Eu não poderia estar falando de outro autor que não fosse Edgar Allan Poe, considerado o criador do modelo de ficção policial.
Estou de volta pessoal, mais uma vez para falar de romance policial. E quando falamos em literatura, precisamos sempre pensar e enaltecer aqueles que foram os pioneiros, que abriram as portas para outros viessem depois. Eu mesmo estou aqui, conversando com vocês sobre diversos temas ligados à cultura e à literatura porque muitos vieram antes de mim, escrevendo sobre os mais variados temas e abrindo espaço para aqueles que viessem no futuro pudessem desenvolver o seu trabalho com mais consistência.
No caso dos romances policiais, quando falamos em histórias de mistério, alguns nomes nos vêm à mente. Lógico que isso depende do gosto de cada um. Eu tenho minha autora de romances policiais preferida, logo é nela que penso quando falamos no assunto.
Agora, uma coisa é certa, não se pode falar na ficção policial sem mencionar esse autor, que foi o precursor do gênero literário, fato esse admitido até mesmo por quem foi célebre na escrita de mistério, como Sir Arthur Conan Doyle que uma vez afirmou que “Cada uma [das estórias de detetive de Poe] é uma raiz da qual toda uma literatura se desenvolveu… Onde estavam as estórias de detetives antes de Poe soprar o sopro da vida nelas?”. (fonte https://pt.wikipedia.org/wiki/Edgar_Allan_Poe).
Eu não poderia estar falando de outro autor que não fosse Edgar Allan Poe, considerado o criador do modelo de ficção policial.
Breve e criativa
Edgar Allan Poe teve uma vida breve, morreu quando estava com 40 anos e teve uma vida pessoal bastante atribulada, mas extremamente criativa do ponto de vista literário. Ele nasceu em Boston, nos Estados Unidos, no dia 19 de janeiro de 1809, sendo registrado como Edgar Poe. Era filho de David Poe Jr. e Elizabeth Arnold Hopkins Poe, ambos artistas. Ele tinha um irmão mais velho, William Henry, que nasceu em 1808. Em 1810, quando Edgar estava com pouco mais de um ano e sua mãe grávida de sua irmã Rosalie, que nasceria em 1811, o pai abandonou a família.
O ano de 1811 trouxe o nascimento de sua irmã, mas sua mãe faleceria logo depois. O pai, que já havia partido, também morreria naquele ano. As três crianças estavam órfãs, sendo que o mais velho tinha pouco mais de três anos. Henry foi para a casa de parentes, já Rosalie foi entregue para adoção. Edgar foi viver com o casal Francis e John Allan, de quem levaria o sobrenome, apesar de nunca ter sido oficialmente adotado.
John Allan era um próspero homem de negócios e, em 1815, mudou-se com a família para a Inglaterra. Eles retornariam aos Estados Unidos em 1820. Como a família possuía uma boa condição financeira, Edgar teve uma boa educação, tanto na Inglaterra, como nos Estados Unidos. Em Londres, ainda criança, frequentou a Misses Duborg School e a Manor School. De volta aos EUA e à cidade de Richmond, o garoto foi para um colégio interno.
Na medida em que foi crescendo, sua relação com o pai adotivo foi ficando cada vez mais complicada. Em 1826 Poe ingressou na Universidade de Virgínia, mas ficou por pouco tempo. Apesar de ter um bom aproveitamento em disciplinas ligadas à literatura, ficou apenas um semestre na faculdade, pois gastava a maior parte do tempo com mulheres e bebidas, ao invés dos estudos. Isso desgastou ainda mais sua relação com John Allan. Em 1827 publicou uma coletânea de poemas “Tomerlane and Other Poems”.
Na sequência, com a ajuda do pai adotivo conseguiu ingressar na carreira militar, indo servir na Academia Militar dos Estados Unidos, em West Point. Sua carreira militar durou dois anos e, em 1831, acabou sendo expulso por indisciplina, o que ocasionou um novo rompimento com seu pai adotivo.
Edgar então foi morar com sua tia Maria Clemm, que era viúva, e sua prima Virginia, com quem Poe viria a se casar. Nessa época sua mãe adotiva, Francis já havia falecido.
Carreira Literária
Já morando com sua tia, em 1835, ele foi trabalhar como editor na revista The Southern Literary Messenger, uma das mais influentes do Estado da Virgínia, nos Estados Unidos, na época. Em 1837, já casado com sua prima Virginia, foi para Nova York, onde ficou por um ano e meio.
O casal muda-se para a Filadélfia em 1839 e Poe é contratado para ser editor assistente na revista Burton’s Gentleman’s Magazine. Nesse periódico desenvolveria um intenso trabalho jornalístico, escrevendo artigos, críticas literárias e teatrais e publicando ainda suas histórias.
Nessa fase de sua vida sua esposa contraiu turberculose e Poe passou a beber excessivamente. Eles voltam à Nova York e ele vai trabalhar como crítico no The Evening Mirror, quando publica o poema “O Corvo”, que se tornaria seu poema mais famoso, deixo aqui um trecho deste.
O Corvo
Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho
E disse estas palavras tais:
“É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais.”
Ah! bem me lembro! bem me lembro!
Era no glacial dezembro;
Cada brasa do lar sobre o chão refletia
A sua última agonia.
Eu, ansioso pelo sol, buscava
Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora,
E que ninguém chamará jamais.
