A Morte vem de Cima

18 – Perto de uma solução

Cliente e advogado saíram da delegacia, deixando os policiais reunidos na sala.

– O que vocês acham? – perguntou Nando.

– Ou esse cara é um tremendo artista, um grande mentiroso ou realmente não sabe de nada. – afirmou Ricardo.

– O que o senhor acha, delegado? – perguntou Décio.

Luciano se mantinha parado, observando o pedaço de papel que estava em sua mão, parecia perdido em seus pensamentos. Os policiais precisaram insistir para trazê-lo de volta à conversa.

– O que houve delegado? – perguntou Ricardo.

– Isso aqui. Esse é o contato do sócio do Luís. Vejam o que vocês acham. – falou ele mostrando o pedaço de papel que ainda estava em sua mão.

– Puta que pariu, isso muda tudo. – afirmou Nando.

– Pois é. – concordou Luciano.

– E agora, o que o senhor pretende fazer? – indagou Décio.

– Antes de mais nada, vou ampliar os pedidos de quebra de sigilo. Depois, quando tivermos o resultado, vamos partir para a ação.

Uma semana depois, com o resultado das quebras de sigilo em mãos, o delegado reuniu sua equipe.

– Recebi o material da quebra de sigilos. – falou ele apontando para a mesa onde estava a papelada.

Ricardo, Nando e Décio analisaram a documentação.

– A coisa agora ficou bem clara. – falou Ricardo.

– Pois é. – concordou Luciano – Parece que o nosso amigo Luís Antônio estava falando a verdade. Ao que tudo indica ele estava sendo enganado todo esse tempo.

– Como é que o cara nunca percebeu o que estava acontecendo debaixo do seu próprio nariz? – indagou Nando.

– O amor muitas vezes cega as pessoas. – falou Luciano entregando a Nando uma das folhas de papel.

– É verdade, o sujeito confiou demais e acabou sendo enganado. – disse Ricardo, que lia o papel por cima do ombro de Nando.

– E agora, delegado? – quis saber Décio.

– Agora nós vamos agir, nos dividindo em duas frentes. – falou Luciano enquanto passava as orientações aos policiais.

Depois de combinar as ações que seriam tomadas a partir daquele momento, Luciano partiu com Décio para a Boa Vigilância enquanto Ricardo e Nando saiam em outra missão. Uma hora depois o delegado e seu auxiliar estavam entrando na empresa.

– Boa tarde, seu Luís, estamos de volta. – falou Luciano.

– Boa tarde, delegado. Espero que traga boas notícias. – disse Luís Antônio, que parecia abatido, nem de longe lembrava o sujeito cheio de vivacidade de uma semana atrás.

– Podemos conversar em lugar reservado? – perguntou o delegado.

– Claro, venham comigo. – disse Luís conduzindo os policiais para sua sala.

– Bem. – Luciano iniciou a conversa após eles se instalarem na sala de Luís – Já temos o resultado da quebra de todos os sigilos e devo dizer que o senhor estava falando a verdade. Todas as informações que levantamos demonstram que o senhor não sabia da nada do que estava acontecendo na empresa.

– Então, agora que o senhor viu que eu não estava mentindo, pode me explicar o que aconteceu? – pediu o homem.

– O que aconteceu, seu Luís, é que foi montado, aqui dentro da sua empresa, um esquema de espionagem e extorsão. Criou-se um grupo, que atendia aos clientes, instalava os equipamentos, mas que controlava remotamente o material que era gravado.

– Como assim um controle remoto?

– Vocês ofereciam toda a infraestrutura para o cliente, câmeras, aparelhos codificadores, softwares, computadores, como é o padrão da sua empresa. Essa equipe, quando realizava o serviço, mantinha acesso remoto às câmeras dos clientes, via celular e computador. Eles monitoravam as pessoas 24 horas por dia, gravando imagem e som. Dessa forma, eles montavam um banco de dados dessas pessoas e depois usavam o material que interessava para chantagear os clientes.

– Eu não acredito nisso. Bem debaixo do meu nariz. – falou um Luís totalmente desolado – Quem estava envolvido nessa história?

– Várias pessoas. Inclusive, se o senhor permite, o Décio vai sair agora para efetuar algumas prisões com o resto do nosso pessoal. Temos três pessoas que trabalhavam na área operacional, uma equipe que sempre trabalhava junta. Eles eram responsáveis pela instalação dos equipamentos e pela conexão remota. – explicou Luciano.

– Tem mais gente envolvida? – perguntou o homem depois que Décio deixou a sala.

– Sim. – respondeu o delegado – identificamos mais quatro pessoas no esquema aqui dentro, uma delas é o Marcílio, da contabilidade, era a pessoa responsável pela movimentação financeira da operação. Eles também estavam desviando dinheiro da firma. Só que ele cometeu um erro na movimentação financeira, foi aí que o Gustavo descobriu que havia algo errado. Eles então começaram a pressioná-lo para que ele entrasse no esquema, era a forma de o silenciarem, transformando-o em cúmplice do negócio.

– Como eles fizeram isso?

– O Marcílio já sabia que o Gustavo era gay, então eles armaram uma situação para filmá-lo mantendo relações sexuais e passaram a chantageá-lo. Eles só não contavam com a reação do Gustavo. Ninguém achou que ele fosse se matar. – esclareceu Luciano.

– Eu custo a acreditar no que está me contando. Como eles conseguiram montar esse esquema, como chegavam nas vítimas? – quis saber o homem.

– Era tudo muito bem-organizado. As vítimas eram escolhidas com antecedência.

– Mas como eles poderiam escolher as pessoas se não conheciam nem tinham contato com nossos clientes?

– E quem tinha contato e tratava com os clientes? – indagou Luciano.

– Meu sócio. Puta que pariu, o senhor está querendo me dizer que ele estava por trás de tudo isso?

– Exatamente. Aliás, ele deve estar sendo trazido para cá. – esclareceu o policial – Na verdade ele era o chefe da quadrilha. Ele visitava os clientes, fechava o negócio, escolhia as vítimas e repassava a informação para seus cúmplices. O gerente de operações, que era o responsável pela distribuição dos trabalhos, ele encaixava os dois instaladores, que participavam do esquema, quando havia a indicação do seu sócio. Os dois realizavam o serviço, instalavam o equipamento e começava o monitoramento. Quando eles tinham material suficiente, começava o jogo da extorsão. O Marcílio cuidava do dinheiro e ainda estava fechado com seu sócio para desviar dinheiro da empresa.

– Eu nunca desconfiei de nada. – falou Luís Antônio, colocando as mãos na cabeça, totalmente desolado.

– Pois é. Eles tinham a operação muito bem montada. Além de tudo isso, tinham uma pessoa aqui dentro, com acesso a todas as áreas, para apagar os rastros. – comentou Luciano.

– Quem? – indagou o homem.

Nesse momento chegou uma mensagem no celular do delegado e ele falou com Luís Antônio.

– O senhor já vai saber quem é a última pessoa envolvida. Meus policiais estão aí fora, você pode liberar a entrada deles.

– Claro. – falou um aturdido Luís.

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