10 – Novas averiguações
Na manhã seguinte Nando estava de volta à Tijuca, agora com Ricardo. Dessa vez foram primeiro falar com Dona Luíza. A mulher não parecia muito satisfeita com a presença dos policiais, mas procurou disfarçar.
– Bom dia, inspetor. Ocorreu algum problema para o senhor voltar aqui de forma tão rápida? – perguntou ela.
– Bom dia, Dona Luíza, obrigado por nos receber. Esse é o inspetor Ricardo, ele está trabalhando comigo nesse caso. – falou Nando apresentando o outro policial – É que surgiu uma informação nova e precisávamos conferir com a senhora.
– Pois não. – falou ela enquanto permitia que os dois entrassem.
– Ontem a senhora me disse que o pessoal da empresa do senhor Gustavo queria entregar os pertences dele, mas a senhora pediu que encaminhassem ao senhor Guilherme. – afirmou Nando.
– Sim, foi isso que aconteceu.
– Pois meu parceiro esteve na empresa do senhor Gustavo ontem e eles disseram que encaminharam o material para a senhora, por orientação do Guilherme. – explicou Nando – O que a senhora pode nos dizer sobre isso?
A mulher encarou os dois policiais por alguns momentos enquanto decidia o que fazer.
– Aguardem um momento, por favor.
Ela deixou a sala por alguns minutos e retornou com uma caixa na mão, era um pouco maior do que uma caixa de sapato, que colocou sobre a mesa.
– Aqui está o que eles mandaram. Podem ficar à vontade para olhar. – falou ela.
Ricardo e Nando se aproximaram da mesa para olhar o conteúdo da caixa.
– Por que a senhora não me disse que esse material estava aqui? – perguntou Nando.
– Eu já lhe disse que essa situação é muito difícil para mim, trás de volta um passado que eu preferia esquecer. Além do mais, não tem nada de importante aí, podem verificar.
– Tudo bem. – respondeu Nando, enquanto Ricardo analisava o conteúdo
– Como não tem nada de importante, a senhora se importa se levarmos o conteúdo para avaliarmos com mais calma na delegacia? – indagou Ricardo.
– Claro que não. Vocês me farão um favor levando essas coisas daqui. Eu que agradeço.
Nesse momento entrou no apartamento uma jovem, que eles calcularam que deveria ser Thaís, a filha de Gustavo e Luíza.
– Bom dia. – falou a jovem.;
– Bom dia. – os policiais devolveram o comprimento.
– Senhores, essa é a Thaís, minha filha. Thaís, esses são os inspetores da polícia. Eles estão buscando informações sobre seu pai.
– Que tipo de informações vocês estão procurando? – perguntou a jovem.
– Sobre o trabalho do seu pai, seus amigos. – respondeu Nando.
– Minha mãe não mantinha contato com o papai, ela não tem como saber muita coisa do trabalho dele. – falou a jovem.
– Eu já disse para eles o que eu sabia. E estou repassando para eles os pertences do seu pai que enviaram do trabalho dele. – Luíza se explicou para a filha.
– A Senhora vai entregar tudo que era dele?
– Não tem nada demais aí. Só algumas fotos, umas canetas e outras coisas. Pelo visto seu pai não deixava nada de especial no trabalho. – disse a mãe.
– A que conclusão vocês chegaram sobre a morte do meu pai? – Thaís agora se dirigia aos policiais.
– A perícia concluiu que foi suicídio. – respondeu Ricardo.
– Nenhuma chance de ele ter sido jogado? – perguntou ela.
– Nenhuma. – devolveu Ricardo – Não havia ninguém no apartamento, só ele. Infelizmente ele se jogou, foi isso o que aconteceu.
– E o que vocês estão tentando esclarecer, então? – retrucou Thaís.
– Quando acontecem esses casos o seguro procura saber todos os detalhes que envolvem a morte, para constatar se houve algum tipo de fraude ou não. Por isso estamos conversando com várias pessoas, para assegurar que está tudo dentro legalidade. – explicou Nando.
– Entendi. Tudo certo. Mãe, vou aqui na casa da Dani, voltou daqui há uma hora. – falou a menina se dirigindo à porta.
– Tudo bem. – falou Luíza. Ela voltou a se dirigir aos policiais depois que a filha saiu – Posso ajudar os senhores em algo mais?
– A princípio não. – respondeu Nando. – A não ser que a senhora tenha mais alguma coisa para nos contar.
– Pode ter certeza de que não tenho mais nada a falar sobre o meu ex-marido. Vocês podem ficar tranquilos. – falou Luíza, agora mostrando um pouco de irritação.
Os policiais deixaram o apartamento da mulher.
– A Dona ficou irritada com essa sua pergunta. – falou Ricardo.
– Acho que ela não gostou de ter sido pega na mentira.
– Mas o que ela pensou, que não perguntaríamos pelas coisas dele no trabalho?
Quando saíram do prédio eles encontraram Thaís, que aguardava por eles.
– Agora vocês podem me dizer por que a polícia está fazendo perguntas sobre o meu pai se ele se suicidou? – inqueriu a jovem.
– Existem determinados tipos de caso em que somos obrigados a fazer uma investigação mais detalhada, esse é um deles. – explicou Ricardo.
– Essas investigações têm relação com a vida pessoal ou profissional dele?
– Na verdade com as duas situações. É praxe fazermos determinadas perguntas e analisarmos alguns fatos – retrucou Nando.
– Por que vocês não param de enrolar e falam a verdade para mim. – falou ela – Vocês estão achando que pode ter algo mais além do suicídio?
– Ainda não sabemos. – disse Ricardo.
– Estão perdendo tempo com essa enrolação, eu posso ajudar vocês. Por que não falam a verdade, essa investigação tem relação com o fato dele ser gay ou com alguma trambicagem na empresa?
A pergunta da jovem pegou os dois de surpresa.
– Pode ser que tenha. O que você sabe sobre essas questões? – quis saber Ricardo.
Ela ficou observando os dois por um tempo antes de falar.
– Vamos procurar um lugar onde possamos nos sentar e conversar. – sugeriu ela.
Eles caminharam até a esquina da rua, onde havia um restaurante, como ainda era cedo, o local estava vazio. Eles entraram, pediram duas águas e sentaram-se na parte de trás do estabelecimento, onde poderiam conversar com calma.