Estou chegando para deixar mais uma dica de leitura para vocês. Dicas literárias são sempre bem-vindas, mas, confesso que algumas têm um gosto especial, pois vencem o tempo e guardam uma relação afetiva com você. É o caso dessa dica que trago hoje.
Esse livro eu li quando estava na escola, no sexto ano do antigo ginásio, em 1978. Achei uma história sensacional, uma mensagem muito especial sobre o mundo e o pensamento das crianças e como elas são especiais em sua maneira de encarar a vida. Foi uma leitura fácil e muito prazerosa e o resultado é que até hoje tenho o livro guardado comigo, criei uma relação afetiva com ele. Alguns anos depois minha irmã mais nova também leu para a escola.
Agora, passados mais de 40 anos, tenho um filho de sete anos e, esse ano, resolvi ler esse livro para ele. Na medida que lia, ia explicando o que ele não entendia e observava a reação dele à narrativa da história. Foi uma experiência muito especial ver a forma como ele encarava a leitura, pois ele chegou a ler alguns trechos. Eu recomendo essa experiência para os papais e as mamães, afinal é um livro que descreve bem a pureza das crianças e o que elas representam para o mundo.
O livro é “O Menino do Dedo Verde”, escrito por Maurice Druon em 1957.
Quem é Tistu?
O livro narra a história do menino Tistu, que vive na cidade de Mirapólvora com seus pais, que são donos de uma fábrica de canhões. Seu pai é um dos homens mais ricos e respeitados da cidade, pois sua empresa fabrica canhões de todos os calibres. A fábrica do Senhor Papai, como é chamado, é a mais importante de cidade e a faz conhecida em toda parte. A influência da fábrica era tão grande que chega ao nome da cidade, Mirapólvora.
Eles vivem na Casa-que-Brilha, a mais bonita da cidade e Tistu era uma criança feliz. O Senhor Papai e Dona Mamãe criam o menino pensando no futuro, quando ele crescerá para assumir a fábrica e os negócios de seu pai.
Tistu, como toda criança, foi mandado para a escola. Mas o menino teve muitas dificuldades para se integrar e acabou sendo expulso do colégio. Diante do problema de adaptação de Tistu, o Senhor Papai resolveu diferenciar na educação do filho, fazendo com que ele aprendesse as coisas de uma forma bem diferente, vivenciando-as diretamente. O pai estabeleceu que o menino teria aulas com o jardineiro Bigode e com o gerente da fábrica de canhões, o Senhor Trovões.
Com Bigode o menino tem lições sobre jardins, sobre terra que é onde caminhamos e onde se plantam os legumes que as pessoas comem e de onde vem o capim que alimenta e engorda os animais, que um dia serão o nosso alimento. Bigode era um senhor mal-humorado e de pouca conversa, dono de um vasto bigode e um jardineiro muito competente. Tistu gostava do homem, apesar de ter um pouco de medo dele. Nas aulas Bigode ensinava o garoto a plantar, enchendo os vasos com terra e enfiando o polegar no meio para fazer um buraco, onde seriam colocadas as sementes.
As aulas com o Senhor Trovões eram bem diferentes. O homem era o braço direito do Senhor Papai na fábrica de canhões e possuía um temperamento explosivo. O objetivo era que o menino tivesse aulas de ordem. Senhor Trovões iria explicar a Tistu porque era importante manter a ordem na cidade e o que acontecia com aqueles que a desobedeciam, iam parar na cadeia como forma de castigo. Nessas aulas ele conhece um pouco do lado triste do mundo: a miséria, a prisão, o hospital. Ele também vai à fábrica do Senhor Papai e fica muito triste ao entender o mal e o sofrimento que os canhões podem causar.
Em casa Tistu tinha um grande amigo, o pônei Ginástico, seu fiel companheiro.
Durante uma das aulas de jardinagem, Tistu descobre que possui o polegar verde, que era um grande talento que ele possuía para desenvolver a atividade de jardinagem.
A criança vai recebendo as mais diversas informações sobre o lado belo e o lado feio da vida até que se depara com o maior dos dramas, a morte. Um dia o menino descobre que seu amigo, o jardineiro Bigode, havia morrido.
O falecimento do jardineiro traz uma grande tristeza para o menino, que tenta entender talvez o maior de todos os mistérios da nossa vida, a morte.
Daí, vamos para um belo e poético final. Um livro repleto de simbolismo, que trata de questões relacionadas ao convívio social, a ética, a cidadania, a ecologia e os sonhos que toda criança tem. Uma obra que permanece atual após décadas do seu lançamento.
O autor
Maurice Druon nasceu no dia 23 de abril de 1918, em Paris. Era bisneto de um brasileiro, Odorico Mendes (1799-1864), que foi escritor, jornalista e político, nascido no Maranhão. Era sobrinho do também escritor Joseph Kessel.
Ele fez seus estudos secundários no Liceu Michelet, na Normandia, norte da França. Depois, estudou ciências políticas e, aos 18 anos, começou a publicar seus textos em revistas e jornais literários.
Participou da campanha francesa na Segunda Guerra Mundial, tendo forte atuação nas Forças de Resistência, onde atuou nos serviços de informação do que ficou denominado de “França Livre”. Também foi correspondente de guerra.
Na literatura escreveu diversas obras, tendo recebido, em 1948 o Prêmio Goncourt pela novela “As Grandes Famílias”. Esse prêmio foi criado, em testamento, em 1903, pelo escritor francês Edmond de Goncourt. É considerado um dos mais importantes prêmios literários da França.
Em dezembro de 1966 foi eleito para a Academia Francesa de Letras. Em 1973 exerceu o cargo de Ministro da Cultura da França.
Ao longo de sua carreira literária Druon escreveu diversas obras, como:
- – O Rei de Ferro
- – A Rainha Estrangulada
- – Os Venenos da Coroa
- – A Lei dos Varões
- – A Lobo de França
- – O Lis e o Leão
- – Um Rei Perde a França
- – As Grandes Famílias
- – O Menino do Dedo Verde.
Apesar de “O Menino do Dedo Verde” ter sido sua única obra infanto-juvenil, esse livro o tornou famoso em todo o mundo. Por conta de seu trabalho literário e de sua participação na Segunda Guerra recebeu diversas condecorações ao longo da vida, como a Grande-Cruz da Legião de Honra, Comendador das Artes e das Letras e a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo, de Portugal.
Maurice Druon faleceu em Paris, em 14 de abril de 2009, aos 90 anos.
Toda criança possui um dedo verde
Apesar de ter sido um grande escritor, Maurice Druon acabou ficando imortalizado por seu livro infantil “O Menino do Dedo Verde”, o único que escreveu para esse público. A admiração e o respeito que as pessoas guardam por esta obra tem razão de ser. O livro é uma belíssima mensagem da pureza e do poder transformador que as crianças possuem com sua inocência.
A leitura é fácil e dinâmica e a mensagem é realmente linda. Nos faz refletir sobre o que queremos para nossos filhos. Como já disse, li esse livro recentemente para o meu filho e foi muito gostoso ver a curiosidade dele em relação ao que acontecia com Tistu. Com toda a certeza foi muito especial para mim. E vou deixar o livro bem guardado na minha estante para um dia passá-lo para o Murilo, meu filho. Quem sabe um dia ele não resolve ler “O Menino do Dedo Verde” para seu filho(a).
Fica aqui a dica para vocês, não percam a oportunidade de ler esse livro para seus filhos. Garanto que será uma experiência única. Então, boa leitura!