Jorge Amado

Olá, como vocês estão? Espero que estejam bem. Estou voltando para nosso encontro literário agora para falar de um dos mais importantes escritores da nossa história e de sua rica obra. Ele produziu algumas das grandes preciosidades da literatura brasileira e foi não só um dos grandes escritores brasileiros do século XX, como teve destacada participação no cenário político nacional, tendo sido, inclusive, eleito deputado federal mais votado por São Paulo e membro da Assembleia Nacional de Constituinte de 1945. Estou falando de Jorge Amado.

Foi um dos escritores brasileiros mais traduzidos em todos os tempos, seus livros já foram levados para mais de 80 países, traduzidos para os mais diversos idiomas. Sua rica obra foi amplamente adaptada para o teatro, cinema e televisão.

Entre seus principais livros podemos citar “Capitães da Areia”, “Dona Flor e seus Dois Maridos”, “Tenda dos Milagres”, “Tieta do Agreste”, “Gabriela, Cravo e Canela”, “A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água”, “Tereza Batista Cansada de Guerra”.

Jorge Amado é um dos autores brasileiros mais vendidos da história da nossa literatura. E com toda a justiça, pois produziu um trabalho de alta qualidade e elevou o nome do Brasil no cenário literário mundial.

O autor

Jorge Amado literatura o mais importante para mudar o mundo

Jorge Leal Amado de Faria nasceu no dia 10 de agosto de 1912, na Bahia, na cidade de Itabuna. Era o filho mais velho do fazendeiro João Amado de Faria e de Eulália Leal Amado.

Quando Jorge estava com um ano de idade a família se mudou para Ilhéus, onde ele passaria sua infância. Fez seus estudos em Salvador, no Colégio Antônio Vieira e no Ginásio Ipiranga.

Muito novo, por volta dos 14 anos começa a escrever para jornais da capital e tem contato com a vida literária de Salvador, sendo um dos fundadores da ‘Academia dos Rebeldes”, grupo de jovens que teve um papel decisivo na transformação da literatura baiana na primeira metade do século XX. Participaram dessa Academia, além de Jorge Amado, Pinheiro Viegas, João Cordeiro, Dias da Costa, Alves Ribeiro, Edison Carneiro, Sosígenes Costa, Valter da Silveira, Aydano do Couto Ferraz e Clóvis Amorim entre outros.

Em 1930 muda-se para o Rio de Janeiro. Sua vida literária se inicia no ano seguinte, aos 21 anos, com a publicação de seu primeiro romance, ‘O País do Carnaval’. Apesar da pouca idade, já no seu primeiro romance Jorge Amado faz um retrato crítico da imagem festiva pela qual o Brasil ficou conhecido. Nesse mesmo ano ingressa na Faculdade de Direito, de onde sairia bacharel em 1935.

o pais do carnaval

No ano de 1933 casou-se com Matilde Garcia Rosa, com quem teria uma filha, Lila. Data deste mesmo ano a publicação de seu segundo romance, ‘Cacau”.  Ainda na década de 1930 publicaria os livros ‘Suor’, 1934; ‘Jubiabá’, 1935; ‘Mar Morto’, 1936; ‘Capitães da Areia’, 1937 e ‘A Estrada do Mar’, 1938. Fica nítida a genialidade de Jorge Amado, que aos 26 anos, em 1938, já havia lançado nada menos do que sete livros. Alguns deles alcançariam grande sucesso e seriam consagrados na história literária brasileira.

No final da década de 30 Jorge Amado já era um escritor conhecido assim como era notória sua militância comunista. Em razão desse fato acabou sendo perseguido pelo Estado Novo e teve que se exilar em 1941 e 1942, quando viveu na Argentina e no Uruguai. Voltou ao Brasil e acabou preso pela Ditadura de Vargas, ficando dois meses detido no presídio da Ilha Grande, no Rio de Janeiro. Teve seus passos monitorados pelos órgãos de repressão do Governo até 1945, momento em que o Partido Comunista Brasileiro (PCB) volta à legalidade. Foi eleito membro da Assembleia Nacional Constituinte pelo PCB, em 1945, sendo o deputado federal mais votado por São Paulo. Foi de sua autoria a lei, ainda hoje em vigor, que assegura o direito à liberdade de culto religioso. No mesmo ano, já separado de Matilde, casa-se com Zélia Gattai, com quem viveria até o fim de sua vida.

