A literatura nos ofereceu, ao longo do tempo, grandes autores e autoras dos mais variados gêneros. No caso do romance policial não é diferente, a história reservou um espaço especial para esses autores, desde o precursor Edgar Allan Poe, passando pelo mais famoso detetive dos livros, Sherlock Holmes, de Sir Arthur Conan Doyle, chegando a mais bem sucedida autora do gênero, Agatha Christie, que já vendeu bilhões de exemplares de seus livros, muitos autores se consagraram escrevendo histórias policiais.
Falando um pouco mais sobre romances policiais, a Inglaterra sempre apresentou grandes escritores e escritoras desse gênero, um deles foi Arthur Morrison de quem vamos falar agora.
Arthur
Arthur Morrison nasceu em Londres no dia primeiro de novembro de 1863. Sua origem era humilde, ele era filho de um mecânico de máquinas a vapor, que eram a ponta de lança da revolução industrial da época.
Seu pai morreu, em um acidente de trabalho, quando Arthur estava com seis anos e sua mãe precisou sustentar os três filhos. Essa fase da vida de Morrison não é muito conhecida, pois os relatos apontam que o próprio autor tentava esconder seu passado humilde e de muitas dificuldades financeiras.
O que se sabe é que Morrison não possuía recursos para frequentar escolas secundárias e a universidade e, portanto, avançou nos estudos de forma autodidata.
Em 1879 ele foi trabalhar no Conselho Escolar de Londres, como assistente de arquiteto. Nessa época já publicava seus artigos em jornais e revistas. Em 1880 publica um poema na revista ‘Cycling’, mostrando suas inclinações literárias.
Mais tarde, em 1885, foi trabalhar no Palácio do Povo, um centro educacional e de cultura para a população mais carente do East End, um distrito popular localizado no leste de Londres, onde Morrison nasceu.
Em 1889 torna-se editor do semanário ‘Palace Journal’, onde vai aprofundar seu conhecimento sobre jornalismo e a dinâmica de produzir periódicos. Do ‘Palace’ foi para o jornal vespertino ‘The Globe’. Nessa época, além do trabalho jornalístico, Morrison escrevia artigos sobre fenômenos paranormais para a revista ‘People’.
Em 1891 uma coletânea desses artigos seria lançada sob o título “As sombras ao nosso redor”, seu primeiro livro publicado. Após a publicação de sua obra, Morrison decide sair do ‘The Globe’, passando a trabalhar como jornalista freelancer, além de iniciar sua carreira de escritor. Ainda em 1891 ele se casa com a professora Elizabeth Thatcher, que ele havia conhecido no Palácio do Povo.
Após a publicação de “As sombras ao nosso redor, Arthur Morrison teve uma longa e bem-sucedida carreira de escritor, com a publicação das seguintes obras:
– As sombras ao nosso redor – 1891
– Ziguezagues no Zoológico – 1894
– Contos de Ruas Malvadas – 1894
– Martin Hewitt, investigador – 1894
– Crônicas de Martin Hewitt – 1895
– Aventuras de Martin Hewitt – 1896
– Um Filho do Iago – 1896
– A caixa de escrituras de Dorrington – 1897
– Para a cidade de Londres – 1899
– Astuto Murrell – 1900
– O Buraco na Parede – 1902
– O Triângulo Vermelho – 1903
– That Brute Simmons, peça teatral – 1904
– O Olho Verde de Goona – 1904
– Vaidades Diversas – 1905
– The Dumb Cake, peça teatral – 1907
– A Stroke of Business, peça teatral – 1907
– Gengibre Verde – 1909
– Catálogo Ilustrado de Gravuras Japonesas – 1909
– Catálogo Ilustrado de Telas Japonesas – 1910
– Os Pintores do Japão, 2 volumes – 1911
– Contos de hoje e de ontem – 1929
– Violino dos Sonhos – 1933
Romance policial
Inicialmente, seu trabalho literário baseava-se na escrita de obras mais realistas, tendo como referência na dura vida do East End, destacando a miséria e a violência da vida local. Por essa razão foi considerado como o “Zola inglês”, em referência ao escritor francês Émile Zola, que descreve as condições subumanas dos trabalhadores de uma mina de carvão na França em sua obra mais famosa, “Germinal”.
Em 1893 um fato ocorrido no mundo literário vai alavancar a carreira de Morrison como escritor de romances policiais. Nesse ano Sir Arthur Conan Doyle publica a história “O Problema Final” em que Sherlock Holmes se envolve em uma briga com o professor Moriarty, seu inimigo, e cai nas Cataratas de Reichenbach, na Suíça, morrendo.
Claro que posteriormente Sherlock volta à vida e à literatura, mas esse desaparecimento repentino de Holmes faz com que os editores da revista ‘Strand Magazine’, que publicava as aventuras de Sherlock, passem a procurar uma nova série de histórias policiais. Morrison, que já colaborava com a revista, apresenta a primeira série do detetive Martin Hewitt. As histórias de Hewitt se tornaram um grande sucesso.
Após o sucesso de Hewitt, Morrison cria outra série, com outro detetive, Horace Dorrington, consolidando-se como um grande escritor de romances policiais.
Negociante de arte
A partir dos primeiros anos do século XX, já reconhecido como um escritor de sucesso, Arhur deixa de lado suas atividades como escritor e jornalista para se dedicar à coleção de antiguidades, particularmente as peças chinesas e japonesas. Nessa fase ele vai se tornar um negociante de obras de arte. Tanto que a maior parte de suas últimas publicações literárias diziam respeito a catálogos de obras de arte.
Em 1924 foi eleito membro da Royal Society of Literature.
Arthur Morrison faleceu no dia quatro de dezembro de 1945, aos 82 anos, no condado de Buckinghamshire, na Inglaterra, vítima de uma trombose.
Criador de estilo
Arthur Morrison foi um escritor de romances policiais que foi precursor de novos estilos literários para sua época. Primeiro aproveitou sua experiência com a escrita realista da vida cotidiana de East End. Depois criou dois personagens bem distintos no ramo da investigação, mas que marcaram aquele momento.
Primeiro Martin Hewitt, um detetive fora dos padrões da época, de figuras de alta capacidade de raciocínio, como Sherlock Holmes e Hercule Poirot. Hewitt era um sujeito de inteligência mediana, mais próximo da realidade.
Depois criou a figura de Horace Dorrington, um sujeito oportunista e amoral, totalmente fora dos padrões dos detetives daquele momento.
Essas mudanças no status dos detetives de romance policial de sua época, aliadas a qualidade literária de seus escritos, fizeram de Arthur Morrison um dos grandes escritores de romances policiais de seu tempo.
Um autor que vale muito a leitura.