A Morte vem de Cima

6 – O irmão

Enquanto Ricardo estava no escritório, buscando informações sobre os colegas de trabalho de Gustavo, Nando ia procurar o irmão de Gustavo. Ele chegou no endereço indicado, na Tijuca, por volta das nove horas da manhã. Como haviam conversado ao telefone no dia anterior, Nando sabia que o homem esperava por ele.

– Bom dia, senhor Guilherme. – falou o policial mostrando sua identificação para o homem.

– Bom dia inspetor Fernando. – respondeu o homem devolvendo o documento para o policial.

– Eu gostaria de conversar com o senhor sobre seu irmão Gustavo.

– Pois não, em que posso ajudá-lo. Esse acontecimento foi uma grande tragédia. – colocou Guilherme.

– O senhor é o parente mais próximo do senhor Gustavo?

– Sim, o Gustavo era meu irmão.

– Mais algum parente vivo?

– Próximo não. Nossos pais morreram há vários anos. Temos alguns primos, mas distantes, pessoas que mal conhecemos.

– Perfeito. Eu gostaria de falar um pouco sobre o senhor Gustavo, estamos querendo entender o que motivou essa atitude dele. – explicou o policial.

– É difícil dizer, inspetor. Foi uma situação que me pegou de surpresa. Nunca poderia imaginar que ele fosse capaz de tal atitude. – comentou Guilherme – Mas qual o interesse de vocês no caso. Até onde eu sei suicídio não é crime.

– De maneira alguma é crime. – respondeu o policial – Agora, surgiram alguns fatos nessa história que nos levam a acreditar que seu irmão cometeu o suicídio não porque quisesse parar de viver, mas sim porque estava sendo chantageado ou algo parecido.

– Desculpe… – falou o homem, parecendo atordoado com a informação. – O senhor está querendo me dizer que o Gustavo se suicidou porque alguém o estava chantageando?

– Tudo leva a crer que sim, por isso iniciamos essa investigação.

– Mas que fatos são esses?

– Bem, a perícia recolheu alguns e-mails do seu irmão em que ele fala sobre extorsão. – esclareceu Nando.

– Vocês têm algum nome, ele deixou alguma pista?

– Não. Por isso preciso conversar com o senhor, saber se seu irmão tinha inimigos, se mencionou algum fato para o senhor que pudesse revelar a origem desse crime.

– Entendi, mas infelizmente não sei se poderei ajudar a polícia. Nós não éramos muito próximos. Nos falávamos com pouca frequência, de modo que não tenho muito a dizer sobre a vida do Gustavo.

– Os senhores tiveram alguma briga ou algo que os afastasse? – indagou Nando.

– Na verdade, não. Foi a vida que acabou nos afastando. Nossos pais morreram há muitos anos, quando ainda éramos novos, eu estava com 17 e ele com 8. No ano seguinte eu completei 18 anos e entrei para a Academia Militar das Agulhas Negras, sou oficial reformado do Exército, coronel. Fiquei quatro anos em Resende, na Academia. Depois, ao longo de 27 anos, servi em vários locais pelo Brasil. Há seis anos voltei para o Rio e há dois anos fui para a reserva.

– O senhor disse que com 18 anos foi para Resende, para academia militar, então seu irmão estava com nove anos e seus pais já estavam mortos, quem cuidou do Gustavo a partir de então?

– Quando nossos pais morreram nós ficamos na casa da minha tia, irmã da minha mãe. Eu já estava crescido e já vinha me preparando para prestar concurso para a AMAN logo eu saí de lá. Ela não era casada, também era sozinha, então ela ficou com o Gustavo. Até onde eu sei ele morou com minha tia até ela falecer, se não me falha a memória ele estava com 21 anos.

– O senhor manteve contato com sua tia e com seu irmão depois que saiu do Rio? – perguntou Nando.

– Mantinha algum contato por telefone. Ligava sempre que podia para saber como eles estavam. Quando vinha ao Rio me encontrava com eles. Depois que minha tia morreu os encontros foram diminuindo.

– Nem agora, depois que o senhor voltou para o Rio, já na reserva, vocês não passaram a se ver com mais frequência?

– Muito pouco, inspetor. A verdade é que quando garoto, a diferença de idade nos afastava, cada um tinha seus amigos, de acordo com a idade. A morte de nossos pais e minha saída do Rio aumentaram essa distância. Fiquei quase três décadas longe daqui, pouco conhecia o Gustavo, então pouco falávamos, mesmo depois da minha volta para a cidade.

– Então ele não deve ter feito nenhum comentário com o senhor sobre os problemas pessoais que ele estava vivendo, a chantagem, nada parecido?

– Não senhor, inspetor. Ele não comentou nada nas poucas vezes que nos vimos. – respondeu o militar.

– E sobre a mulher e a filha dele, o senhor tem contato com elas?

– Muito pouco também. Estive poucas vezes com elas. Falamos algumas vezes pelo telefone, nada mais do que isso.

– Então o senhor mantém algum contato com elas?

– Esporádico. Hoje em dia com a tecnologia, nos comunicamos com muita gente, até com quem não conhecemos. Eu falava com elas por mensagem de WhatsApp, principalmente para saber da minha sobrinha, mas era tudo muito eventual.

– Vocês estiveram juntos no enterro?

– Mas é claro, inspetor. Estive com elas, levei meu abraço e meu conforto pela perda. Mas nada além disso.

– O senhor sabe se ele tinha inimigos ele chegou a fazer algum comentário sobre isso?

– Não. Além de não termos proximidade, o Gustavo era uma pessoa muito reservada, não gostava de falar da própria vida, nunca me disse nada.

– O senhor sabe se ele tinha algum seguro de vida ou algo parecido?

– O pessoal do escritório me disse que havia um seguro de vida, que estava em nome da minha sobrinha.

– Compreendo. Os pertences dele ainda estão com a empresa, o senhor sabe me dizer? – indagou Nando.

– Não, não sei para quem entregaram.

– O senhor sabe se ele tinha amigos fora do escritório?

– Não sei lhe informar, ele nunca comentou nada sobre quem quer que fosse.

– Tudo bem, não vou mais lhe incomodar, coronel. Agradeço por sua atenção.

– Por nada, estou às ordens. Precisando o senhor já tem o meu contato. – despediu-se o coronel.

Depois que deixou o apartamento do coronel Nando rumou para a casa da ex-mulher de Gustavo, que, para sua sorte, também ficava na Tijuca.

Compartilhe este post nas suas redes:

Deixe um comentário

Quem leu este post também gostou: