É sempre bom falar de poesia, saudar os grandes poetas e poetisas da literatura universal, particularmente aqueles que pertencem à língua portuguesa. Poder falar desses autores e autoras maravilhosos e suas fantásticas poesias, que encantam leitores e nos fazem viajar em versos mágicos é sempre uma imensa alegria.

Os poetas brasileiros estão entre os grandes da história. O Brasil, sem dúvida, sempre foi um celeiro de grandes escritores. Nossa poesia já ofereceu ao mundo autores magistrais como Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, João Carlos de Melo Neto, Manuel Bandeira, Vinícius de Moraes, Ferreira Gullar e muitos outros. Não há como citar todos de uma vez, aqui. Mas, com certeza, a lista é imensa e nos enche de orgulho.
Então, vou falando de cada um deles, um por vez, com muito carinho contando um pouco de suas histórias. E, agora, quero falar de um dos grandes poetas de nossa literatura. Que foi chamado de “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, ele que foi poeta, cronista, contista e jornalista e, também, foi autor de um hino, do Hino à Bandeira. Vamos conhecer a história e a obra de Olavo Bilac.
O começo de tudo
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 16 de dezembro de 1865, filho do médico Brás Martins dos Guimarães Bilac e de Delfina Belmira Gomes de Paula. Olavo só conheceria o pai em 1870, quando este retornaria da Guerra do Paraguai (1864 a 1870), onde serviria compondo a equipe médica.
Bilac teve uma infância comum e foi um aluno aplicado, tanto que aos 15 anos recebeu uma autorização especial, por conta da idade, para ingressar no curso de medicina, da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Essa entrada na medicina se deu muito mais por gosto do seu pai do que pelo seu próprio. Ele estudou quatro anos, mas abandonou o curso. Depois, foi estudar Direito, mas desistiu ainda no primeiro ano do curso. Ainda muito novo começou a atuar no periódico da faculdade de Medicina, a ‘Gazeta Acadêmica’. Esse trabalhou acabou o interessando mais do que os estudos de medicina e direito.
As Letras
A decisão de Bilac, de abandonar os dois cursos, levou o poeta a se desentender com a família, pois seus pais ficaram descontentes com suas escolhas profissionais. Ele passou a trabalhar como jornalista e cronista, escrevendo por muitos anos para o jornal ‘Gazeta de Notícias’, onde substituiu ninguém menos do que Machado de Assis. Olavo Bilac foi fundador dos periódicos ‘A Cigarra’, ‘O Meio’ e ‘A Rua’, mas nenhum deles prosperou. Sua primeira publicação literária aconteceu em 1884, com o soneto “Sesta de Nero”, na própria ‘Gazeta de Notícias’. Em 1888 publicou seu primeiro livro, “Poesias”. Passou a frequentar as rodas boêmias e literárias do Rio de Janeiro. Aos poucos foi ganhando fama como poeta e jornalista e ampliou seu contato com intelectuais e políticos, acabando por ocupar o cargo público de ‘inspetor escolar’, a época um disputado e importante cargo.

Bilac vai ampliando seus horizontes literários escrevendo, além de poemas, textos publicitários, livros escolares, crônicas, entre outros. Colaborou com publicações como ‘A Imprensa’, ‘A Leitura’, ‘Brasil-Portugal’, ‘Atlântida’, ‘Branco e Negro’ e ‘Azulejos’. Ele foi conquistando seu espaço como jornalista e poeta, produzindo uma grande obra com, entre outras, as seguintes publicações:
– Poesias, 1888
– Via Láctea, 1888
– Sarças de Fogo, 1888
– Crônicas e Novelas, 1894
– O Caçador de Esmeraldas, 1902
– As Viagens, 1902
– Alma Inquieta, 1902
– Poesias Infantis, 1904
– Crítica e Fantasia, 1904
– Tratado de Versificação, 1905
– Conferências Literárias, 1906
– Ironia e Piedade, crônicas, 1916
– Tarde, 1919 (obra póstuma)
Além das diversas obras que escreveu ao longo da vida, foi dele a letra do Hino à Bandeira. Confira, abaixo, um exemplo da poesia de Bilac nos versos do poema “Vila Rica”.
“Vila Rica
O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre;
Sangram, em laivos de ouro, as minas, que ambição
Na torturada entranha abriu da terra nobre:
E cada cicatriz brilha como um brasão.
O ângelus plange ao longe em doloroso dobre.
O último ouro do sol morre na cerração.
E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre,
O crepúsculo cai como uma extrema-unção.
Agora, para além do cerro, o céu parece
Feito de um ouro ancião que o tempo enegreceu…
A neblina, roçando o chão, cicia, em prece,
Como uma procissão espectral que se move…
Dobra o sino… Soluça um verso de Dirceu…
Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.”

Vida Pessoal
A vida amorosa de Bilac não foi das mais felizes. O poeta ficou noivo por duas vezes, mas nunca se casou. Primeiro noivou com Amélia de Oliveira, seu grande amor, e irmã do poeta Alberto de Oliveira. O compromisso foi rompido pois a família de Amélia não aceitava a vida boêmia do poeta. Depois ficou noivo de Maria Selika, filha do violonista Francisco Pereira da Costa, mas o esse noivado foi rápido e durou muito pouco tempo. Em função disso, acabou não se casando nem teve filhos.
Um fato curioso na vida pessoal de Bilac é que, em 1897, o poeta estava dirigindo um carro, um dos primeiros modelos comprados no Brasil, quando perdeu a direção e bateu numa árvore, na Estrada da Tijuca, no Rio de Janeiro. Foi o primeiro acidente automobilístico registrado em nosso país.
Bilac trabalhou como inspetor escolar, cargo que ocuparia até se aposentar. No início do século passado, ele já era um dos mais famosos poetas do país. Como poeta e homem da cultura, foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, criando a cadeira número 15, cujo patrono foi Gonçalves Dias.
Em 1917 recebeu o título de professor honorário na Universidade de São Paulo. O poeta veio a falecer no dia 28 de dezembro de 1918.
Atuação Política
Olavo Bilac teve uma destacada atuação política na época. Era um nacionalista e, também, abolicionista. Fez oposição ao governo do Marechal Floriano Peixoto, tendo, inclusive, participado da criação do jornal ‘O Combate’, de viés antigoverno. Em razão desse comportamento, acabou sendo preso, passando quatro meses detido no Rio de Janeiro.
Bilac foi um grande defensor do serviço militar obrigatório.
Curiosidades
– Foi o primeiro brasileiro a sofrer um acidente automobilístico no país;
– Seu nome completo, Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac, se dividido em sílabas poéticas se torna um verso Alexandrino, composto por 12 sílabas;
– Teve uma grande desavença como o escritor Raul Pompéia, por conta de um texto, publicado em uma revista dirigida por Bilac, que criticava o trabalho de Pompéia;
– Em 1889 viveu um fato curioso, foi desafiado para um duelo pelo jornalista João Carlos Pardal Mallet, que se sentiu ofendido quando Bilac deixou o jornal ‘A Rua’, que estava sob a direção daquele. Após dois adiamentos, o duelo foi realizado, durando apenas alguns segundos, tempo suficiente para Bilac ferir Mallet na barriga, sem gravidade, e encerrar o confronto de espadas.
Frases

– “Há, na vida, coisas que se dizem, mas não se escrevem, coisas que só se escrevem, e outras que nem se escrevem nem se dizem, mas apenas se pensam.”
– “Um artista sente mais as dores terrenas que cem homens vulgares.”
– “A arte não é, como ainda querem alguns sonhadores ingênuos, uma aspiração e um trabalho à parte, sem ligação com as outras preocupações da existência.”
– “A arte é a cúpula que coroa o edifício da civilização.”
– “Talvez, em 2500, existam literaturas diversas no vasto território que hoje forma o Brasil.”
– “Um povo não é povo enquanto não sabe ler.””
– “A paixão primeira não pela voz, mas pelos olhos fala.”
– “Quem ama inventa as penas em que vive.”
– “É dos loucos somente e dos amantes na maior alegria andar chorando.”
– “Só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas.”
– “Curado pelos seus enganos, já não creio em nenhuma das estrelas…”
Grande Poeta, grande homem
Olavo Bilac foi um dos maiores poetas do seu tempo e da nossa literatura. Marcou a nossa cultura não só com seus textos, mas também com sua atuação em defesa das letras e do saber. Foi fundador da Academia Brasileira de Letras e contribuiu enormemente para a difusão do conhecimento no país. Sua atuação foi além da poesia, foi dele o Hino à Bandeira, ou seja, imortalizou seus versos e, também, a letra da música que representa esse grande símbolo nacional, a bandeira do Brasil. Não bastasse isso, também lutou pelo fim da escravidão. Até hoje é uma das grandes referências da nossa poesia.
Foi grande em seu tempo e, até hoje, é lembrado como um dos maiores poetas da nossa história, com toda a justiça. Foi um grande defensor da língua portuguesa. Tanto respeitou e admirou nosso idioma que a ele dedicou um poema, que deixo aqui para encerrar esse texto.
Língua Portuguesa
Última flor do lácio, inculta e bela
És, a um tempo, esplendor e sepultura
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela
Amo-te assim, desconhecida e obscura
Tuba de alto clangor, lira singela
Que tens o tom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo
Amo-te, ó rude e doloroso idioma
Em que da voz materna ouvi: Meu filho
E em que Camões chorou, no exílio amargo
O gênio sem ventura e o amor sem brilho