Vamos falar de poesia e de mais um mestre na arte de criar versos unindo diversos elementos da nossa língua e da nossa cultura. Utilizando essa qualidade literária, mesclando com o regionalismo e um pouco de existencialismo, esse escritor se tornou um dos nossos principais poetas contemporâneos. Hora de conhecer a vida e a obra de Manoel de Barros
Infância e estudos
Nosso poeta Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu na cidade de Cuiabá, Mato Grosso, no dia 19 de dezembro de 1916, filho do casal João Venceslau Barros e Alice Pompeu Leite de Barros.
Quando ele estava com um ano de idade a família foi morar em uma fazenda, em Corumbá, onde ele vai passar parte da infância. Ainda criança Manoel de Barros foi para Campo Grande estudar em um colégio interno.
O poeta iria completar seus estudos no Rio de Janeiro, onde cursaria a cadeira de direito, formando-se em 1941. Na então capital da República ele entra para a União da Juventude Comunista e filia-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Após um período ele rompe com o partido por conta do apoio do líder Luís Carlos Prestes ao presidente Getúlio Vargas, após este ter entregado a esposa de Prestes, Olga Benário, à Alemanha nazista de Hitler, onde ela morreria.
Após colar grau, ele viaja para a Bolívia e o Peru. Depois vai a Nova Iorque. Nos Estados Unidos faz curso de artes plásticas e cinema.
Nessa época já havia escrito suas primeiras poesias. Seu primeiro livro foi publicado em 1937.
Produção Literária
O primeiro livro de Manoel de Barros, publicado em 1937, foi confeccionado de forma artesanal, com o apoio de amigos, com uma tiragem de 21 exemplares, sendo que um ficou com o próprio autor.
Sua linguagem era simples e coloquial e o poeta escrevia sobre as coisas do cotidiano e a natureza, mantendo um viés regionalista.
Apesar de ter publicado alguns livros entre 1937 e o início dos anos de 1980, sua carreira começa efetivamente a ser valorizada a partir dessa época, quando seu trabalho é descoberto e muito elogiado por Millôr Fernandes.
Sua obra somou mais de 30 livros publicados ao longo da vida. Um legado indiscutível para a poesia brasileira. Confira a obra de Manoel de Barros.
– Poemas concebidos sem Pecado – 1937
– Face imóvel – 1942
– Poesias – 1956
– Compêndio para uso dos pássaros – 1960
– Gramática expositiva do chão – 1966
– Matéria de poesia – 1974
– Arranjos para assobio – 1980
– Livro de pré-coisas – 1985
– O guardador de águas – 1989
– Gramática expositiva do chão: Poesia quase toda – 1990
– Concerto a céu aberto para solos de aves – 1993
– O livro das ignorãças – 1993
– Livro sobre nada – 1996
– Das Buch der Unwissenheiten – Edição da revista alemã Akzente – 1996
– Retrato do artista quando coisa – 1998
– Ensaios fotográficos – 2000
– Exercícios de ser criança – 2000
– Encantador de palavras – Edição portuguesa – 2000
– O fazedor de amanhecer – 2001
– Tratado geral das grandezas do ínfimo – 2001
– Águas – 2001
– Para encontrar o azul eu uso pássaros – 2003
– Cantigas para um passarinho à toa – 2003
– Les paroles sans limite – Edição francesa – 2003
– Todo lo que no invento es falso – Antologia na Espanha – 2003
– Poemas Rupestres – 2004
– Riba del dessemblat. Antologia poètica — Edição catalã – 2005
– Memórias inventadas I – 2005
– Memórias inventadas II – 2006
– Memórias inventadas III – 2007
– Menino do Mato – 2010
– Poesia Completa – 2010
– Escritos em verbal de ave – 2011
– Portas de Pedro Viana – 2013
Prêmios
Diante de uma obra extensa e rica em qualidade, Manoel de Barros acumulou diversos prêmios literários, como:
