O mestre da escrita o poeta Ariano Suassuna
Viva a poesia, ela nos liberta, nos faz pensar e refletir sobre os mais variados temas. Ler uma boa poesia é como caminhar nas nuvens, viajar aos mais belos recantos sem precisar sair do lugar. Por isso vamos voltar a falar de poesia, seguir para mais uma viagem, para conhecer um fantástico poeta da literatura brasileira.
Um poeta com tantas qualidades que, além de escrever poesias foi romancista, dramaturgo, ensaísta, artista plástico, professor, advogado e palestrante. E, em todos esses campos atuou com uma genialidade ímpar.
Sua arte foi tão rica e bela que, em 2012, foi indicado, pela Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal, para representar nosso país na disputa pelo Prêmio Nobel de Literatura.
Na minha opinião escreveu uma das mais belas obras da nossa literatura, a peça teatral “O Auto da Compadecida”.
Vou falar da vida e da obra de Ariano Suassuna.
Nascido em João Pessoa

Ariano Vilar Suassuna nasceu na Paraíba, em João Pessoa, no dia 16 de junho de 1927, filho do político João Suassuna e de Rita de Cássia Dantas Villar. Quando Ariano nasceu seu pai era o Presidente do Estado da Paraíba, como era denominado o cargo na época, hoje equivaleria a Governador do Estado, e o menino nasceu no Palácio da Redenção, sede do governo.
No ano seguinte seu pai sai do governo e a família vai morar no interior do Estado, na cidade de Sousa. Quando ele estava com três anos uma tragédia se abateu sobre a família Suassuna. Naquele ano, durante os confrontos resultantes da Revolução de 1930 seu pai seria assassinado, no Rio de Janeiro, fato que marcaria profundamente a vida do poeta. A morte de seu pai teria sido uma vingança pela morte de João Pessoa, que havia sido candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Getúlio Vargas, nas eleições daquele ano. Algumas correntes políticas à época atribuíam à João Suassuna participação no crime, uma vez que o autor do crime contra Pessoa era parente de sua esposa. João Suassuna negou qualquer participação no episódio.
Após a morte do patriarca a família muda-se para o município de Taperoá, próximo à Campina Grande, também na Paraíba. O local serviria de cenário para “O Auto da Compadecida”.
Em 1938 a família vai para o Recife e Ariano vai estudar no Colégio Americano Batista. Ele vai se transferir, em 1943, para o Ginásio Pernambuco, onde dá prosseguimento aos estudos.
Ariano Suassuna ingressa na Faculdade de Direito do Recife em 1946, de onde sairia formado em 1950. Lá ele vai fundar, junto com Hermilo Borba Filho, o Teatro do Estudante de Pernambuco. No ano seguinte escreve sua primeira peça, “Uma Mulher Vestida de Sol”.
Carreira Literária
A carreira de Ariano Suassuna começa a partir da publicação dessa peça teatral, mas, já em 1945, ele publicara o poema “Noturno” no Jornal do Commercio do Recife. Em 1947 escreve “Uma Mulher Vestida de Sol”, no ano seguinte “Cantam as Harpas de Sião” ou “O Desertor da Princesa”, encenada no próprio Teatro do Estudante de Pernambuco. Na sequência escreve “Os Homens de Barro”, em 1949. Em 1950 escreve “O Auto de João da Cruz”, que ganharia o Prêmio Martins Pena.
A produção de Suassuna é constante ao longo da década de 1950. Em 1955 ele escreve “O Auto da Compadecida”, que o tornaria famoso em todo o Brasil. Confira as principais publicações de Ariano ao longo do tempo:
Peças
– Uma mulher vestida de Sol – 1947
– Cantam as harpas de Sião ou O desertor de Princesa – 1948
– Os homens de barro – 1949
– Auto de João da Cruz – 1950
– Torturas de um coração – 1950
– O arco desolado – 1952
– O castigo da soberba – 1953
– O Rico Avarento – 1954
– Auto da Compadecida – 1955
– O casamento suspeitoso – 1957
– O santo e a porca – 1957
– O homem da vaca e o poder da fortuna – 1958
– A pena e a lei – 1959
– Farsa da boa preguiça – 1960
– A Caseira e a Catarina – 1962
– As Conchambranças de Quaderna – 1987
Romance
– A História de amor de Fernando e Isaura – 1956
– Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta – 1971
– História d’O Rei Degolado nas caatingas do sertão: ao sol da Onça Caetana – 1977
– A Ilumiara – Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores – 2017 – publicação póstuma
Poesia
– O pasto incendiado – 1945-1970
– Ode – 1955
– Sonetos com mote alheio – 1980
– Sonetos de Albano Cervonegro – 1985
– Poemas (antologia) – 1999
– Os homens de barro – 1949
Obras acadêmicas
– O Movimento Armorial – 1974
– Iniciação à Estética – 1975
– A Onça Castanha e a Ilha Brasil: uma reflexão sobre a cultura brasileira – 1976
Ao todo Ariano publicou 15 livros e escreveu 18 peças teatrais. Com uma obra extensa e rica recebeu vários prêmios e títulos, entre eles:
– Prêmio Nacional de Ficção em 1973 e o prêmio da Fundação Conrado Wessel (FCW) em 2008.
– Medalha de ouro da Associação Brasileira de Críticos Teatrais com “O Auto da Compadecida”.
– Título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2000; pela Universidade Federal da Paraíba (2002); Universidade Federal Rural de Pernambuco (2005); Universidade de Passo Fundo (2005); e Universidade Federal do Ceará (2006).
– Além de prêmios e títulos, Suassuna recebeu várias homenagens por sua brilhante carreia. Em 2002 foi tema de enredo da escola de samba Império Serrano, no carnaval do Rio. Ele voltaria a ser enredo de escola de samba em 2008, desta vez no carnaval paulista, com a Mancha Verde. Já em 2013 a escola Pérola Negra, também de São Paulo, desfilou com tema “O Auto da Compadecida”.
A obra de Ariano Suassuna é fantástica, mas “O Auto da Compadecida” é uma obra prima da literatura brasileira e um marco na carreira do autor. Com toda a justiça, é considerada seu melhor trabalho.
O Auto da Compadecida