Em 1846 vai ser editor no Broadway Journal e continua sua produção literária, apesar de todos os problemas pessoais. No ano seguinte ocorreria a morte de Virginia e Poe, cada vez mais, abusa do álcool. Após a morte da esposa manteve um relacionamento com a poetisa Sarah Helen Whitman, mas as constantes bebedeiras dele puseram fim à relação.
Edgar Allan Poe morreria no dia sete de outubro de 1849, de causas desconhecidas. Quatro dias antes de morrer o escritor foi encontrado nas ruas da cidade de Baltimore, em estado delirante. Ele foi internado no Washington College Hospital mas, em nenhum momento conseguiu esclarecer como foi parar naquela situação.
Várias hipóteses foram apontadas como a causa de seu falecimento, entre elas, o álcool, a mais provável, diabetes, sífilis, alguma doença cerebral e até raiva foram apontados como motivo de sua morte.O fato é que ele morreu muito novo, aos 40 anos, deixando um considerável acervo de literário.
Contos
1833 – Manuscrito encontrado numa garrafa
1835 – Berenice
1835 – Morella
1838 – Ligeia
1839 – A Queda da Casa de Usher (“The Fall of the House of Usher”)
1839 – William Wilson
1841 – Os Assassinatos da Rua Morgue (“The Murders in the Rue Morgue”)
1841 – A Descida do Maelstrom
1842 – O Retrato Oval (“The Oval Portrait”)
1842 – A Máscara da Morte Rubra (“The Masque of the Red Death”)
1842 – O Mistério de Marie Rogêt (“The Mystery of Marie Rogêt”)
1842 – O Poço e o Pêndulo (“The Pit and the Pendulum”)
1843 – O Coração Revelador (“Tell Tale Heart”)
1843 – O Escaravelho de Ouro (“The Gold-Bug”)
1843 – O Gato Preto (“The Black Cat”)
1844 – O Enterro Prematuro (“The Premature Burial”)
1844 – A Carta Roubada (“The Purloined Letter”)
1845 – O Demônio da Perversidade (“The Imp of the Perverse”)
1845 – The System of Doctor Tarr and Professor Fether
1845 – Os Fatos que Envolveram o Caso Mr.Valdemar (“The Facts in the Case of M. Valdemar”)
1846 – O Barril de Amontillado (“The Cask of Amontillado”)
1849 – Hop-Frog ou “Os Oito Orangotangos Acorrentados”
Poesia
1827 – Tamerlane
1829 – Al Aaraaf
1830 – Alone
1831 – The City in the Sea
1833 – The Coliseum
1837 – O Verme Vencedor (“The Conqueror Worm”)
1839 – The Haunted Palace
1840 – Silence
1843 – Lenore
1845 – Eulalie
1845 – O Corvo (“The Raven”)
1847 – Ulalume
1848 – To Helen
1849 – A Dream Within a Dream
1849 – Eldorado
1849 – Annabel Lee
1849 – The Bells
Outras obras
1838 – A Narrativa de Arthur Gordon Pym (“The Narrative of Arthur Gordon Pym of Nantucket”)
1844 – The Balloon Hoax
1846 – Filosofia da composição
1848 – Eureka
Curiosidades
- A vida pessoal de Poe foi um grande desencontro. Abandonado pelo pai com pouco mais de um ano, perdeu a mãe um ano depois. Foi criado por um casal que nunca o adotou legalmente e manteve uma relação conturbada com o padrasto. Casou-se com uma prima que faleceu com apenas 24 anos. Morreu aos 40 anos depois de enfrentar o alcoolismo;
- Em Richmond, onde o escritor viveu por uma parte de sua vida há um museu dedicado à sua obra;
- Apesar de seu conhecido pelas histórias de terror, Edgar Allan Poe virou nome de escola para crianças de 4 a 11 anos, em Houston, Texas;
- Se sua vida foi repleta de infortúnios, sua morte foi um grande enigma nunca esclarecido. Poe não soube explicar o que aconteceu com ele nos dias que antecederam seu falecimento;
- Em 1835 ele se casou com sua prima, Virginia, que tinha apenas 13 anos e era 14 anos mais nova que ele. Ela morreria aos 24 anos da mesma doença que vitimara a mãe biológica de Poe, tuberculose;
- Edgar Allan Poe criou primeiro detetive das histórias policiais, Auguste Dupin;
- Seu obituário, publicado pelo jornal New York Daily Tribune, foi escrito por Rufus Griswold, poeta e crítico literário, rival de Poe. Obviamente o texto não foi nada elogioso. “Edgar Allan Poe está morto. Faleceu anteontem em Baltimore. Este anúncio surpreenderá a muitos, mas poucos vão lamentá-lo”.
Seu legado
A vida de Edgar Allan Poe pode ter sido curta, mas sua obra nem tanto e seu legado atravessou os séculos. Não é possível falarmos de romance policial sem lembrar como tudo começou e o início veio justamente por intermédio da obra de Poe.
Ele foi o grande precursor de um estilo que seria consagrado por autores como Sir Arthur Conan Doyle, Agatha Christie, Raymond Chandler, Harlan Coben, Luiz Alfredo Garcia-Roza e tantos outros.
Muitos, como eu, estão hoje aqui, escrevendo romances policiais graças a ele. Mas nem só de mistério e terror foi composta sua escrita, ela também teve influência no gênero da ficção científica. Poe também soube usar de ironia e sarcasmo para escrever contos de humor.
Enfim, o legado de Edgar Allan Poe para a literatura é grandioso, não à toa mais de 170 anos após a sua morte sua escrita continua influenciando e sendo referência para novas gerações de escritores.