– Prêmio Orlando Dantas – livro “Compêndio para uso dos pássaros” – 1960
– Prêmio Nacional de poesias – livro “Gramática expositiva do chão” – 1966
– Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal – livro “Gramática expositiva do chão” – 1969
– Prêmio Jabuti de Literatura, na categoria Poesia – livro “O guardador de águas” – 1989
– Prêmio Jacaré de Prata da Secretaria de Cultura de Mato Grosso do Sul como melhor escritor do ano – 1990
– Prêmio Alfonso Guimarães da Biblioteca Nacional – livro “Livro das ignorãnças” – 1996
– Prêmio Nestlé de Poesia – livro “Livro sobre nada” – 1997
– Prêmio Nacional de Literatura do Ministério da Cultura – conjunto da obra – 1998
– Prêmio Odilo Costa Filho – Fundação do Livro Infanto Juvenil – livro “Exercício de ser criança” – 2000
– Prêmio Academia Brasileira de Letras – livro “Exercício de ser criança” – 2000
– Prêmio Jabuti de Literatura, na categoria livro de ficção – livro “O fazedor de amanhecer” – 2002
– Prêmio APCA 2004 de melhor poesia – livro “Poemas rupestres” – 2005
– Prêmio Nestlé de Literatura Brasileira – livro “Poemas rupestres” – 2006
Vida Pessoal
Se a vida literária de Manoel de Barros foi um grande sucesso, em sua vida pessoal o poeta enfrentou alguns duros golpes. Ele casou-se em 1947 com Stella Barros e viveu com ela por 64 anos, até a sua morte. O casal teve três filhos, Pedro, João e Marta.
Manoel e Stella perderam seus dois filhos homens, João morreu em 2008, em um acidente aéreo. Pedro faleceu em 2013, vítima de um Acidente Vascular Cerebral.
O poeta viria a falecer em 13 de novembro de 2014, de falência múltipla dos órgãos, após passar por uma cirurgia de desobstrução do intestino.
Frases
“O esplendor da manhã não se abre com faca.”
“Um rio que flui entre dois jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre dois lagartos.”
“Poesia é quando a tarde está competente para dálias.”
“As coisas que não têm nome são mais pronunciadas por crianças.”
“No descomeço era o verbo.”
“O verbo tem que pegar delírio.”
“Não tem altura o silêncio das pedras.”
“Quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas – é de poesia que estão falando.”
“Quem anda no trilho é trem de ferro. Sou água que corre entre pedras – liberdade caça jeito.”
“Cristo foi um dos grandes poetas do mundo – tanto que já passaram 20 séculos por cima de suas palavras e elas são vivas e reviçadas todos os dias.”
“Passava os dias ali, quieto, no meio das coisas miúdas. E me encantei.”
“Sou livre para o silêncio das formas e das cores.”
“Natureza é uma força que inunda como os desertos.”
“Tentei descobrir na alma alguma coisa mais profunda do que não saber nada sobre as coisas profundas. Consegui não descobrir.”
“Que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.”
Um poeta simples e brilhante
O Brasil é um país cuja história literária é marcada por grandes escritores e escritoras, em especial de grandes poetas e poetisas. Manoel de Barros faz parte desse precioso time de grandes estrelas que sempre encantaram leitores com a genialidade de sua escrita.
Com sua poesia ele mostrou que é possível produzir uma obra simples e, ao mesmo tempo, genial. Segue, abaixo, um exemplo de sua maestria.
Os girassóis de Van Gogh
Hoje eu vi
Soldados cantando por estradas de sangue
Frescura de manhãs em olhos de crianças
Mulheres mastigando as esperanças mortas
Hoje eu vi homens ao crepúsculo
Recebendo o amor no peito.
Hoje eu vi homens recebendo a guerra
Recebendo o pranto como balas no peito.
E, como a dor me abaixasse a cabeça,
Eu vi os girassóis ardentes de Van Gogh.
Viva a poesia do genial Manoel de Barros!
