Rubem Fonseca um mestre do romance policial

Hora de falar de romance policial, o que é sempre uma grande satisfação para mim. Falar desses autores que criam fantásticas histórias de mistério e prendem a nossa atenção e fazem você ficar pra lá de curioso, com vontade de “devorar” o livro, querendo saber que é o culpado.

Por isso estou de volta para falar de um grande escritor de romances policiais, mas que foi muito mais, foi contista, romancista, ensaísta e roteirista. Um autor que criou um gênero seco e direto de narrativa, descrevendo a violência urbana como poucos haviam feito até então. Com suas histórias criava um mundo que, muitas vezes, misturava ficção e realidade e onde personagens mais diversos como assassinos, prostitutas, policiais e miseráveis se misturavam, dando à sua narrativa uma grande proximidade com o mundo real.

Vamos falar do premiadíssimo Rubem Fonseca, um dos mais importantes escritores brasileiros da segunda metade do século passado e do início deste século.

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A história

José Rubem Fonseca era mineiro de Juiz de Fora, nasceu no dia 11 de maio de 1925, e pertencia a uma família de imigrantes portugueses. Ainda criança, aos oito anos de idade, mudou-se para o Rio de Janeiro com a família. No Rio, Fonseca faria seus estudos, em 1949 formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Nacional de Direito, da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Na década de 1950 ele se dedicou à polícia, onde ingressou, em 1952, como Comissário, atuando no 16º Distrito Policial, no bairro de São Cristóvão. Não teve uma atuação forte como policial de rua, a maior parte de seu trabalho policial foi interno, atuou boa parte de seu tempo na polícia como relações públicas da instituição. Entre 1953 e 1954 foi para os Estados Unidos, com outros nove policiais, fazer um curso de aperfeiçoamento em segurança. Aproveitou o período nos EUA para também estudar administração na New York University.

De volta ao Brasil, em 1954, continuou no polícia e passou a dar aulas de psicologia na Fundação Getúlio Vargas. Rubem Fonseca deixou a polícia em 1958 indo trabalhar como executivo na Light, empresa de distribuição de energia do Rio de Janeiro, onde ficou por quase duas décadas.

Ainda na década de 1960, Fonseca teve uma passagem pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), que teve como um dos fundadores Antônio Gallotti, então diretor da Light. O instituto foi um dos pilares da formulação de estudos que apoiaram a conspiração que resultou no golpe de 1964, que derrubou o presidente João Goulart. O autor foi nomeado diretor da instituição no início de 1964, pedindo demissão após o golpe militar.

A literatura

Rubem Fonseca estrearia na literatura ainda na década de 1960. Sua estreia ocorreu em 1963 com a publicação do livro de contos “Os Prisioneiros”. Seu primeiro romance “O Caso Morel” foi lançado em 1973. Em 1975 Fonseca lança o livro ‘Feliz Ano Novo”, que sofreria censura por parte do regime militar, o livro teve sua venda proibida. Somente em 1989, depois de mais de uma década de briga judicial é que a publicação foi liberada.

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Além destes, Rubem Fonseca lançou diversas e importantes obras, como:

Romances

– O Caso Morel (1973)

– A Grande Arte (1983)

– Bufo & Spallanzani (1986)

– Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos (1988)

– Agosto (1990)

– O Selvagem da Ópera (1994)

– E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto (1997)

– O Doente Molière (2000)

– Diário de um Fescenino (2003)

– Mandrake, a Bíblia e a Bengala (2005)

– O seminarista (2009)

– José (2011)

Contos

– Os prisioneiros (1963)

– A coleira do cão (1965)

– Lúcia McCartney (1969)

– O homem de fevereiro ou março (1973)

– Feliz Ano Novo (1975)

– O cobrador (1979)

– Romance negro e outras histórias (1992)

– O buraco na parede (1995)

– Histórias de amor (1997)

– A confraria dos espadas (1998)

– Secreções, excreções e desatinos (2001)

– Pequenas criaturas (2002)

– 64 Contos de Rubem Fonseca (2004)

– Ela e outras mulheres (2006)

– Axilas e Outras Histórias Indecorosas (2011)

– Amálgama (2013)

– Histórias Curtas (2015)

– Calibre 22 (2017)

– Carne Crua (2018)

Crônicas

– O Romance Morreu (crônicas, 2007)

Prêmios

Rubem Fonseca construiu uma bela carreira literária com a publicação de diversas obras que se tornaram sucessos de crítica e público como “O Caso Morel”, “A Grande Arte”, Bufo & Spallanzani “O Doente Moliere”, “Agosto”, “Feliz Ano Novo”, e outras que fizeram dele um dos autores mais premiados da nossa literatura, conquistando os mais importantes prêmios literários no Brasil e outros no exterior, como:

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Prêmio Jabuti

1969 – “Lúcia McCartney – contos

1983 – “A Grande Arte” – romance

1996 – “Buraco na Parede” – contos

2002 – “Secreções, Excreções e Desatinos” – contos

2003 – “Pequenas Criaturas” – contos

2014 – “Amálgama” – contos

Prêmio Camões (Portugal)

2003 – Pelo conjunto da obra

Prêmio de Literatura Latinoamericana y del Caribe Juan Rulfo (México)

2003 – Pelo conjunto da obra

Prêmio Iberoamericano de Narrativa Manuel Rojas (Chile)

2012   

Prêmio Literário Casino da Póvoa (Portugal)

2012 – “Bufo & Spallanzani”

Prêmio Machado de Assis (Brasil)

2015 − Pelo conjunto da obra

Estilo

Rubem Fonseca desenvolveu um estilo próprio para seus romances, com certeza influenciado pelos quase dez anos que passou na polícia civil do Rio de Janeiro. A experiência adquirida nesse período foi uma excelente matéria-prima para seus romances policiais.

