Luiz Alfredo Garcia-Roza e o romance policial brasileiro

Voltamos a falar de romance policial e vamos aproveitar para falar de um autor brasileiro, de sua obra, especialmente nesse momento em que um de seus livros foi adaptado para o cinema e acaba de estrear no circuito nacional. Sua terceira obra estreou nas telonas, o que já é um forte indício de que o que ele escreve é muito bom.

E, para falar de romance policial brasileiro nas últimas três décadas, precisamos obrigatoriamente falar desse autor, que infelizmente faleceu em 2020, mas nos deixou um legado de mais de uma dezena de romances publicados e eternizou uma das mais fortes personagens da literatura policial brasileira, o detetive Espinosa. Estou falando de Luiz Alfredo Garcia-Roza.

Luiz Alfredo Garcia-Roza

Conheça a Trajetória de Luiz Alfredo Garcia-Roza

Nascido no Rio de Janeiro, em 16 de setembro de 1936, Luiz Alfredo Garcia-Roza era de uma família com 12 irmãos. Um carioca que viveu parte da infância e da adolescência em Vitória, no Espírito Santo, retornando ao Rio aos 18 anos.

Formou-se em filosofia e psicologia e foi professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) por muitos anos. Além dos romances, Garcia-Roza publicou oito livros sobre psicanálise. Além disso, coordenou um programa de pós-graduação em teoria da psicanálise. Essa base de conhecimento em psicologia e psicanálise deve ter sido muito útil na sua carreira de romancista.

Luiz Alfredo Garcia-Roza sempre gostou muito de ler e, quando era garoto, não havia muitas bibliotecas no Rio de Janeiro, como ele mesmo explicou em entrevista. Então, ele frequentava a biblioteca da Embaixada Americana, mas como a maioria das edições disponíveis era em inglês, língua que ele não falava na época, pouco pode aproveitar. A solução foi adquirir os livros. Juntando o dinheiro da mesada que o pai lhe dava, ele começou a montar a sua própria biblioteca. Ao longo dos anos acabou colecionando uma enorme quantidade de livros. Seu acervo pessoal chegou a somar perto de 10 mil livros. 

Suas primeiras leituras mais organizadas foram com os livros de Júlio Verne. Depois teve contato com os livros policiais, quando descobriu Sherlock Holmes. Na sequência conheceu os romances de Dashiell Hammett e Raymond Chandler. Isso sem deixar de apreciar os clássicos, como Dostoiévski, que começou a ler aos 14 anos.

Ele foi casado com Livia Garcia-Roza, que também é psicanalista e escritora. Luiz Alfredo Garcia-Roza faleceu no dia 16 de abril de 2020 por complicações oriundas de um acidente vascular cerebral.

Romances Policiais

Se ao longo da vida acadêmica escreveu livros e artigos, sua estreia no romance policial se deu apenas em 1996, quando completava 60 anos. Seu livro de estreia foi “O Silêncio da Chuva”, uma bela obra de suspense que lhe renderia os Prêmios Nestlé de literatura, em 1996, e Jabuti, em 1997, na categoria romance. Uma bela estreia.

Suas histórias se passam, basicamente, na cidade do Rio de Janeiro, em Copacabana e no Bairro Peixoto, onde reside a personagem central da maioria de suas histórias, o incorruptível delegado Espinosa. A galeria de personagens conta ainda com o jovem investigador Welber, braço-direito de Espinosa, tão honesto quanto o chefe. O único romance do autor em que o delegado não aparece é Berenice Procura, de 2005.

Os romances policiais escritos por Luiz Alfredo Garcia-Roza foram:

Todas as obras de Luiz Alfredo Garcia-Roza
  • O Silêncio da Chuva – 1996
  • Achados e Perdidos – 1998
  • Vento Sudoeste – 1999
  • Uma Janela em Copacabana – 2001
  • Perseguido – 2004
  • Berenice procura – 2005
  • Espinosa sem saída – 2006
  • Na multidão – 2007
  • Céu de origamis – 2009
  • Fantasma – 2012
  • Um lugar perigoso – 2014
  • A última mulher – 2019

Na telona 

Dos romances policiais escritos por Luiz Alfredo Garcia-Roza, três foram adaptados para o cinema. Em 2006 José Joffily dirigiu “Achados e Perdidos”, com Antônio Fagundes, Zezé Polessa e Juliana Knust. O filme ganhou o Prêmio ABL de Cinema de melhor roteiro adaptado em 2007.

Em Copacabana, numa sexta-feira à noite, um menino de rua acha uma carteira perdida e, nessa mesma noite, uma prostituta é encontrada morta em seu apartamento, asfixiada. Começa a investigação da morte e a suspeita recai sobre um elemento que une os dois casos, o delegado aposentado Vieira, dono da carteira e namorado de Magali, a prostituta morta. Esse é um dos romances do autor com a presença de Espinosa mas, curiosamente, a versão cinematográfica não contou com a presença do policial.

