Livros são passaportes que não precisam de visto. É assim que a pernambucana de Cabo de Santo Agostinho Tamires da Silva Araújo encara o mundo da leitura e define sua relação com esse mundo. Quando ela tinha seis anos leu “A Formiguinha e a Neve”, de João de Barro, o Braguinha, e participou de uma peça teatral na escola. Naquele ano, em suas primeiras aventuras como leitora descobriu que poderia viajar para mundos e universos distantes através das palavras. Foi uma descoberta incrível para uma criança que começava a entender o mundo!
Tamires é a prova de que o mundo da literatura é transformador, como ela mesmo explica. “Sou filha de pais semianalfabetos e venho de um lugar bem humilde. Estudei em escola pública e apesar das dificuldades, sempre me esforcei. Acredito que a educação transforma vidas e pode mudar um país, precisamos disso acima de tudo.”, define ela com muita propriedade e a sabedoria de quem vivenciou uma dura e difícil realidade.
O interessante na vida de Tamires é que em um determinado momento de sua vida a ficção pareceu se misturar à realidade. Ela era uma adolescente introvertida, que devorava livros, lia clássicos da literatura, ficção, fantasia, romances e os livros influenciaram muito sua vida. Na época os meninos não chamavam mais atenção do os livros. Até que ela conheceu um jovem, por quem se apaixonou, e passou a viver sua própria história de amor, essa real, escrita nas páginas de sua vida. Em 2011 teve seu filho e viveu um turbilhão de emoções, maternidade, trabalho, as responsabilidades do mundo real. Esses sentimentos da vida, dos relacionamentos são a principal matéria-prima para sua escrita.
Melhor deixar que ela mesmo explique. “Eu gosto de abordar a real dificuldade dos relacionamentos. Falo de conflitos, tragédias, traumas, dramas e tudo que não deve ser romantizado. Acredito que apesar da felicidade, das conquistas, do amadurecimento, todos carregam seus próprios traumas, e até mesmo os dos outros.”, define Tamires. Contudo, o que ela mais gosta de escrever é sobre destino, paixões, emoções, drama, coisas que emocionam.
Ela tem dois projetos literários em andamento. Uma Trilogia (Dez verões – Quando se perde um grande amor) e uma ficção (Gêmea Certa). Ambos estão em processo de revisão antes de serem publicados, o que ela pretende fazer o mais rápido possível.
Tamires vai trabalhando e se transformando em escritora, mas também continua uma ávida leitora. É fã de Nicholas Sparks, Jojo Moyes, Julia Quinn, Marian Keyes, Paula Hawkins, E. L. James, J. R. R. Tolkien, George R. R. Martin, Harlan Coben, A. J. Finn (na verdade Daniel Mallory), Sylvain Reynard e muitos outros.
Para Tamires escrever é uma grande realização, mas nem só de alegrias vive uma pessoa. Infelizmente a dor e maldade muitas vezes fazem parte da nossa vida. E Tamires vivenciou essa dor muito de perto, de ser vítima de uma tentativa de abuso sexual. Ela narra a história com muita coragem, para que sirva de alerta.
“Não me importo em falar, muito pelo contrário. Faço um grande alerta! Sofri calada por muitos anos por algo que não tive culpa. Aos seis anos enquanto brincava com outras crianças, um garoto mais velho me tocou intimamente. Era um vizinho adolescente, e eu me senti estranha, algo me dizia que aquilo era errado, mas eu fiquei com medo de contar. Ele tentou outra vez e eu me afastei dele instintivamente. Graças à Deus não foi algo mais grave, não sei se suportaria. Enfim, como eu era bem pequena acabei armazenado o ocorrido em alguma parte da memória. No entanto, sempre que via, ouvia, ou lia algo que abordasse esse tema, me sentia muito mal. Depois de um tempo vi o irmão mais velho dele e por serem parecidos, um “clique” destravou a memória. Resolvi contar para minha família pois tinha receio de outras crianças que o conheciam terem passado o mesmo. Infelizmente descobri por minha mãe que ele estuprou de fato um garoto e que quase foi morto pelo pai dessa criança. Isso foi há muito tempo e hoje ele (o pedófilo) deve ter uns 38 anos e está preso. Decidi não denunciar, mas chorei por saber do tal garoto. Ele estudava com minha irmã mais nova na época e ela presenciou o quanto o crime o afetou. O abuso me influenciou de forma inconsciente. Tenho um filho de 10 anos e tive pesadelos sobre isso. Sempre o protegi de tudo e de todos e fui até paranoica em deixá-lo perto de quem quer que fosse. Por isso sempre falo para que CUIDEM DAS SUAS CRIANÇAS pois, ele era um vizinho, mas poderia ser da família.”
Verdade dolorida, mas que precisa ser contada para evitar que a história se repita. Por isso Tamires, com muita coragem, contou a história para sua família e seguiu em frente, com força, com garra, com seu filho e seus livros. Merece todo o nosso aplauso e a nossa solidariedade.
Tamires segue em frente, com a cabeça erguida, cuidando de seu filho e, cada vez mais, encarando a escrita como profissão. Apesar do pouco tempo nessa aventura, ela vem evoluindo em muitos aspectos. No início da pandemia ela se viu desesperada e paranoica quanto a tudo. Ficar em casa não foi um problema, mas também não foi maravilhoso, na verdade acabou sendo um grande aprendizado. Ela passou a ler e escrever de forma diferente, fez cursos e absorveu muito conteúdo interessante que a fizeram enxergar o que realmente queria, que é escrever profissionalmente. Que assim seja.
Uma guerreira cuja vida daria um belo livro. Mas, se sua história caberia em um bom livro, que ela não deixe de nos presentear com as outras histórias, as que ela cria. Que venham muitas narrativas!
