Olá, pessoal! Estou de volta para mais uma dica. Só que dessa vez não será exatamente uma dica de leitura. Nesse texto não vou falar de uma dica literária, mas de uma dica cultural. Vou continuar falando de livros e deixando aqui sugestões das obras que li e que recomendo para vocês, mas também quero aproveitar esse espaço para falar de outras formas de manifestação cultural, como é o caso agora. Nesse texto não deixarei a dica de um livro, mas é uma dica diferente. Você não vai poder ler, mas vai poder ouvir, pois vou falar de um programa de rádio. E essa dica, para mim, tem gosto de infância pois no final da década de 1970 tive o primeiro contato com esse programa.
Sim, era um programa de rádio, portanto vamos falar de texto, mas do texto utilizado para o rádio e da magia que esse veículo proporciona, pois nos permite imaginar um mundo próprio a partir da narrativa apresentada. É uma viagem, como a dos livros, mas um pouco diferente já que não há a leitura, mas locução, mas o efeito acaba sendo parecido, nos embalando e nos fazendo imaginar um mundo em que nós damos vida aos personagens criados pelos autores.
Para quem gosta de romances policiais essa é, com certeza, uma ótima dica. Hoje vou falar de uma das maiores narrativas policiais criadas para o rádio brasileiro, vou falar do “Teatro de Mistério”.
O Programa
O “Teatro de Mistério” foi um radioteatro produzido e divulgado semanalmente pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro na segunda metade do século XX. Os episódios eram escritos por Hélio do Soveral, radialista e escritor português que viveu no Brasil por cerca de 60 anos.
O primeiro episódio foi ao ar em 1957, no dia seis de novembro. A importância do rádio era tão grande na época e a expectativa de sucesso sobre o programa também era considerável que foi realizado um coquetel, na Rádio Nacional, para convidados que puderam acompanhar a audição do primeiro episódio. Uma estreia em grande estilo.
Em seu início o programa foi chamado de “Teatro de Mistério Philco”. Ao longo do tempo mudou algumas vezes de nome, de acordo com o patrocinador do momento. O primeiro episódio foi “Assassino de Mulheres”. A trama envolvia uma sequência de mortes de mulheres, realizadas por alguém que parecia ter habilidades médicas e que, além de matar, extraia o coração de suas vítimas. No local do crime era sempre deixado um cartão de visitas. A trama se desenrola até que se chega ao culpado. Se você quiser conferir esse primeiro episódio, basta acessar o link abaixo:
Muitos outros episódios obtiveram ótima audiência e fizeram muito sucesso como “A Arma do Crime”, “Questão de Provas”, “O Assassino Bate à Sua Porta”, “História de Duas Mãos”, “O Caso dos Estranhos Acidentes”, “Assalto no Beco”, “Perigo na Pedra do Conde”.
O programa apresentava uma boa audiência e a Rádio Nacional liderava no horário com o programa. Inicialmente os episódios eram apresentados às quartas-feiras das 22:00 às 23:00 horas.
Entre os anos 1950 e o início dos anos 1980, a Rádio Nacional ocupou parte de sua programação com o “Teatro de Mistério”. Mesmo diante da força da TV, muitos jovens ainda paravam em frente ao rádio para ouvir as peças de radioteatro que enfocavam histórias de crimes e mistério. Os casos eram investigados por Inspetores da Polícia Judiciária, criados pelo talento de Hélio do Soveral. O autor criou o Inspetor Marques, que ganhou vida na voz de Rodolfo Mayer e o Detetive Zito, personificado por Gerdal dos Santos. Depois, Hélio do Soveral criou o Inspetor Santos, interpretado por Domício Costa e seu amigo, o japonês Minôro, na voz de Cauê Filho.
Ao todo foram mais de 300 programas escritos por Soveral, que encantaram os ouvintes ao longo do tempo. O programa era produzido com muita qualidade pelos profissionais da Rádio Nacional, mas nada teria sido possível sem o talento de Hélio do Soveral que escreveu todos os programas
Hélio do Soveral
Hélio do Soveral Rodrigues de Oliveira Trigo era português, nascido na cidade de Setúbal, em 30 de setembro de 1918, filho de Carlos de Oliveira Trigo e Maria Leonilde de Soveral Rodrigues. Veio para o Brasil bem novo onde casou-se com Celina e teve uma filha, Anabelí. Viveu no Rio de Janeiro e, depois, em Brasília, onde morreu atropelado, em 21 de março de 2001, aos 82 anos.
Ele começou sua carreira de escritor em 1935, publicando contos no suplemento policial do jornal “A Nação”. Em 1941 publicou o romance “O Segredo de Ahk-Manethon”.
Na década de 1970 a editora Ediouro, que na época se chamava Tecnoprint, lançou os chamados “livros de bolso”, obras impressas em formato reduzido. A iniciativa deu certo e muitos livros, coleções e séries foram lançadas nesse formato. Soveral publicou dezenas de livros infanto-juvenis nesse formato. Entre suas séries que fizeram muito sucesso naquela época podemos citar “Os Seis”, “Missão Perigosa” e “A Turma do Posto 4”. Ele foi também o criador da série “K. O. Durban”, onde narrava as aventuras de espionagem de Keith Oliver Durban, outra série de muito sucesso do autor.
Hélio do Soveral usou muitos pseudônimos para escrever seus livros como Irani de Castro, Yago Avenir, Luiz de Santiago, Gedeão Madureira, entre outros.
Além das séries, escreveu livros como “Bira e Calunga na Floresta de Cimento” e “Zezinho Sherlock em Dez Mistérios para Resolver”, outras novelas para o rádio, roteiros para o cinema, mais de 200 livros e ainda atuou como tradutor.
Mesmo já diante de uma TV já consolidada no país, o programa mostrou seu potencial e a força do rádio. Atualmente mais de trezentos episódios do “Teatro de Mistério” estão disponíveis na internet. Para quem quiser conhecer e conferir, pode acessar a página “outrasbossas”. Você também pode obter mais informações na página do Facebook.
“Mais um episódio do Teatro de Mistério”
Hélio do Soveral e a magia da radionovela
Pode parecer engraçado, pelo menos para os mais novos, ouvir como sugestão uma radionovela. Com certeza, soa esquisito quando estamos vivendo a era da internet, da tv a cabo, dos celulares e outras tecnologias que nos conectam com todo o mundo em segundos. Mas, é preciso voltar no tempo e entender que naquele momento havia o rádio, a televisão, os jornais e revistas e nada mais. Em termos de entretenimento não havia, na variedade, as opções que temos hoje.
O rádio ainda era um instrumento de comunicação muito importante, e ainda é hoje, possuía uma audiência gigantesca. Por isso, vocês podem imaginar a importância desses programas que, inclusive, às noites, competiam com as novelas da televisão.
E o rádio sempre terá a sua magia pois a partir de uma boa narrativa podemos criar um mundo fantástico. E foi isso que eu fiz muitas vezes, ouvindo o “Teatro de Mistério”, imagina os inspetores e seus auxiliares, os ambientes narrados e toda a história se passava em minha cabeça. E isso, naquela época, foi sensacional, fiz muitas viagens com as histórias de Hélio do Soveral em seu “Teatro de Mistério”.
Por isso recomendo a todos que gostam de uma boa história de mistério que não percam a oportunidade de conhecer essa ótima radionovela. Se você já conhece, deixe aqui a sua opinião, se não conhece, não perca essa oportunidade!