Zelia gattai jorge amado casa rio vermelho escritor

Sua carreira política, no entanto, durou pouco. Em 1948 o Partido Comunista foi novamente declarado ilegal e seus membros perseguidos. Jorge Amado teve seu mandato cassado e voltou ao exílio. Nessa época nasceu seu filho João Jorge, já fruto do relacionamento com Zélia Gattai. Entre 1948 e 1950 vive em Paris. No ano de 1949 recebe, no exílio, a notícia da morte de sua filha Lila. Entre 1951 e 1952 viveu em Praga, hoje capital da República Tcheca, que na época era a capital da então Checoslováquia, onde nasce sua filha Paloma.

Ele retorna ao Brasil em 1952. Alguns anos depois, em 1956 desfilia-se do PCB em razão das denúncias Nikita Khruchev, Secretário do Partido Comunista Soviético, contra Josef Stalin, líder soviético morto em 1953.

Nessa época Jorge Amado já era um escritor famoso, vivendo do direito autoral de seus livros. Já tinha acrescentado à sua bibliografia obras como ‘O Cavaleiro da Esperança’, 1942 (uma biografia de Luís Carlos Prestes); ‘Terras do Sem-Fim’, 1943; ‘São Jorge dos Ilhéus’, 1944; ‘Bahia de Todos os Santos’, 1945; ‘Seara Vermelha’, 1946. 

Em 1954 lança a trilogia ‘Os Subterrâneos da Liberdade I – Os ásperos tempos’; ‘Os Subterrâneos da Liberdade II – Agonia da Noite’; e ‘Os Subterrâneos da Liberdade III – A Luz no Túnel’, em que narra os episódios ocorridos durante o Estado Novo, a perseguição ao Partido Comunista no Brasil e a resistência dos militantes.

No dia seis de abril de 1961 foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras, para ocupar a cadeira número 23, cujo patrono era José de Alencar e o fundador e primeiro ocupante foi Machado de Assis. Um detalhe interessante é que com a sua morte, em 2001, foi eleita para ocupar sua cadeira na ABL sua esposa, Zélia Gattai, que ocupou a mesma até 2008, ano de seu falecimento.

Escreveu ainda diversas obras que se tornaram clássicos da literatura como ‘Gabriela, Cravo e Canela’, 1958, ‘A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água’, 1961; ‘Dona Flor e Seus Dois Maridos, 1966; ‘Tenda dos Milagres’, 1969; ‘Teresa Batista Cansada de Guerra’, 1972; ‘Tieta do Agreste’, 1977; ‘Farda, Fardão, Camisola de Dormir’, 1979; e ‘Tocaia Grande’, 1984.

– Autor premiado

Jorge Amado foi um dos escritores brasileiros mais premiados, tanto no Brasil como no exterior, tendo recebido, entre outros, os prêmios:

No Brasil:

– Prêmio Nacional de Romance do Instituto Nacional do Livro (1959);

– Prêmio Graça Aranha (1959);

– Prêmio Paula Brito (1959);

– Prêmio Jabuti (1959 e 1970);

– Prêmio Luísa Cláudio de Sousa, do Pen Clube do Brasil (1959);

– Prêmio Carmen Dolores Barbosa (1959);

– Troféu Intelectual do Ano (1970);

– Prêmio Fernando Chinaglia, Rio de Janeiro (1982);

– Prêmio Nestlé de Literatura, São Paulo (1982);

– Prêmio Brasília de Literatura – Conjunto de Obras (1982);

– Prêmio Moinho Santista de Literatura (1984);

– Prêmio BNB de Literatura (1985).

No exterior:

– Prêmio Internacional Lênin (Moscou, 1951);

– Prêmio da Latinidade (Paris, 1971);

– Prêmio do Instituto Ítalo-Latino-Americano (Roma, 1976);

– Prêmio Risit d’Aur (Udine, Itália, 1984);

– Prêmio Moinho, Itália (1984);

– Prêmio Dimitrof de Literatura, Sofia – Bulgária (1986);

– Prêmio Pablo Neruda, Associação de Escritores Soviéticos, Moscou (1989);

– Prêmio Mundial Cino Del Duca, da Fundação Simone e Cino Del Duca (1990);

– Prêmio Camões (1995).

Recebeu, ainda, diversos títulos honoríficos, nacionais e estrangeiros, como o de Comendador da Ordem Andrés Bello, Venezuela (1977); Commandeur de l’Ordre des Arts et des Lettres (1979) e Commandeur de la Légion d’Honneur (1984), da França; Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia (1980) e do Ceará (1981); Doutor Honoris Causa pela Universidade Degli Studi de Bari, Itália (1980) e pela Universidade de Lumière, Lyon II, França (1987). Grão Mestre da Ordem do Rio Branco (1985) e Comendador da Ordem do Congresso Nacional, Brasília (1986).