Em 2018 foi lançado “Berenice Procura”, com a direção de Allan Fiterman e estrelado por Cláudia Abreu, Eduardo Moscovis e Vera Holtz.

A história começa quando um menino de dois anos, filho de um diplomata, brinca com uma pá nas areias de Copacabana, observado por sua babá. Ele se entretém cavando e recolhendo objetos. Durante a brincadeira a criança esbarra em um corpo enterrado, de um travesti.

Desta vez não será Espinosa que irá caçar o culpado, mas a taxista Berenice. Cansada do vai e vem de passageiros e de suas histórias, ela resolve investigar, por conta própria, o caso, contando com as informações de seu ex-marido, um jornalista freelancer que colabora com vários jornais.

O Silêncio da Chuva

Novo filme baseado no Livro de Luiz Alfredo Garcia-Roza

O terceiro livro de Luiz Alfredo Garcia-Roza a parar no cinema foi “O Silêncio da Chuva”, que acaba de entrar em cartaz, estreou no último dia 23 de setembro, com a direção de Daniel Filho e protagonizado por Lázaro Ramos, Cláudia Abreu e Mayana Neiva.

A história envolve a morte do empresário Ricardo Carvalho, encontrado com um tiro na cabeça em seu carro, que estava em um edifício-garagem no centro do Rio de Janeiro. O Inspetor Espinosa começa a investigar o assassinato, uma trama misteriosa, sórdida e inacreditável. O enredo envolve a viúva do empresário, Bia Vasconcelos, uma requisitada designer de moda e arte, que acaba se envolvendo com Júlio de Azevedo, um professor universitário, que, por outro lado, possui uma ligação muito próxima com Alba Antunes sócia de uma academia em Ipanema. Essas relações, aparentemente normais, acabam tecendo a teia da trama.

O caso fica ainda mais complicado quando Rose, secretária do falecido Ricardo Carvalho, desaparece, momentos depois de marcar um encontro urgente com Bia, dizendo-lhe que teria importantes revelações para fazer à viúva. 

Confesso que ainda não pude assistir ao filme, estou ansioso para fazê-lo, mas em tempos de pandemia é melhor ser prudente. Mas, com certeza, assistirei assim que for possível. Tomando como base o livro, que li e recomendo muito, o filme tem tudo para ser uma bela obra cinematográfica. 

Aproveite para assistir ao Trailer do Filme:

Trailer do novo Filme – No Silêncio da Chuva baseado no livro de Luiz Alfredo Garcia

Cabe apenas uma ressalva aqui, o fato desses três livros citados acima terem ganho uma versão cinematográfica não faz deles melhores do que os outros, pelo menos na minha opinião. Para mim a produção de Luiz Alfredo é muito uniforme, ou seja, todos os seus livros possuem uma grande qualidade literária, sendo difícil eleger o melhor deles. Mas, com certeza, a escolha desses três para ganharem versões cinematográficas é mais do que merecida.

Detetive Espinosa

Não é possível falar da produção literária de Luiz Alfredo sem mencionar seu personagem mais marcante, o Delegado Espinosa. O policial, na definição do próprio autor, é uma pessoa comum, que poderia ser o seu vizinho ou qualquer outra pessoa, pois está bem longe do protótipo do policial herói.

Se não é um herói, por outro lado, Espinosa encarna o policial honesto, incorruptível, daqueles que todos sonham em encontrar quando entram em uma delegacia policial, além de ser competente em sua profissão. Um homem da lei que gosta de ler e é pacato, divorciado, que pouco sai e quase não se diverte. Um inspetor que acabou sendo promovido a delegado. O famoso “cara do bem”.

Legado

Luiz Alfredo produziu uma grande obra literária, seja como autor de romances policiais, seja como autor de estudos sobre a psicanálise.

Mas, no caso dos romances policiais, na minha opinião, ele se notabilizou como o grande autor brasileiro do gênero nas últimas décadas, deixando um belo acervo do gênero que mercê a leitura dos fãs do suspense. Com certeza ele serviu e serve de referência para muitos escritores, pois sua obra é inspiradora. Ele soube trazer suspense, emoção e surpresa para os leitores. Seus livros são do tipo que o leitor quer passar logo as páginas e chegar ao final para saber o que aconteceu.

Suas histórias são muito bem elaboradas e surpreendentes.

Com certeza valem muito a leitura.

Pode confiar e conferir!

https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Pagina/Um-Escritor-na-Biblioteca-Luiz-Alfredo-Garcia-Roza

https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/04/16/morre-no-rio-o-escritor-luiz-alfredo-garcia-roza-aos-84-anos.ghtml

https://pt.wikipedia.org/wiki/Luiz_Alfredo_Garcia-Roza

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Escritor Carlos Carvalho

Carlos Carvalho

Sou escritor, amante de literatura e apaixonado pelos mistérios criados por Agatha Christie. Escrevo contos, poesias e romances. Sendo o Romance Policial meu gênero literário preferido. Sou formado em Jornalismo e pós-graduado em Assessoria de Imprensa e Comunicação Empresarial.

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