Quando a arte transforma e ressignifica a vida. Essa é uma afirmação interessante, que reflete de uma forma muito autêntica e significativa o poder que a arte e a cultura podem exercer na vida de uma pessoa. A arte é o melhor remédio para várias questões que enfrentamos em nossas vidas.
Essa realidade foi vivenciada pela jovem Letícia Silva de Abreu que, em meio às dificuldades encontrou na cultura, particularmente na escrita e no teatro, seu caminho e seu porto seguro.
Nascida e criada em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, Letícia conheceu a literatura por volta dos 14 anos. Em 2014, por incentivo de uma amiga iniciou o hábito da leitura, do qual nunca mais se afastou. “Quando comecei a me interessar por leitura foi pelo incentivo de uma amiga que me emprestava muitos livros e eu encontrava muito prazer nessas leituras. Passei a ler constantemente e hoje tenho muitos livros, sempre me interessei por assuntos diversos, pois sou muito curiosa.”, explica ela.
Ler, mais do que uma rotina, virou um grande prazer.
Em 2015, com 15 anos, buscou outra paixão, o teatro, quando criou sua primeira personagem. E foi justamente numa aula de teatro, e, 2019 que, incentivada por sua professora Tulanih, iniciou sua relação com a escrita. “Foi após uma aula de teatro, a primeira aula do ano e só eu compareci, fizemos vários exercícios e ela disse que eu era muito boa na fala, incentivando-me a começar a escrever. Então, comecei a colocar no papel tudo o que sentia. Depois que o sentimento passou, resolvi reler tudo que escrevi e comecei a achar interessante, por um tempo senti muita vergonha de compartilhar, aos poucos fui dividindo com umas amigas e percebi que elas gostavam de verdade, logo, outras pessoas também poderiam se identificar.”, descreve Letícia.
A partir daí, a escrita passou a ser uma fiel companheira, uma verdadeira confidente, como ela mesmo define. “A escrita se tornou uma válvula de escape no início, pois passei por uma fase bem complicada, com problemas em casa e na faculdade, tive muitas crises e o psicológico ficou extremamente abalado na época, sentia-me no fundo do poço e tenho vários textos em que relato todas as minhas questões”, afirma Letícia.
Felizmente ela resolveu a maior parte dos problemas, as dificuldades foram vencidas e a estabilidade emocional é mais consistente.
A escrita, contudo, ficou e de forma permanente. “Continuo escrevendo para me organizar, organizar todos os meus sentimentos que, para mim, nem sempre são tão claros ou discorrem sobre alguma reflexão que tive, sou uma pessoa que pensa muito e muito alto, a ponto de me perder em mim mesma.”
As ideias vêm a qualquer momento, em qualquer lugar, então é hora de parar e escrever, pois nessa hora a escrita flui, num verdadeiro monólogo. “Tudo o que escrevo é pessoal, tudo está dentro de mim, independente da forma que resolvo expressar, apelo muito para o sentimento e para a minha vivência.”, define ela. Confira um dos escritos de Letícia.
Amor
Eu penso que o amor não é guerreiro,
Ele é sobrecarregado.
Tudo é amor,
Aguentar,
Concertar,
Solucionar,
Sustentar.
Tudo é amor e, ao mesmo tempo, ninguém sabe
explicar ou definir.
Será que o amor é como Deus?
Uma coisa que a gente criou, porque não tinha
resposta…
Não sei o porquê eu me movo,
Nem o porquê estou aqui ainda,
Será que de fato é amor o nome?
Ela alimenta dois grandes sonhos: escrever peças teatrais e publicar um livro com seus escritos. “Faz um tempo que tento começar a escrever peças teatrais, mas não consigo me planejar no contexto, mas são projetos que quero dar continuidade.
Tudo o que escrevo é pessoal, tudo está dentro de mim, independente da forma que resolvo expressar, apelo muito para o sentimento, para a vivência e temas que ainda precisam ser descobertos. Um dos meus objetivos é conseguir publicar um livro com todos os meus textos escritos.”, resume ela.
Uma curiosidade é que ela ama arte e tudo que se pode produzir dela, sua paixão é o teatro e ela está focada em aprender cada vez mais, “já fiz peças teatrais e um curta metragem. A ideia da escrita surgiu em uma aula de teatro e como um dos âmbitos da arte que pude me expressar e passar informação. A minha mente trabalha tanto que sinto como se ela fosse explodir, tenho milhares de ideias, me inspiro na pessoa que quero ser, sinto que a arte faz parte de mim e ainda tenho muita coisa para criar.”
Uma bela história de uma jovem talentosa que acalenta seus sonhos e luta diariamente para torná-los realidade, como tantos brasileiros que enfrentam “um leão por dia” para mostrar sua capacidade e seu valor. Ela é mais uma nesse fila, buscando seu lugar ao sol para poder compartilhar suas histórias com todos.
Ficamos na torcida para que os sonhos de Letícia se concretizem o mais rápido possível e que ela possa publicar seus livros e escrever e encenar suas próprias peças teatrais, pois entre o sonho e a realidade sempre haverá a escrita para todos aqueles que acreditam no sonho de viver de sua própria arte.
Para fechar, deixo aqui mais um texto de Letícia.
De volta
Eu achava que depois que você aprende, para de
sentir, só que é justamente o contrário. A dor se
torna uma conhecida, ela passa por você, você
cumprimenta ela e passa por tudo de novo. A dor não
se torna sua amiga, ela só é necessária, você
conhece ela, mas não é alguém que quer levar pra
vida toda. Nós soltamos nossas mãos quando é a
hora de conhecer outra dor e voltamos para a antiga
quando nos deparamos com os mesmos fatos.
Quando ela aparece pela primeira vez é tão doloroso,
como se o nosso mundo fosse viver em torno dela,
como se mais nada fosse fazer sentido por estar
sentindo aquela dor. E, quando a vida volta a ter cor e
a saída não estiver tão longe dos nossos olhos, a
gente segue. Passar tudo novamente com a
tranquilidade de em algum momento saber que
estará de volta. Eu vou, mas eu volto para mim. Eu
sempre volto e se algum dia não puder mais voltar,
não me deixe, não me deixe nunca. Não quer dizer
que não choro. Não quer dizer que não estou triste,
mas já conheço isso, já vivi essa dor e ela nunca
manda mensagem quando vem. Ela aparece como se
fosse desejada ou para me testar, dizendo que nunca
viverei sem ela.
Se você quer conhecer e apreciar os textos da Letícia é só dar uma conferida no perfil dela lá no Instagram, @livro.do.caos. Vale a pena prestigiar os autores nacionais.