Conto policial “Morte ao Acaso” – Capítulo 2

2 – Os vizinhos

Os dois policiais deixaram os peritos no apartamento da morta e foram até o outro imóvel, que ficava no mesmo andar, três portas depois, onde estavam as pessoas que haviam encontrado a mulher.

– Com licença. – falou Ricardo batendo na porta, que estava entreaberta – Sou o inspetor de polícia, Ricardo. – falou ele mostrando o distintivo – Este é o inspetor Fernando. Nós vamos investigar a morte ocorrida aqui. Como foram vocês que encontraram o corpo, gostaríamos de fazer algumas perguntas.

– Tudo bem. Meu nome é Robson, sou o síndico do prédio. – falou o homem levantando-se do sofá – Essa aqui é a Márcia, vizinha da Suelen, a falecida, ela mora aqui nesse apartamento, esse é o Ângelo, que também é morador do prédio, ele me ajudou a arrombar a porta.

– Vocês poderiam descrever os acontecimentos e qual foi a participação de cada um dos senhores e da senhora. – falou Nando.

– Bem. – agora quem falava era Márcia – Eu sou vizinha da Suelen, nos conhecemos há algum tempo.

– Muito tempo? A quanto tempo ela morava aqui? – perguntou Ricardo.

– Ela morava aqui a uns três anos. Nós nos conhecemos quando ela veio para cá, eu já morava aqui. – esclareceu Márcia.

– As senhoras eram amigas?

– Sim, nós éramos próximas, saíamos juntas para caminhar, para ir à praia, tomar cerveja, enfim, essas coisas.

– Onde a Suelen trabalhava? – perguntou Ricardo.

– Ela não estava trabalhando no momento. Ela trabalhava num restaurante a algumas quadras daqui, mas foi mandada embora mês passado. Parece que mandaram vários empregados embora de uma vez. Desde então ela estava procurando emprego, mas não tinha nada certo.

– Ela trabalhou lá por muito tempo.

– Quando ela veio para cá, já estava trabalhando lá.

– Sabem se ela tinha parentes próximos? – quem perguntava agora era Nando.

– Eu não sei dizer com certeza. Ela não era do Rio, veio de Pernambuco. Não gostava de falar da família, parentes, nada. Sei que ela tinha parentes, mas não falava deles. Só falou mesmo da mãe, de quem ela gostava muito e que já é falecida há muito tempo. Sobre o resto, ela disse que preferia esquecer. Não falava de mais ninguém. Até onde eu sei, ela não tem ninguém aqui no Rio.

– Ninguém mais na vida dela? – quis saber Ricardo.

– Ela tem um, não sei se posso dizer, namorado.

– Como assim não sabe se pode dizer? – indagou Ricardo.

– Ela tinha uma pessoa e gostava de dizer que eles eram namorados. Mas, até onde eu sei, o sujeito é casado. – continuou Márcia.

– Esse namorado tem nome? Um telefone? O que vocês sabem dele? – pontuou Ricardo.

– O nome é Arthur, não sei o sobrenome. Telefone não tenho, não.

– Vamos olhar o telefone dela, deve estar registrado. – disse Nando anotando o nome do sujeito.

– O prédio possuí um sistema de câmeras? – Ricardo perguntou para o síndico.

– Estamos com problemas no sistema, ele está desligado. – respondeu ele.

Os dois policiais se olharam. “Por que esses sistemas de câmeras estão sempre quebrados quando precisamos?”, pensou Ricardo.

– É uma pena, as câmeras são sempre nossas aliadas nessas investigações. – comentou Nando, emendando a pergunta – Pelo que os policiais falaram, vocês três encontraram o corpo, como foi isso?

– A Márcia me procurou hoje pela manhã, preocupada com a Suelen, que estava sumida desde ontem. –  falou Robson.

Após a afirmação do homem, os dois policiais olharam para Márcia, esperando que ela continuasse a narrativa.

– Bem, nós tínhamos combinado de tomar um chopp ontem à noite. Me arrumei, fiquei esperando, mas ela não apareceu.

– Isso era normal? – quis saber Ricardo.

– Às vezes acontecia, quando o tal Arthur aparecia de surpresa ela largava tudo para ficar com ele, mas ela sempre dava um jeito de me avisar. Ontem ela não apareceu, nem me avisou. Então eu desci, dei uma volta, tomei um chopp no bar da esquina e depois voltei para casa.

– E não viu a Suelen?

– Não.

– A senhora chegou a bater na porta dela ontem à noite? – perguntou Ricardo.

– Não. Imaginei que ela estaria com o Arthur e achei melhor não incomodar. Eu voltei e vim direto para o meu apartamento. Hoje acordei, me arrumei e fiquei esperando que ela me chamasse, pois sempre caminhávamos no calçadão aos domingos. Ela acordava mais cedo do que eu e sempre me chamava. Como ela não apareceu, achei estranho e fui lá bater na porta. Bati várias vezes e nada, liguei para o celular dela, mas estava fora de área. Comecei a ficar preocupada e chamei o Robson. Nós batemos e nada, nem um sinal de vida.

– Vocês insistiram muito antes de arrombar a porta?

– Sim. – falou Robson – Batemos várias vezes. A Márcia voltou a ligar para o telefone dela.

– Mas só dava caixa postal. – confirmou Márcia.

– Então, chamei o Ângelo para me ajudar a arrombar a porta. Estávamos achando que ela poderia ter passado mal. Arrombamos a porta e encontramos ela no quarto, de jeito que vocês viram. Não mexemos em nada e chamamos a polícia. – concluiu Robson.

– Fizeram bem. – ponderou Ricardo.

Márcia abaixou a cabeça para chorar.

– Que coisa horrível. Como puderam fazer isso com ela? É muita crueldade. Ela era uma pessoa boa, não merecia isso. – falou Márcia.

Clique aqui a confira o primeiro Capítulo:

Capítulo 1

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