Em geral seus personagens são os narradores da história. Na maioria das vezes eram delegados, inspetores, detetives, advogados criminalistas, sempre pessoas ligadas ao mundo policial. Sua linguagem era direta, muito próxima da realidade das ruas e das delegacias.

Descrevendo o submundo do crime, Rubem Fonseca faiza sua crítica à sociedade moderna, apresentando suas mazelas e seu lado perverso de uma forma crua e sem disfarces. Esse estilo chegou a ser chamado de ‘brutalista’, termo criado pelo professor, crítico e historiador da literatura brasileira Alfredo Bosi.

Mesmo assim sua narrativa apresentava pontos comuns com alguns dos grandes autores de romance policial, como Sir Arhur Conan Doyle.

Cinema e Televisão

Além de escritor, Rubem Fonseca também fez uma bela carreira como roteirista, adaptando vários de seus livros ou mesmo escrevendo roteiros para o cinema. Entre as adaptações de seus contos e romances estão “Lúcia McCartney”, “Relatório de um Homem Casado”, “O caso P. A.”, “A Grande Arte”, além desses ele escreveu o roteiro de filmes como “Stelinha”, “O Homem do Ano”, “O Matador”.  Outras de suas obras também foram adaptados para o cinema como “Bufo & Spallanzani”, “O Cobrador” e o “O Caso Morel”.

 Além do cinema, a obra de Rubem Fonseca foi adaptada para a televisão, como foi o caso de “Agosto”, que se tornou uma minissérie exibida pela TV Globo em 1993. O escritor também recebeu vários prêmios como roteirista, como:

– O ‘Coruja de Ouro’ – pelo roteiro do filme “Relatório de um Homem Casado’, dirigido por Flávio Tambellini;

– O ‘Kikito’ do Festival de Gramado – pelo roteiro do filme ‘Stelinha’, com a direção de Miguel Faria Júnior;

– Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte – pelo roteiro de ‘A Grande Arte’, dirigido por Walter Salles Júnior.

Curiosidades

– Rubem Fonseca é o verdadeiro Rei do Jabuti, tendo vencido o mais importante prêmio da literatura brasileira nada menos do que seis vezes;

– Antes de se tornar escritor Fonseca pertenceu à força policial do Rio de Janeiro por quase uma década. Muitas das narrativas de seus livros que abordam a violência são baseadas na vivência dele dentro da polícia;

– Além de grande e premiado escritor de livros, Rubem Fonseca teve uma forte ligação com o cinema, ganhando vários prêmios como roteirista;

– Rubem Fonseca sempre foi avesso aos holofotes, preferindo o anonimato e raramente aparecendo em público, evitava o contato com os fãs e a imprensa;

– Se foi um escritor muito premiado, o autor também foi censurado durante a ditadura militar. Seu livro “Feliz Ano Novo” foi retirado de circulação em 1976 sob a alegação que o livro tinha um conteúdo que atentava contra a moral e os bons costumes. A obra só pode voltar a ser vendida mais de uma década depois.

Vida Pessoal

O autor sempre foi uma pessoa muito reservada, não gostava de aparições públicas nem de dar entrevistas, muito menos de falar sobre sua vida pessoal. Ele foi casado com Théa Maud Komel por 42 anos. O casal teve três filhos, Maria Beatriz, José Alberto e José Henrique, que é cineasta.

O autor vivia no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro, onde morreu de infarto no dia 15 de abril de 2020, há 26 dias de completar 95 anos.

Um mestre

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Rubem Fonseca foi um mestre na arte da escrita. Seu texto era simples, objetivos e duros, assim como é a vida que ele procurava descrever em suas obras. O submundo do crime não comportava glamour e em seus textos não cabia um rebuscamento desnecessário para o mundo que pretendia descrever. Ele aprendeu, com sua vivência como policial, a falar a linguagem “das ruas”, fazendo de seus livros peças fáceis de serem lidas por todos. Talvez nenhum outro escritor de romance policial no Brasil tenha utilizado uma linguagem tão próxima da realidade como ele.

Por isso, qualquer um que queira escrever romance policial no Brasil precisa conhecer a obra de Rubem Fonseca, precisa ler ao menos um de seus livros para tentar entender como ele aproximou a ficção da realidade com tanta maestria.

Eu particularmente gosto muito do estilo do autor, acho “Agosto” uma obra fantástica, não só pelo texto primoroso e objetivo, mas pela forma como ele conseguiu unir ficção e realidade para criar uma obra diferenciada.

Viva o mestre Rubem Fonseca!

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Escritor Carlos Carvalho

Carlos Carvalho

Sou escritor, amante de literatura e apaixonado pelos mistérios criados por Agatha Christie. Escrevo contos, poesias e romances. Sendo o Romance Policial meu gênero literário preferido. Sou formado em Jornalismo e pós-graduado em Assessoria de Imprensa e Comunicação Empresarial.

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