Além do Nobel, Gabo recebeu diversos outros prêmios e condecorações, como:
- Prémio de Novela ESSO por “má hora: o veneno da madrugada” (1961)
- Doutor Honoris Causa da Universidade de Columbia em Nova Iorque (1971)
- Prêmio Literário Internacional Neustadt (1972)
- Medalha da Legião Francesa em Paris (1981)
- Condecoração Águila Azteca no México (1982)
- Prémio quarenta anos do Círculo jornalístico de Bogotá (1985)
- Membro honorário do Instituto Caro y Cuervo em Bogotá (1993)
- Doutor Honoris Causa da Universidade de Cádiz (1994)
Cem Anos de Solidão
A obra literária de García Márquez é vasta e rica. Mas, mesmo com tantos livros de alta qualidade, não podemos falar no autor sem lembrar de “Cem Anos de Solidão”. E isso não é por acaso, o livro já vendeu mais de 50 milhões de exemplares e foi traduzido para mais de 30 idiomas.
O romance é considerado a maior obra do realismo fantástico da América Latina e narra a trajetória da família Buendía por sete gerações. Eles vivem na cidade fictícia de Macondo, que muitos afirmam ter sido inspirada na Arataca onde Gabo nasceu. O livro tem como personagens José Arcádio Buendia, fundador de Macondo, sua esposa Úrsula Buendia, que vive mais de 100 anos, acompanhando as várias gerações de sua família e Aureliano, um dos filhos do casal, que se transforma no grande coronel da vila. A ficção fantasiosa do livro traz um paralelo com a realidade histórica de exploração e opressão dos povos da América Latina.
Curiosidades
- Comunista histórico, Márquez esteve presente nas comemorações dos 40 anos da revolução cubana, junto com o escritor português José Saramago;
- Foi amigo do escritor peruano Mario Vargas Llosa, mas a amizade terminou em briga e agressão física por parte de Vargas Llosa;
- Antes de se tornar famoso como escritor, ele cultivou uma longa carreira no jornalismo, que durou de 1947 a 1980;
- Sua vivência como jornalista foi muito importante na elaboração de dois de seus livros: “Relato de Um Náufrago” e “Notícias de Um Sequestro”, baseados em fatos reais;
- Quando escreveu “Cem Anos de Solidão”, Gabo vivia no México. Para poder enviar, pelo Correio, os originais do livro para uma editora na Argentina, que publicaria o livro, sua mulher Mercedes vendeu eletrodomésticos e penhorou o que tinha em casa para poder fazer a remessa do manuscrito. O resultado está registrado na história ….;
- “Cem Anos de Solidão” vendeu 8 mil exemplares nos primeiros 15 dias após o lançamento;
- O escritor foi um dos seis latino-americanos a receber o Prêmio Nobel de Literatura. Também foram premiados os autores Gabriela Mistral, em 1945; Miguel Ángel Asturias, em 1967; e Pablo Neruda, vencedor em 1971. Depois dele receberam o prêmio o mexicano Octavio Paz, em 1990; e o peruano Mario Vargas Llosa, em 2010.
- Outra paixão de Gabo foi o cinema. Ajudou Fidel Castro a criar, e presidiu, a Fundação do Novo Cinema Latino-americano (FNCL), em 1985.
Entre o real e o imaginário
Gabriel García Márquez foi um escritor singular. Nascido na Colômbia, vivenciou os dramas de um país latino envolvido em golpes de Estado, repressão, violência, corrupção e exploração brutal do ser humano. Contudo, abusou da fantasia para descrever essa realidade. Com seu realismo fantástico criou mundos imaginários que retratavam de forma clara a realidade de seu povo.
Por isso sua obra se tornou tão especial, fazendo de Gabriel García Márquez um dos maiores e mais vendidos autores do século passado. Com toda a justiça, pois seu senso crítico e sua capacidade imaginativa superaram todos os limites. É preciso ler um de seus livros para entender sua genialidade.
Por isso recomendo muito a leitura de Gabriel García Márquez. Opções, com certeza, não faltam, basta escolher um de seus livros e embarcar em uma fantástica aventura literária.
Se você já leu algum livro dele, deixa aqui o seu comentário. Se não leu, corra para ler!