É sempre bom estar aqui com vocês, falando de cultura, literatura, autores e livros, discutindo todos esses assuntos que nos são tão caros. No último dia 20 de agosto tive a honra de ter meu amigo Borgópio D’Oliveira, sócio da Triuno Livraria, escrevendo um artigo para esse espaço, falando sobre a importância das livrarias, especialmente sobre as livrarias de rua, como é o caso da Triuno.
O artigo foi tão interessante, que me senti tentando a vir até aqui falar um pouco mais sobre as livrarias, de uma forma geral, levantando um pouco da história e da importância desses estabelecimentos para a formação cultural de um povo, no caso o nosso.
As livrarias são lojas onde são vendidos livros e outros produtos relacionados à leitura, como jornais e revistas e, muitas vezes, itens de papelaria. Ao menos essa é a definição clássica. Mas, se avaliarmos de uma forma lírica, uma livraria vende muito mais do que livros, revistas, jornais, canetas, resmas de papel e outros itens semelhantes, ela vende, primordialmente, sonhos e viagens para mundos que jamais serão alcançados de outra forma que não seja por meio da leitura. Ao entrar numa livraria você se depara com os mais variados tipos de livro, romances, poesias, autoajuda, técnicos e muitos outros tipos. Enfim, a viagem está garantida, cabe a você escolher o destino, ou seja, que tipo de livro vai ler.

Hoje muitas livrarias somam ao ambiente literário, por exemplo, um espaço para café, que é uma combinação mágica, café e livros. As livrarias tradicionais estão sempre apresentando novidades e lançamentos que atraiam os leitores, são as novidades que encantam e atraem a clientela ávida por leitura. Outro tipo muito famoso de livraria é o “sebo”, que compra e vende livros usados, em muitos casos por um preço mais em conta. Mas, livros raros podem ser muito caros, mesmo nos “sebos”.
A primeira no Brasil
Apesar de sermos um país onde ainda se lê pouco, temos uma história com a literatura e as livrarias que vem de longa data. A primeira livraria fundada no Brasil foi a “Ao Livro Verde”, no dia 13 de junho de 1844, em Capo dos Goytacazes, cidade localizada no noroeste do Estado do Rio Janeiro. Essa livraria, inclusive, está no Guinness Book como a mais antiga do Brasil, funcionando de forma ininterrupta a 178 anos.

Vale destacar que a “Ao Livro Verde” foi fundada apenas nove anos após a fundação da própria cidade de Campos, ou seja, acompanhou praticamente toda a história do desenvolvimento da cidade.
Outra coincidência que marca essa livraria é que na mesma época da sua fundação, em junho de 1844, desembarcava no Rio de Janeiro o francês Baptiste Louis Garnier, que nesse mesmo ano abriria a Livraria Garnier, que se tornaria uma das mais famosas e badaladas do Rio, funcionando entre 1844 e 1934, quando encerrou suas atividades.
A história da livraria “Ao Livro Verde”, além de longa é muito interessante. A livraria teve, entre seus frequentadores, figuras importantes da literatura brasileira como Austregésilo de Athayde, que foi presidente da Academia Brasileira de Letras, e Rachel de Queiroz. Além disso, a livraria serviu de ambientação para o escritor José Candido de Carvalho, que definiu na livraria o escritório do Coronel Ponciano Furtado, personagem principal do livro “O Coronel e o Lobisomem”. José Candido era amigo de um dos proprietários da “Ao Livro Verde”, João Sobral.
A mais antiga de todas
No Brasil a “Ao Livro Verde” foi fundada em 1844, nossa mais antiga loja de venda de livros. No mundo, a livraria mais antiga foi fundada em 1732, em Lisboa, Portugal, a Bertrand. Em 1755 a livraria enfrentou uma grande tragédia, assim como todo o país. Naquele ano Portugal foi atingido por um terremoto, que foi seguido por um maremoto, e por incêndios que atingiram várias partes da cidade de Lisboa. Os números apontam que aproximadamente 10 mil pessoas morreram na ocasião. O abalo sísmico foi tão grande que estimasse que tenha atingido entre 8 e 9 pontos na escala Richter.

Após a reconstrução da cidade, em 1773, a Bertrand foi instalada em outro local, na rua Garret, onde funciona até os nossos dias. A livraria tornou-se patrimônio cultural da cidade tendo sido frequentada por alguns dos maiores escritores portugueses da história como Eça de Queirós, Antero de Quental, Alexandre Herculano, Ramalho Ortigão e Oliveira Martins, entre outros.
Hoje a Bertrand comercializa, livros e peças relacionadas e, também, é uma famosa e prestigiada editora europeia.
Uma realidade incerta
Apesar da história de sucesso e longevidade da “Ao Livro Verde”, nem tudo são flores no mundo dos livros. O Brasil vem, ao longo dos últimos anos, perdendo livrarias e leitores. Em 2014 eram 3.095 lojas de livros no país, no ano passado esse número havia caído para 2.200 lojas, de acordo com os números da Associação Nacional dos Livros (ANL). O resultado é que perdemos uma livraria, em média, a cada três dias, uma triste realidade. O número de leitores também vem decrescendo em nosso país. Nos últimos sete anos perdemos mais de quatro milhões de leitores. Quase metade da nossa população não está desenvolvendo o hábito da leitura.

Hoje o Brasil possui uma livraria para cada 96 mil habitantes, quando a Unesco, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, aponta como ideal que um país tenha uma loja de livros para cada 10 mil habitantes. Temos um gigantesco déficit nesse aspecto cultural. Se estivéssemos acompanhando a recomendação da Unesco, hoje deveríamos ter algo em torno de 20 mil lojas. Infelizmente, estamos muito distantes dessa realidade.
Por isso, quando vejo uma livraria como a Triuno fico feliz e esperançoso, pois acredito que essa realidade pode se transformar e o número de livrarias pode voltar a crescer, trazendo cultura e saber para toda a população. Parabéns à Triuno e que sua missão, de trazer boa literatura a todos, possa se cumprir com muita qualidade, como tem sido até o momento.
Viva as livrarias, viva a literatura, viva a cultura!