– Obra Literária

A obra literária do autor é grandiosa e ampla, que inclui dezenas de romances, contos, memórias e literatura infantil. Ao longo da vida Jorge Amado produziu a seguinte bibliografia:

  • O país do Carnaval, 1931
  • Cacau, 1933
  • Suor, 1934
  • Jubiabá, 1935
  • Mar morto, 1936
  • Capitães de areia, 1937
  • A estrada do mar, 1938
  • ABC de Castro Alves, 1941
  • O Cavaleiro da Esperança, 1942
  • Terras do Sem-Fim, 1943
  • São Jorge dos Ilhéus, 1944
  • Bahia de Todos os Santos, 1945
  • Seara vermelha, 1946
  • O amor do soldado, 1947
  • O mundo da paz, 1951
  • Os subterrâneos da liberdade I, Os ásperos tempos, 1954
  • Os subterrâneos da liberdade II, Agonia da noite, 1954
  • Os subterrâneos da liberdade III, A luz no túnel, 1954
  • Gabriela, cravo e canela, 1958
  • A morte e a morte de Quincas Berro d’Água, 1961
  • Os velhos marinheiros ou o Capitão de longo curso, 1961
  • Os pastores da noite, 1964
  • Dona Flor e seus dois maridos, 1966
  • Tenda dos milagres, 1969
  • Teresa Batista cansada de guerra, 1972
  • O gato Malhado e a andorinha Sinhá, 1976
  • Tieta do Agreste, 1977
  • Farda, fardão, camisola de dormir, 1979
  • Do recente milagre dos pássaros, 1979
  • O menino grapiúna, 1982
  • A bola e o goleiro, 1984
  • Tocaia grande, 1984
  • O sumiço da santa, 1988
  • Navegação de cabotagem, 1992
  • A descoberta da América pelos turcos, 1994
  • O milagre dos pássaros, 1997
  • Hora da guerra, 2008
Jorge Amado escritor livros agreste suor quincas tenda dos milagres 1

Destaco aqui, três dos maiores sucessos do autor.

– Capitães da Areia 

O livro foi escrito em 1937 e retrata a vida de um grupo de crianças abandonadas, que crescem nas ruas da cidade de Salvador, vivendo em um trapiche, roubando para sobreviver. O grupo é chamado de “Capitães da Areia”. 

No romance Jorge Amado procura mostrar o lado cruel da vida de uma criança de rua. Mas mostra também as aspirações e os pensamentos ingênuos, comuns a qualquer jovem. Ele aponta o descaso social com os meninos de rua. Ao longo de toda a obra esse abandono é abordado, seja por meio da reflexão dos garotos ou dos adultos que estão a seu lado. Uma crítica não só à sociedade da época, mas naquilo que a sociedade brasileira viria a se transformar, principalmente nas grandes cidades. Um tema recorrente e bem atual.

– Dona Flor e seus Dois Maridos

É um delicioso romance que narra a vida de Dona Flor, primeiro ao lado de seu marido Vadinho, um irresponsável jogador, boêmio e beberão, que explora Flor para poder manter seu vício na jogatina. Vadinho morre subitamente, durante o carnaval e Flor se torna uma viúva inconsolável, que ganha a vida dando aulas de culinária. Após um tempo, ela passa a ser cortejada por Teodoro, um farmacêutico religioso e conservador. Eles acabam se casando, mas Teodoro está longe de ser um amante como Vadinho foi. Depois de um tempo, o espírito de Vadinho retorna e passa a atormentar a vida de Flor, que é a única que consegue ver o falecido. E Flor passa a viver o dilema de se manter fiel ao pacato Teodoro ou se entregar ao espírito do irreverente e debochado primeiro marido. Uma história fascinante.

– A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água

Nessa irreverente história Jorge Amado narra a vida de Joaquim Soares da Cunha, cidadão pacato, funcionário público, casado e pai de família. Ele levava uma vida tranquila até que um dia abandona a família e se entrega ao mundo e ao vício da bebida. Ganha o apelido quando vai beber uma cachaça, mas que, na verdade, não passa de um copo de água. Ao beber Quincas se assusta e berra “Ááááááguuuua!”. As pessoas, em um primeiro momento assustam-se, mas depois caem na gargalhada e passam a chamá-lo de Quincas Berro d’Água.

