O legado de um escritor pode ser medido pela importância que sua obra adquire, principalmente para as gerações futuras. Quanto mais suas obras são lidas, estudadas e indicadas, maior a sua influência ao longo do tempo.
Esse autor, do qual falaremos agora, teve uma importância muito grande para a literatura no século XIX, pois é considerado o precursor de uma nova escola literária da época, o naturalismo. Foi um dos mais importantes expoentes da literatura francesa e europeia naquele século. Vamos conhecer um pouco da vida e da obra de Émile Zola.
Zola
Émile-Edouard-Charles- Antoine Zola nasceu em Paris, na França, no dia dois de abril de 1840. Era filho do casal François Zola e Émilie Aubert. Seu pai era italiano, um engenheiro civil. Ele cresceu na província de Aix-en-Provence, sul da França. Lá estudou no Collège Bourbon, onde se tornou amigo Paul Cézanne, que se tornaria um dos grandes pintores da França.
Em 1847 ocorre o falecimento de seu pai. Ele e a mãe passam por dificuldades financeiras. Aos 13 anos de idade começou a escrever seus primeiros textos. Aos 18 voltou para Paris, onde sua mãe foi trabalhar como doméstica. Zola tentou por duas vezes entrar na faculdade de direito, mas foi reprovado em ambas as tentativas e acabou desistindo de ingressar na universidade.
Na sequência ele consegue um emprego nas docas de Paris, mas esse dura pouco e ele continua a ser sustentado pela mãe. Diante deste quadro, Zola decide sair de casa e viver por conta própria, quando suas dificuldades financeiras vão aumentar.
Em 1862 consegue emprego na editora Hachette, logo depois vai trabalhar também no jornal ‘L’Événement’ e consegue melhorar sua situação.
A literatura
Trabalhando na área de vendas da editora e já com vários textos escritos, Émile Zola publicou seu primeiro livro em 1864, “Contos a Ninon”, uma coletânea de novelas. No ano seguinte lança seu primeiro romance, “A Confissão de Claude”.
Esses dois primeiros livros não alcançaram muito sucesso na época. O reconhecimento só viria com a publicação de sua obra, “Thérèse Raquin”, de 1867. Nesse período Zola se tornou amigo de grandes artistas e escritores como Gustave Flaubert, Claude Manet e Camile Pissarro.
Além desses livros, Émile Zola publicaria uma extensa quantidade de novas obras que o tornariam famoso. Confira a relação.
Obras
– Contos a Ninon – 1864
– A confissão de Claude – 1865
– O meu ódio – 1866
– Os mistérios de Marseille – 1867
– Thérèse Raquin – 1867
– Madeleine Férat – 1868
– A fortuna dos Rougon – 1870
– O regabofe – 1871
– O ventre de Paris – 1873
– Novos contos a Ninon – 1874
– A conquista de Plassans – 1874
– Os herdeiros Rabourdin – 1874
– O crime do padre Mouret – 1875
– O senhor Ministro – 1876
– A taberna – 1876
– Uma página de amor – 1878
– O botão de rosa – 1878
– Naná – 1879
– Madame Sourdis – 1880
– O romance experimental – 1880
– O capitão Burle – 1882
– A roupa suja – 1882
– O paraíso das damas – 1883
– A alegria de viver – 1884
– Germinal – 1885
– A obra – 1886
– A terra – 1887
– O sonho – 1888
– A besta humana – 1890
– O dinheiro – 1891
– A derrocada – 1892
– O doutor Pascal – 1893
– Lourdes – 1894
– Roma – 1896
– Paris – 1898
– Fecundidade – 1899
– A verdade em marcha – 1901
Zola escreveu várias obras de sucesso, mas se livro mais conhecido, que é considerada sua principal obra, foi “Germinal”.
Germinal
Esse foi o livro que se tornou uma referência da estética naturalista, com uma narrativa crua e totalmente realista das condições subumanas a que eram obrigados a enfrentar os trabalhadores franceses. Eles atuavam em uma mina de carvão em condições muitos precárias, o que os leva a se revoltarem e organizarem uma greve para reivindicar melhores condições de trabalho. A manifestação sofre forte repressão e é desfeita de forma violenta.
Para ajudar no processo de escrita desta obra, Zola trabalhou em uma mina de carvão por dois meses, quando pode vivenciar o grau de dificuldade e insalubridade que os mineiros enfrentavam então.
O livro é uma forte crítica à sociedade francesa da época e colecionou fãs e detratores, de acordo com a natureza social do leitor.
Prisão e exílio
Essa veia crítica da obra de Zola fez com que ele se envolvesse em um caso polêmico, que teve grande repercussão na época, a condenação e prisão do capitão do exército francês Alfred Dreyfus.
Dreyfus foi acusado de traição por generais franceses. Em janeiro de 1898 em carta publicada na primeira página do jornal ‘L’Aurore’, direcionada ao presidente da França e intitulada “J’accuse” (Eu Acuso), Émile Zola defendeu o capitão Dreyfus, alegando que os generais haviam forjado provas contra o capitão por questões de antissemitismo, pois Dreyfus era judeu. Por esse comportamento Zola foi processado e condenado à prisão, sendo obrigado e fugir para a Inglaterra com sua esposa Éléonore Alexandrine Meley, com quem havia se casado em 1870.
Quase um ano depois o caso Dreyfus foi reaberto e o capitão foi inocentado e solto. Na sequência Zola e sua esposa puderam retornar à França.
Vida pessoal e morte prematura
A vida pessoal de Zola foi atribulada, desde as dificuldades enfrentadas na infância após a morte de seu pai. Ele teve uma vida difícil até começar a trabalhar na editora Hachette e, depois, ao fazer sucesso como escritor.
Em 1870 casa-se com Élénore, mas, em 1888, inicia um romance extraconjugal com Jeanne Rozerot, que vai durar até a sua morte e que lhe deu dois filhos.
Émile Zola morreu no dia 29 de setembro de 1902, em Paris, em consequência da inalação de monóxido de carbono, por conta de um problema na chaminé de seu apartamento, sua mulher sobreviveu. Em função das circunstâncias inusitadas do ocorrido, muitas pessoas levantaram a hipótese de que o escritor teria sido assassinado, mas nada foi provado e o caso foi encerrado como um infeliz acidente.
Frases
Émile Zola criou várias frases que se tornaram famosas, confira algumas delas:
– “Os governos suspeitam da literatura porque é uma força que lhe escapa.”
– “O sofrimento é o melhor remédio para acordar o espírito.”
– “Privado de uma paixão, o homem ficaria mutilado como se o privassem de um dos sentidos!”
– “Se você me perguntar o que eu vim fazer neste mundo, eu lhe direi: eu vim para viver em voz alta.”
– “Se você calar a verdade e enterrá-la, ela ficará por lá. Mas, pode ter certeza que, um dia, ela germinará.”
Brilhante e polêmico
Émile Zola viveu em uma época em que os trabalhadores não eram respeitados, as jornadas de trabalho eram extensas e estafantes, as condições eram muitas vezes insalubres e os trabalhadores pouco podiam reclamar. Ele foi uma voz que se levantou contra as injustiças sociais e usou a literatura para confrontar o poder econômico e os governos.
Foi brilhante como escritor e como defensor das injustiças, um autor que merece ser lido por todas as gerações, principalmente pelos trabalhadores, pois eles têm muito a aprender com a obra de Émile Zola.