17 – Na nuvem
Os computadores apreendidos foram levados para a delegacia e os peritos começaram a trabalhar em cada uma das máquinas.
Alguns dias depois o delegado Luciano chamou Ricardo, Nando e Décio para atualizá-los da situação do caso Gustavo.
– Bem. O pessoal da perícia enviou o material que eles conseguiram levantar, está tudo aqui. – falou ele.
– Eles conseguiram recuperar muita coisa? – indagou Nando.
– Bastante coisa. Quero que vocês avaliem tudo que foi enviado para vermos para onde essas informações podem nos levar.
– Vamos ao trabalho. – falou Ricardo pegando o material.
Os três buscaram uma sala tranquila onde pudessem sentar e estudar toda a documentação. Passaram o dia debruçados sobre o material. Na manhã seguinte os três estavam na sala de Luciano com o material todo analisado.
– E então, o que vocês conseguiram? – perguntou o delegado.
– Muita coisa, delegado. – quem falava era Ricardo – A situação é bem mais complexa do que parecia, estamos falando de desvio de dinheiro e de chantagem.
– Nós analisamos os e-mails e descobrimos que foi montada uma quadrilha para atuar com extorsão. Eles aproveitavam o fato de serem uma empresa de segurança, que trabalhava com vigilância física, mas também com instalação de equipamentos de vigilância, como câmeras, para monitorarem as pessoas, salvar vídeos comprometedores e extorquir as vítimas. – explicou Décio.
– Eles usavam a própria empresa como base ou a empresa era só uma fachada para a atuação da quadrilha? – perguntou Luciano.
– É melhor o senhor dar uma olhada nesse relatório que fizemos – falou Ricardo passando o documento para Luciano, que o leu com a maior atenção.
– Tudo isso está documentado? – perguntou ele.
– Sim. – falou Nando – havia um esquema paralelo de controle de todas as ações da quadrilha.
– Era praticamente uma empresa paralela que atuava dentro da Boa Vigilância. – explicou Décio.
Luciano releu a papelada antes de falar.
– Nós vamos até a empresa agora, pegar o Luís Antônio? – perguntou Ricardo.
– Sim. – falou o delegado – Quero que vocês o tragam para cá, para prestar depoimento. Vou correr atrás de um pedido de apreensão do computador dele. Também vou pedir a quebra do sigilo telefônico e bancário dele. Quero ver o que vai aparecer depois de tudo isso.
– Então vamos nessa – falou Ricardo. Ele, Nando e Décio saíram para cumprir as ordens do delegado.
Depois de atravessarem a cidade e retornarem para a delegacia, os três chegaram com Luís Antônio.
– Como vai, senhor Luís Antônio? Pode se sentar. – falou Luciano, oferecendo uma cadeira ao homem.
– Tudo bem, delegado. Eu só gostaria de entender por que estou aqui. Os inspetores falaram sobre desvios na empresa, mas eu não sei do que eles estão falando. – comentou Luís.
– Vamos esclarecer os fatos. – começou Luciano – Com a morte do senhor Gustavo, a perícia levantou alguns e-mails em que ele falava que estava sendo chantageado, pelo fato de ser gay.
– Eu nem sabia que ele era gay, isso não é problema meu. O senhor está querendo dizer que estou sendo detido por que o Gustavo era gay e se suicidou? – protestou o homem.
– Claro que não. – ponderou Luciano – A questão é que o aprofundamento das investigações apontou para um esquema de extorsão que vem de dentro da sua empresa.
– Como é que é? – indagou Luís – Vocês estão de sacanagem comigo!
– O senhor acha que nós iríamos trazê-lo até aqui para ficar de brincadeira? – perguntou Luciano.
– Desculpe, delegado. Não foi isso que eu quis dizer. Mas eu não estou entendendo nada do que vocês estão falando. A empresa trabalha com segurança, nunca extorquimos ninguém.
– Muito bem, então temos muita coisa a ser explicada aqui. – colocou Luciano.
– Concordo com o Senhor. – disse Luís.
– Como o senhor sabe, em função das investigações, nós apreendemos alguns computadores da sua empresa. Todos foram periciados e eu gostaria que o senhor desse uma olhada no material que encontramos. – falou Luciano, passando a papelada que continha as conversas de e-mail interceptadas às mãos do empresário.
Luís Antônio, leu toda a papelada. Releu o material, quanto mais olhava o material, mais atônito parecia. Quando terminou, devolveu as folhas para Luciano e falou.
– Delegado, eu não tenho a menor ideia do que está acontecendo aqui, não sei de nada disso. Eu quero falar com o meu advogado.
– Pode ficar à vontade, é um direito seu. – comentou Luciano.
– Eu já havia mandado uma mensagem para ele. – esclareceu o homem – Mas quero esperar a presença dele para continuarmos essa conversa.
– Tudo bem. Desde que ele não demore demais, podemos esperar. – concordou Luciano.
Passados uns vinte minutos o advogado estava na sala do delegado. Ele pode conversar reservadamente com seu cliente, antes de retomarem a conversa com Luciano.
– Bem, delegado. Primeiro quero me apresentar, me chamo Marcos Paulo, sou o advogado do senhor Luís.
– Com vai, Doutor. – Luciano cumprimentou o homem – Precisamos esclarecer esses fatos levantados na perícia com o seu cliente.
– Meu cliente está disposto a colaborar com o que for possível. – afirmou o advogado.
– Então ele pode começar nos contando o que sabe sobre essa questão do uso da empresa para chantagear as pessoas.
– Meu cliente nada sabe sobre isso.
– Dr. Marcos Paulo, como o senhor pode verificar pela documentação que apresentamos, existe uma organização criminosa instalada dentro da empresa do seu cliente, que se aproveita do trabalho que oferece para monitorar e filmar as pessoas para depois realizar extorsões. Em função disso uma pessoa cometeu suicídio. E o senhor quer nos convencer de que seu cliente não sabe de nada? – indagou Luciano.
– Mas eu não sei de nada. – exclamou Luís.
Luciano encarou os dois homens por alguns segundos antes de voltar a falar.
– Com base no que levantamos estou pedindo a quebra dos sigilos bancário e telefônico dos funcionários da contabilidade da sua empresa. Mas não acredito que eles sejam os únicos envolvidos. É preciso que gente da área operacional também esteja na jogada, assim como pessoas em posição de comando dentro da estrutura. Como um esquema desses poderia funcionar sem que o dono nada soubesse?
– Como é que somente funcionários subalternos teriam condições de montar uma estrutura como essas e operar livremente? – quem perguntava agora era Ricardo.
– Delegado. – Quem falava era o advogado – Meu cliente não sabe de nada. Ele está disposto a colaborar com as investigações.
– Tudo bem. Se ele está disposto a colaborar, acredito que não vai se importar que eu solicite a quebra de seus sigilos, tanto o bancário como o telefônico. Se ele não está realmente envolvido, tudo vai ficar esclarecido. – ponderou Luciano.
– Isso é um tanto delicado, delegado. Uma quebra de sigilo não é uma coisa simples, pois o meu cliente não lida só com a empresa, existem questões pessoais no meio de tudo isso. – alertou o advogado.
– As questões pessoais não nos interessam. Só vamos tratar do que envolver esse caso o resto será desconsiderado. Só vamos analisar as informações que possam relacionar seu cliente com esse caso. Sobre o resto, nada será falado ou divulgado. – assegurou Luciano.
– Se for desta forma eu concordo. – falou Luís.
– Não sei se é a melhor alternativa. – argumentou o advogado.
– Tudo bem, Doutor Marcos. A empresa foi usada para cometer diversos crimes. Uma pessoa morreu por causa disso e eu estou sendo acusado de crimes que não cometi. Se minhas informações serão preservadas eu autorizo a quebra. Tenho certeza de que vocês não vão encontrar nada relacionado a essa história. – falou Luís.
– Então, por enquanto vamos aguardar as informações complementares para voltarmos a conversar. Só queria fazer mais uma pergunta e lhe dar um aviso – disse Luciano.
– Pois não, delegado.
– Como era o seu relacionamento com os clientes?
– Na verdade, eu mantinha um relacionamento mais distante com os clientes, só tratava com eles quando aparecia alguma necessidade. O contato e o atendimento são feitos pelo meu sócio e o pagamento era resolvido pelo pessoal do financeiro.
– Alguém mais mantinha contato com os clientes? – perguntou Décio.
– Não, mais ninguém.
– Tudo bem, seu Luís. – falou Luciano – Por hora o senhor está dispensado. Só quero o contato do seu sócio, para conversarmos com ele e peço que o senhor não deixe a cidade sem nos avisar.
– Pode deixar, delegado. Não pretendo sair da cidade. Sobre o meu sócio, ele não está presente no dia a dia da empresa, sempre deixou isso sob a minha responsabilidade. O trabalho dele é todo externo, junto aos clientes. O pessoal do escritório nem tem contato com ele. – esclareceu Luís.
– Tudo bem, de qualquer forma, gostaria de falar com ele. – retrucou Luciano.
– Ok. Vou deixar o contato dele com o senhor.