Quincas morre e, em seu velório, seus amigos de bebedeira consideram que ele está vivo e sorrindo e arrastam seu corpo para uma noite de farra. Eles cruzam a cidade e resolvem passear no mar, mas uma tempestade repentina lança uma grande onda sobre o barco, fazendo com que Quincas caia no mar e tenha a sua segunda morte.

Jorge Amado faleceu em Salvador, no dia 6 de agosto de 2001. Foi cremado, conforme seu desejo e, no dia do seu aniversário, 10 de agosto, quando completaria 89 anos, suas cinzas foram enterradas no jardim de sua casa.

Curiosidades sobre o autor

– É um dos escritores brasileiros mais traduzidos e conhecidos no exterior, perde apenas para Paulo Coelho. 

– Formou-se advogado, mas nunca exerceu a profissão.

– Foi preso durante o Estado Novo, no governo Getúlio Vargas, acusado de participar de uma revolta comunista contra o presidente. Dividiu cela com Caio Prado Jr.

– Para escrever Tieta do Agreste passou um ano trancado em uma casa, em Londres.

– Colecionava sapos e espalhava-os pela casa. 

– No exílio quando viveu em Paris, fez amizade com figuras ilustres como Jean-Paul Sartre, Picasso e outros escritores e artistas.

– Quando tinha 12 anos, fugiu do internato para percorrer o sertão baiano, viajou de Ilhéus até Itaporanga, em Sergipe, onde morava seu avô paterno.

– Jorge Amado aprendeu a ler com a mãe que o alfabetizou com jornais.

– O romance Jubiabá foi elogiado pelo escritor argelino Albert Camus em artigo de 1939.

– O livro Mar morto serviu de inspiração para Dorival Caymmi compor a música “É doce morrer no mar”.

Salve Jorge!

Salve Jorge Amado um dos maiores escritores romancista do seculo xx

E salve Jorge mesmo, pois ele também era praticante da Umbanda e do Candomblé, amigo de Mãe Menininha do Gantois.

Falar de Jorge Amado é falar do Brasil e de suas várias identidades, da sua rica cultura. Ele soube retratar o país de uma forma extraordinária, em toda sua beleza, sua ingenuidade, sua maldade, sua violência. Pontuando qualidades e defeitos mostrou um Brasil real, que muitos preferem esquecer. Com um talento incomparável ele tratou dos temas mais variados, sempre tendo uma fantástica pitada de humor para suavizar os assuntos mais polêmicos e difíceis. 

Com a mesma maestria tratou de meninos de rua, de adultério, de prostituição, violência, do coronelismo, dos porões de uma ditadura, das questões raciais. Enfim, ele nos provoca com os mais variados assuntos, levando a profundas reflexões de onde viemos e como chegamos até aqui.

Lembrando que Jorge Amado escreveu a maior parte da sua obra entre 1930 e 1980, quando os mais diversos tipos de preconceito eram muito mais fortes no Brasil. Mesmo durante esse período enfrentou o conservadorismo para falar do Brasil e de seu povo. E isso sem nunca esquecer sua Bahia, que está presente em grande parte da sua obra.

Sua produção literária é tão grandiosa que fica difícil apontar um único livro como o melhor, o mais destacado. Se tivesse que escolher um ficaria com ‘Capitães da Areia’, uma obra escrita na década de 1930, mas que permanece atual em todo o nosso país, pois trata do abandono de crianças e adolescentes. A realidade descrita por ele com maestria, em 1937, só fez piorar nesses 84 anos que separam sua publicação dos dias atuais.

É sem dúvida um autor que merece ser reverenciado por todos pela qualidade da sua obra. Um escritor que já nasceu predestinado desde o berço, desde o batismo, pois além de Jorge, era Amado.

Compartilhe este post nas suas redes:

Deixe um comentário

Quem leu este post também gostou:

Escritor Carlos Carvalho

Carlos Carvalho

Sou escritor, amante de literatura e apaixonado pelos mistérios criados por Agatha Christie. Escrevo contos, poesias e romances. Sendo o Romance Policial meu gênero literário preferido. Sou formado em Jornalismo e pós-graduado em Assessoria de Imprensa e Comunicação Empresarial.

Mais Lídos

Categorias

Meus Livros

Conheça todas as minhas obras.

Newsletter

Se você gostou desse espaço e quer receber com exclusividade as novidades que vão pintar por aqui, faça o seu cadastro!

Convidados

Se você quer participar desta viagem cultural e publicar seu texto aqui no meu site, clique no botão abaixo, preencha corretamente os seus dados e aguarde o contato!