Mais um mestre do romance policial
Vamos nós falar de mistério, de romance policial e, mais uma vez, nosso papo vai girar em torno de um grande escritor do gênero, que fez história no mundo da literatura e criou um personagem que se imortalizou nas histórias policiais.
O universo do romance policial é vasto e nos legou grandes obras e excelentes autores, vários consagrados mundialmente por seus livros e pelos personagens fantásticos que criaram, como Edgar Allan Poe, considerado o pai do gênero; Agatha Christie uma das escritoras mais vendidas da história da literatura; e Sir Arthur Conan Doyle, “pai” do imortalizado Sherlock Holmes.
O autor do qual vamos falar agora também fez muito sucesso, publicou centenas de livros, vendeu milhares de exemplares e nos apresentou um dos maiores detetives das histórias policiais, o Comissário Jules Maigret, personagem de 75 romances e 28 contos produzidos pelo ele.
Vamos nós falar de Georges Simenon, o escritor belga mais traduzido do mundo.
Origem
Georges Simenon nasceu em Liège, na Bélgica no dia 13 de fevereiro de 1903, filho mais velho de Desiré Joseph Hubert Simenon e Henriette Marie Elise Simenon. O registro de nascimento já foi a primeira aventura do pequeno Georges. Ele nasceu no dia 13, mas sua mãe, muito supersticiosa, convenceu o marido a declarar a data de nascimento do menino como sendo dia 12 de fevereiro. Então, para os registros oficiais e históricos Simenon nasceu em 12 de fevereiro de 1903.
Um garoto precoce Georges começou a aprender a ler aos três anos de idade, na escola Sainte Julienne. Em 1908 começa os estudos primários no Instituto St. André, onde seria um dos três melhores alunos ao longo dos seis anos em que lá estudou. Ainda muito jovem, aos oito anos, foi apresentado ao mundo literário por intermédio de autores russos como Fiódor Dostoiévski, Anton Tchecov e Aleksandr Pushkin. Além desses autores, Simenon vai se tornar apreciador de grandes mestres da literatura como Honoré de Balzac, Charles Dickens, Émile Zola, Ernest Hemingway, Herman Melville e Henri-Marie Beyle, escritor francês mais conhecido pelo pseudônimo de Stendhal.
Simenon completa o estudo colegial na escola Saint-Servais, mas, sendo de família simples passa a ser afetado pelo convívio com os colegas oriundos de famílias da classe alta, mostrando grande desilusão com as diferenças sociais. Em 1918, usa o pretexto da doença do pai para abandonar os estudos.
A arte de escrever
No ano de 1919, aos 16 anos, passa a trabalhar como repórter para o jornal La Gazette de Liège, onde, sob o pseudônimo de Georges Sim, escreve centenas de artigos. Nesse período demonstra interesse por inquéritos policiais e passa a acompanhar as conferências do criminalista francês Edmund Locard. Seus textos são muito apreciados e Georges passa a fazer a cobertura literária e artística para o jornal. Em 1921 publica seu primeiro romance, “Au Pont dês Arches”. Nessa mesma época escreve seu primeiro esquete humorístico, uma peça de curta duração, em geral de humor, produzida para teatro, cinema, rádio ou televisão. No total Simenon escreveria mais de 800 esquetes. Ele também mantinha contato com um grupo de artistas, “La Cague”, onde vai conhecer a estudante de Belas-Artes Regine Renchon, com quem vai se casar em 1923.
Após a morte de seu pai, ocorrida em 1921, Simenon vai para Paris com Regine.
Em Paris
Simenon e Regine começam a descobrir Paris, suas belezas e, também, as mazelas de uma grande e cosmopolita metrópole, descobrindo, nas pessoas comuns, inspiração para seus personagens. Ele começa a escrever de forma acelerada, publicando com diversos pseudônimos, ao longo da vida ele usaria mais de uma dezena de nomes em suas publicações, além do seu. Essa grande produção, aliada ao seu talento vai lhe assegurar um bom e rápido retorno financeiro. Em 1929 manda construir um barco e faz uma viagem por toda a França, por seus rios e canais. O casal vive no barco, o ‘Ostrogoth’, até 1931.
As viagens seriam uma constante para ele. Em 1932 vai para a África, Rússia e Turquia, conhecendo os lugares e aproveitando esses momentos para escrever reportagens. Entre 1934 e 1935 embarca para uma volta ao mundo de navio. Aproveita o tempo para produzir novas matérias jornalísticas.
Carreira Literária
A capacidade produtiva de Georges Simenon era imensa e ele escrevia de forma acelerada. Reza a lenda que ele produzia cerca de 80 páginas datilografadas por dia. Em 1931 é publicado seu livro “Pietr-le-Letton”, é a primeira obra que ele assina com seu verdadeiro nome e, também, o livro que apresenta ao mundo o Comissário Jules Maigret. Entre 1931 e 1972 Maigret estaria presente em 75 novelas escritas pelo autor e mais 28 contos. Tamanha era sua criatividade e velocidade para escrever que chegou a publicar, em média, quatro a cinco livros por ano.