A peça, encenada pela primeira vez em 1956, no Teatro Santa Isabel, no Recife, utiliza elementos do teatro popular, dos autos medievais e da literatura de cordel, criando um ambiente cômico, mas ao mesmo tempo de forte crítica social.
A obra descreve a trajetória dos amigos João Grilo e Chicó, dois típicos nordestinos, vítimas da fome, da miséria e da violência dos “Coronéis” do sertão. Apesar de todas as dificuldades que a vida lhes impõe os dois sobrevivem utilizando a inteligência e a esperteza.
O texto aborda temas complexos como a fome, a miséria do povo nordestino, a hipocrisia da sociedade, os desmandos dos poderosos e a religiosidade de uma forma leve, engraçada e extremamente crítica.
Essa e outras obras sensacionais, escritas pelo autor, pavimentaram seu caminho para a Academia Brasileira de Letras.
ABL
A vasta e importante obra fez com que Ariano Suassuna fosse eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1989, tomando posse no ano seguinte para ocupar a cadeira nº 32, cujo patrono é Manuel José de Araújo Porto Alegre. Após a sua morte, foi eleito para ocupar a cadeira em seu lugar Zuenir Ventura.
Além da ABL, Suassuna também foi eleito para a Academia Pernambucana de Letras, em 1993, onde ocupou a cadeira nº 18 e para a Academia Paraibana de Letras, no ano 2000, ocupando a cadeira nº 35.
Educação
Além do grande trabalho literário, Ariano também foi professor e deu aulas na cadeira de “Estética”, na Universidade Federal de Pernambuco, onde lecionou por quase trinta anos.
Além de toda a sua atividade literária e educacional, Ariano Suassuna teve participação em um importante movimento cultural brasileiro, o Movimento Armorial
Movimento Armorial
Ele foi o precursor do Movimento Armorial, criado em 1970 e que tinha como objetivo criar uma arte mais erudita a partir da cultura popular nordestina e seus elementos. O movimento engloba diversas formas de expressão artística como a dança, a literatura, a música, o cinema, o teatro, a arquitetura e artes plásticas.
A premissa do movimento era de que se fazia necessário criar a arte a partir dos elementos originais da cultura popular do país.
Ariano Suassuna foi múltiplo, criando e incentivando a arte. Toda uma vida dedicada à cultura.
Vida Pessoal

Sua vida pessoal foi marcada fortemente pelo assassinato de seu pai, quando Ariano estava com três anos, por questões políticas. Ele formou-se em direito, mas pouco exerceu a profissão, transformando-se em homem da arte e da cultura, escrevendo romances, poesias, peças teatrais, além de dar aula. Foi um escritor completo.
Ariano se casou com Zélia de Andrade Lima Suassuna em 1957 e teve seis filhos, Manuel, Mariana, Ana Rita, Joaquim, Isabel e Maria das Neves.
Além de todo o trabalho artístico, Ariano foi Secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, na gestão do governador Miguel Arraes, de 1994 a 1998.
Ariano Suassuna morreu no Recife, no dia 23 de julho de 2014, por causa de uma parada cardíaca. Ele havia sido internado no dia 21, após ter sofrido um AVC (Acidente Vascular Cerebral).
Frases
– “Arte para mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte para mim é missão, vocação e festa.”
– “Tenho duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza e a morte: o riso a cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver.”
– “Que eu não perca a vontade de ter grandes amigos, mesmo sabendo que, com as voltas do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas.”
– “O sonho é o que leva a gente para frente. Se a gente for seguir a razão, fica aquietado, acomodado.”
– “A humanidade se divide em dois grupos, os que concordam comigo e os equivocados.”
– “Não troco o meu oxente pelo ok de ninguém!”
– “O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso.”

Curiosidades
– Ariano escrevia todos os seus textos à mão, achava desumano escrever no computador;
– A morte de seu pai, João Suassuna, foi um trauma para toda sua vida;
– Ele chamava a morte de “Caetana”, como ela é chamada no sertão da Paraíba e de Pernambuco;
– Muitas de suas ideias apareciam quando estava dormindo. O poema “Sonho” veio exatamente do um sonho que ele teve;
– O poeta nunca saiu do Brasil, não gostava de viagens longas;
– Construiu um santuário ao ar livre, na cidade de São José do Belmonte, em Pernambuco;
– Foi o criador do Movimento Armorial.
Simplesmente um gênio
O que dizer de Ariano Suassuna? Difícil definir um homem com uma capacidade criativa como a dele. Fez de tudo, escreveu romances, poesias, peças teatrais, obras acadêmicas, deu aula, criou um movimento que visava dar preponderância à cultura popular brasileira.
Foi múltiplo e competente. Mais do que competente, foi genial, produzindo obras que fizeram enorme sucesso com o público e a crítica. Em todos os campos em que atuou se destacou.
Se o Rei Midas transformava em ouro tudo o que tocava, Ariano Suassuna transformava em arte de alta qualidade tudo o que criava.
Como ele fazia isso? Não sei, só sei que foi assim.