Infelizmente, nesse momento, precisamos esquecer por alguns momentos a literatura, os livros, autores e histórias de quem periodicamente falamos aqui nesse espaço. Tudo precisa e deve ficar em segundo plano diante da tragédia que se abateu sobre o Estado do Rio Grande do Sul e todo o Brasil, pois afinal se um Estado e sua população sofrem, todos sofrem. Pelo menos todos deveríamos estar irmanados com o drama gaúcho e mobilizados para ajudar.
Não gostaria de estar usando essas linhas para falar de uma catástrofe que já tirou a vida de centenas de pessoas, deixando outras tantas desaparecidas e milhares de desabrigados. Cidadãos e cidadãs que perderam tudo aquilo porque tanto lutaram para construir, que suaram anos para conquistar, tudo foi levado pela enxurrada.
Causa agonia e tristeza ver o desespero dos atingidos e a destruição causada pelas chuvas.
É preciso socorrer, acolher e ajudar os que estão nessa situação trágica. Precisamos salvar vidas, seja de pessoas, seja de animais, isso é o básico a ser feito, creio que não haja discussão sobre essa questão.
Socorrer as vítimas, tristemente enterrar e chorar os mortos, esperar a chuva passar, as águas baixarem para contabilizar as perdas e iniciar a reconstrução. Esse processo não será rápido, muito menos indolor. Cada morador do Rio Grande do Sul sabe o que vai carregar no peito de agora em diante, muitas vezes as imagens ficam gravada em nossa memória e nos perseguem como uma assombração pelo resto de nossas vidas.
É preciso um trabalho psicológico junto a essas pessoas para assegurar a recuperação, tanto emocional como financeira. Isso precisa ser feito com urgência, pois quem está na condição de desabrigado tem pressa.
Mas, por outro lado, existe uma coisa que também precisa ser feita com urgência, que não pode ser deixada para depois, que é a discussão sobre as mudanças climáticas e as alterações promovidas na legislação ambiental, tanto no Brasil, pelo Congresso Nacional, como pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, que favoreceram esse tipo de desastre.
Não se trata de caçar bruxas, mas as pessoas precisam assumir a responsabilidade pelos seus atos. As chuvas atingiram de forma drástica 446 municípios do Estado, com níveis recordes de intensidade o que, por si só, já é um grande problema, pois provoca a cheia dos rios e o risco de transbordamentos.
O problema é que parte do caos ocasionado pelas chuvas vem em decorrência das ações do homem que promoveu a construção em locais inapropriados para o levantamento de estruturas de concreto; a inadequada manutenção de diques de contenção e de barreiras protetoras contra alagamentos; além do desmatamento e utilização de terras para plantio de forma incorreta e perigosa.
No ano passado o Rio Grande do Sul enfrentou fortes chuvas que causaram enchentes pelo Estado e vários problemas relacionados à prevenção de cheias foram detectados. De lá para cá o que foi feito para corrigir esses problemas?
Pouco ou nada foi feito. Nesse caso nossa melhor opção é a torcida para que não chova forte. Infelizmente a torcida não deu resultado, a chuva torrencial veio e o resultado está aí, caos, destruição e morte por todo o Estado.
O Rio Grande do Sul, em sua maior parte, precisará ser reconstruído. Que essa tragédia nos sirva de lição e exemplo, para que possamos fazer a reconstrução do Rio Grande dentro de uma visão ambiental correta, que assegure a sustentabilidade do Estado. Claro que ele precisa ser economicamente viável, mas também deve ser ambientalmente responsável, para evitar novas tragédias.
Precisamos parar com discursos rasteiros e com a propagação de “fake News”. É hora de pensar na população gaúcha, buscando a reconstrução das cidades de forma a que elas estejam prontas para enfrentar de forma mais adequada tragédias climáticas como essa.
Ou paramos com discursos vazios e efetuamos uma reconstrução modelo do Rio Grande do Sul, que sirva de exemplo para os demais Estados ou devemos nos preparar para a próxima tragédia para contabilizar mais mortos, desaparecidos e perdas. Se isso acontecer será o pior dos mundos.
Está na hora de prestarmos atenção ao que tem a nos dizer aquelas pessoas que estudam o clima, o solo e sua ocupação, seja para moradia, seja para plantio ou para o pasto. Precisamos entender, de uma vez por todas, que a natureza sempre cobra o preço pela irresponsabilidade humana.
Cabe a nós, seres humanos, tomarmos consciência de nossos atos e agirmos de forma lógica e coerente, caso contrário continuaremos a chorar nossas perdas.
Que a tragédia no Rio Grande do Sul sirva de exemplo para todo o Brasil e para o mundo, afinal “prevenir é sempre melhor do que remediar”.