A Morte vem de Cima

11 – A história de Thaís.

Os três se sentaram, então Ricardo olhou para a menina e perguntou:

– Então, Thaís, o que você tem que possa nos ajudar?

– Aliás, sua mãe disse que você não sabia de nada sobre a vida do seu pai. – ponderou Nando.

– Coitada da mamãe, ela acha que sou uma criança inocente e que está me protegendo dos problemas da vida dessa forma, escondendo tudo de mim. Eu já sabia disso há algum tempo.

– E como isso aconteceu? – indagou Ricardo.

– Os adultos têm a mania de achar que são muito espertos, ou melhor, pensam que os filhos são completos idiotas e vão falando as coisas, como se não entendêssemos nada. Uma vez estávamos em São Fidelis e ouvi uma conversa dela com minha tia. Guardei aquilo comigo e, quando papai voltou a me ver provoquei uma conversa e ele acabou me contando a verdade. Achamos melhor não deixar que minha mãe soubesse que eu sabia. Ela não ia gostar nada disso. Por isso continuo fingindo que nada sei, melhor para ela que seja assim. Uma hora ela acaba me contando e fica tudo certo.

– Até aqui tudo perfeito, mas sobre os problemas do seu pai, o que você sabe que pode nos ajudar? – perguntou Ricardo.

– Ele me procurou mais ou menos uma semana antes de cometer o suicídio e me disse que estava com muitos problemas no trabalho, que sua saúde não estava boa e que, caso acontecesse algo com ele, eu deveria falar com a minha mãe sobre um seguro de vida que ele havia feito em meu nome.

– Ele estava nervoso? – quis saber Ricardo.

– Sim, ele estava muito nervoso, bem fora do seu normal. Papai sempre foi um cara muito calmo, às vezes calmo demais. Eu percebi que havia algo de errado e pressionei ele, para que me contasse o que estava acontecendo.

– Ele disse alguma coisa para você? – perguntou Nando.

– Ele disse que havia muita coisa errada no trabalho, que pessoas estavam fazendo coisas desonestas e que ele estava sendo pressionado para participar ou encobrir.

– Ele deu mais detalhes? – era Ricardo quem perguntava.

– Não. Ele me disse que se algo acontecesse com ele eu deveria ver a questão do seguro e procurar meu tio Guilherme e falar sobre a questão do trabalho dele, que meu tio, como coronel, saberia o que fazer.

– E você contou para o seu tio? – indagou Ricardo.

– É claro que não. Meu tio não é uma pessoa confiável.

– Por que não? – Perguntou Nando.

– Quando meu pai contou a verdade para meu tio, sobre a questão sexual, meu tio foi perverso com ele.

– Como assim? Nós sabemos que seu tio brigou com ele, o que mais ocorreu? – Ricardo perguntou.

– Não foi só uma discussão. Meu tio o agrediu fisicamente e o humilhou. Disse que meu pai manchava a sua honra militar e que ele deveria desaparecer na vida dele. Ameaçou meu pai, tentou forçá-lo a deixar o Rio de Janeiro. Para ele quanto mais longe meu pai ficasse, melhor.

– Que tipo de ameaça ele fez? – Nando indagou.

– Ele falou que se meu pai não sumisse, se o procurasse novamente ele iria contar aquela história para todas as pessoas conhecidas.

– Mas ele ia ficar exposto se fizesse isso. – ponderou Ricardo.

Sim, mas ele disse que se ele afundasse na lama, meu pai iria afundar muito mais. Que iria acabar com a vida dele.

– Foi seu pai quem contou essa história? – perguntou Ricardo.

– Sim, meu pai estava muito magoado com a forma com o irmão o havia tratado. E mesmo assim confiou naquele canalha, pedindo que se ele morresse de forma estranha eu levasse a história para meu tio.

– Mas você acabou não contando?

– Claro que não. Nunca vou confiar numa pessoa assim. Com a raiva que ficou do meu pai não ia fazer nada. Achei melhor procurar vocês, acredito que vocês vão ter muito mais boa vontade para investigar essa questão do que o velho coronel.

– Com certeza vamos investigar. Você fez muito bem em nos procurar. – falou Ricardo.

– O que vamos fazer, então? – perguntou a menina.

– Nós vamos voltar à empresa do seu pai e investigar o que você nos contou. Você vai continuar com a sua vida normalmente. – ponderou Ricardo.

– Com assim? Vocês não podem me deixar de fora desse caso, ele era meu pai e tirou a própria vida por causa de algum tipo de pressão que fizeram contra ele. Eu tenho o direito de saber a verdade.

Os dois policiais se olharam. Sabiam que precisavam convencer a menina a não se envolver mais naquela história, o que seria difícil.

– Olha só, Thaís.  – Ricardo voltou a falar – Nós entendemos o que você está sentindo com relação a tudo isso. Mas você se envolver mais nessa história pode ser perigoso. Quem quer que tenha cometido um crime na empresa, pressionou seu pai e o levou a cometer o suicídio, ou seja, são pessoas perigosas. Com certeza não hesitariam em ferir você ou algo pior, caso se sintam ameaçados. Nós vamos investigar aquela empresa até descobrirmos algo. Mas não temos como tomar conta de você.

– Meu parceiro está querendo dizer que se souberem que você sabe parte da história, sua vida correrá perigo. – acrescentou Nando – precisamos que você fique bem quietinha e não diga nada sobre isso. Ninguém deve saber o que você nos contou. Nós vamos descobrir quem fez isso com o seu pai.

A menina encarou os dois policiais enquanto refletia sobre o que acabara do ouvir.

– Tudo bem. Eu vou ficar quieta, mas como vou saber que vocês estão mesmo correndo atrás?

– Vamos deixar nossos telefones com você, assim podemos nos falar e vamos atualizando você do que formos descobrindo. Por outro lado, se ficar sabendo de algo mais, você pode fazer contato direto conosco. – era Ricardo quem fazia a combinação com a jovem.

– Tudo bem, então. Vocês parecem ser legais, vou confiar nos dois. – falou ela enquanto trocava o número do telefone com os policiais.

– Pode ficar tranquila, vamos descobrir toda a história e saber o que acontece de fato. – prometeu Ricardo. – Aguardo notícias de vocês. – falando isso a jovem se despediu e deixou o restaurante.

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