Em 1945 muda-se para os Estados Unidos. No final da década de 1940 seu prestígio como escritor já é grande também nos EUA. Ele vai integrar a Academia Real de Língua e Literatura da Bélgica e é eleito presidente da mais prestigiada e importante associação de autores de romances policiais.
Sua produção literária foi gigantesca, foram mais de 400 romances e coleções, publicadas em 44 países, mais de 500 milhões de exemplares vendidos no mundo, 50 filmes e dezenas de episódios para a TV foram produzidos com base na sua obra. Figura entre os vinte autores mais traduzidos da história.
Vida Atribulada
Se sua carreira literária foi bem-sucedida, com uma produção extensa e de qualidade, sua vida pessoal foi muito complexa e atribulada, marcada pelas viagens, mudanças de país e por seus relacionamentos amorosos extraconjugais.
Ele nasceu na Bélgica, após a morte do pai foi para a França. Viveu também nos Estados Unidos, Canadá, voltou à França, até estabelecer residência definitiva em Lausanne, na Suíça, onde viveria até a sua morte. Viajou pela Europa, África, Rússia e Estados Unidos.
Simenon foi casado com Regine Renchon de 1923 a 1950 e teve um filho, Marc, nascido em 1939. Depois casou-se com Denyse Quimet, com quem viveu de 1950 a 1964 e teve três filhos: Jean (1949), Marie-Jo (1953) e Pierre (1959). Sua única filha, Marie-Jo, cometeria o suicídio em 1978, um duro golpe para o escritor.
Sua vida amorosa era conturbada, sem dúvida, e Simenon teve diversas amantes ao longo da vida. Sua última companheira foi Teresa Sburelin, que havia sido camareira de sua esposa Denyse. Em uma entrevista a Federico Fellini ele afirma que manteve relações com milhares de mulheres.
Georges Simenon faleceu no dia quatro de setembro de 1989, aos 86 anos, em sua casa, em Lausanne.
Comissário Maigret
A obra de Simenon é ampla, são mais de quatro centenas de livros publicados. Mas, não há como separar sua escrita de seu mais famoso personagem, o Comissário Jules Maigret, mesmo este estando presente em “apenas” 75 dos seus 450 livros e em 28 contos.
Seu Comissário da Polícia Judiciária Francesa vai se tornar tão famoso como os maiores detetives da ficção policial, como Sherlock Holmes, Hercule Poirot, Philip Marlowe e Auguste Dupin. Além dos livros, o personagem vai aparecer em diversos filmes adaptados para a televisão. Se os outros detetives usam seus grandes poderes de dedução para solucionar seus casos, a principal arma de Maigret é a intuição. É um policial que busca entender a forma de agir e pensar dos suspeitos. Maigret chegou a estudar medicina, o que também lhe ajuda na solução dos casos, mas abandona os estudos para trabalhar na polícia. Um investigador com características bem diferentes de seus “concorrentes literários”.
As características são diferenciadas, o que é compreensível, afinal cada autor quer criar seu personagem com personalidade própria e singular. Nesse caso não existem personagens melhores ou piores, apenas diferentes aos olhos do leitor. De qualquer forma, Maigret é mais um belo personagem das histórias policiais que carrega uma legião de fãs por todo o mundo até hoje.
Curiosidades
– Nasceu em uma sexta-feira 13. Sua mãe, supersticiosa, fez o pai declarar seu nascimento no dia 12;
– Foi um dos autores que mais usou pseudônimos, foram 27 diferentes no total;
– Na infância, pensou em ser padre;
– Depois de pesquisar e colher material para um novo livro, trancava-se no escritório e escrevia sem parar e com grande rapidez;
– Era considerado um dos mais genuínos romancistas da literatura francesa por André Gide, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1947;
– Viveu uma vida de ostentação por muitos anos, mas a última casa em que morou, em Lausanne, era simples para os seus padrões. No final da vida quis voltar às suas origens, de uma pessoa com padrão de vida modesto;
– Certa vez recebeu uma ligação do diretor e produtor cinematográfico Alfred Hitchcock mas não atendeu pois estava escrevendo um livro no momento. Sua secretária informou que ele não podia ser perturbado pois estava escrevendo um novo romance. A resposta de Hitchcock foi direta e sarcástica, “tudo bem, eu espero”.
Criativo e veloz
A capacidade produtiva de Georges Simenon e sua velocidade para escrever e estruturar suas histórias eram impressionantes. Chegou a escrever e publicar cinco livros em um único ano, o que demonstra toda sua capacidade literária. E, no seu caso, a quantidade nunca prejudicou a qualidade, tanto que criou um dos maiores personagens das histórias policiais, o Comissário Maigret.
Simenon conseguiu unir, como poucos, a capacidade de criar histórias com a velocidade para escrevê-las, por isso produziu uma obra tão extensa quanto boa. Não é à toa que é considerado um dos grandes escritores de romances policiais da literatura mundial. O que, para mim, é incontestável.
Você conhece a obra de Georges Simenon? Já acompanhou as investigações do Comissário Maigret? Então deixe aqui sua opinião sobre o autor e sua obra.