Hora de falar de um clássico da literatura universal, de um autor que se consagrou pela construção de uma obra de uma riqueza singular, que lhe rendeu um Prêmio Nobel de Literatura. Vamos falar de José Saramago que foi o primeiro escritor de língua portuguesa a ganhar esse prêmio e foi um grande colecionador de prêmios por conta de sua fenomenal carreira literária.
Infância
José de Sousa Saramago nasceu em Portugal, na freguesia de Azinhaga do Ribatejo, no município de Golegã, no dia 16 de novembro de 1922. Saramago era filho de José de Sousa e de Maria da Piedade. Sua família era de camponeses analfabetos. Quando ele estava com dois anos a família muda-se para Lisboa, onde ele vai passar a maior parte de sua vida. Nessa época seu irmão mais velho, Francisco de Sousa, de quatro anos, vem a falecer.
Ainda muito jovem Saramago mostrou interesse pelos estudos, mas as dificuldades financeiras o impediram de concluí-los. Aos 12 anos ele ingressou em um curso de serralheiro mecânico, que frequentou ao longo de cinco anos. Mesmo sendo um curso técnico, entre as matérias lecionadas estava literatura. A partir dessas aulas e de seu contato com os livros que Saramago desenvolveu seu amor pela poesia e a literatura, se tornando um assíduo frequentador das bibliotecas de Lisboa.
Formado em seu curso, trabalhou como serralheiro mecânico. Depois teve diversas ocupações como desenhista, funcionário público, jornalista, tradutor e editor.
Literatura
Sua estreia na literatura aconteceu em 1947, com o livro “Terra do Pecado”. Depois ficou praticamente duas décadas sem publicar, até o lançamento do livro de poesias “Os Poemas Possíveis”, publicado em 1966. Ao longo da vida escreveu romances, poesias, contos, crônicas, peças teatrais e livros infantis. Uma obra variada e de muita riqueza literária. Confira a obra de Saramago.
Romances
– Terra do Pecado – 1947
– Manual de Pintura e Caligrafia – 1977
– Levantado do Chão – 1980
– Memorial do Convento – 1982
– O Ano da Morte de Ricardo Reis – 1984
– A Jangada de Pedra – 1986
– História do Cerco de Lisboa – 1989
– O Evangelho Segundo Jesus Cristo – 1991
– Ensaio Sobre a Cegueira – 1995
– Todos os Nomes – 1997
– A Caverna – 2000
– O Homem Duplicado – 2002
– Ensaio Sobre a Lucidez – 2004
– As Intermitências da Morte – 2005
– A Viagem do Elefante – 2008
– Caim – 2009
– Claraboia – 2011
– Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas – 2014
Crônicas
– Deste Mundo e do Outro – 1971
– A Bagagem do Viajante – 1973
– As Opiniões que o DL Teve – 1974
Peças teatrais
– A Noite – 1979
– Que Farei com Este Livro? – 1980
– A Segunda Vida de Francisco de Assis – 1987
– In Nomine Dei – 1993
– Don Giovanni ou O Dissoluto Absolvido – 2005
Contos
– Objecto Quase – 1978
– Poética dos Cinco Sentidos – O Ouvido – 1979
– O Conto da Ilha Desconhecida – 1997
Poesia
– Os Poemas Possíveis – 1966
– Provavelmente Alegria – 1970
– O Ano de 1993 – 1975
Diário e Memórias
– Cadernos de Lanzarote (I-V) – 1994
– As Pequenas Memórias – 2006
– Último Caderno de Lanzarote – 2018
Infantil
– A Maior Flor do Mundo – 2001
– O Silêncio da Água – 2011
– O Lagarto – 2016
José Saramago era um homem de postura política forte, também era um enfático crítico da igreja católica, o que ficou evidente em algumas de suas obras, como “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” e “Caim”. Por conta disso enfrentou fortes críticas e ataques, principalmente da igreja católica, ao longo de sua vida.
Curiosidades
– Saramago foi o primeiro escritor de língua Portuguesa a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura
– Somente ao completar 19 anos pode, pela primeira vez, comprar um livro, mesmo assim com dinheiro emprestado
– O nome Saramago foi incluído de forma espontânea pelo funcionário do cartório em alusão ao apelido da família.
– Seu primeiro emprego foi de serralheiro mecânico em uma oficina de automóveis
– José Saramago trabalhou por mais de 20 anos como tradutor, traduzindo textos de Tolstoi, Hegel e Baudelaire, entre outros
– Apesar de ter se tornado internacionalmente famoso, Saramago só foi fazer sua primeira viagem aos 47 anos, para Paris.
– Saramago criou um cão que batizou com o nome de Camões, em razão de ter recebido o prêmio Camões em 1995
Prêmios
Ao longo de sua vida, Saramago recebeu diversos prêmios e títulos, fruto da alta qualidade de seu trabalho, entre eles:
– Prêmio da Associação de Críticos Portugueses – Melhor Peça de Teatro “A Noite” – 1979
– Prêmio Cidade de Lisboa – pelo livro “Levantado do Chão” – 1981
– Prêmio Literário do Município de Lisboa – pelo livro “Memorial do Convento” – 1982
– Prêmio da Crítica do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários – pelo conjunto da obra – 1984
– Prêmio Grinzane-Cavour – pelo livro “O Ano da Morte de Ricardo Reis” – 1987
– Prêmio The Independent Foreign Fiction – pelo livro “O Ano da Morte de Ricardo Reis” – 1993
– Grande Prêmio de Teatro da Associação Portuguesa de Escritores – pela peça “In Nomine Dei” – 1993
– Prêmio Camões – pelo conjunto da obra – 1995
– Prêmio Rosalía de Castro do Prémio Pen Clube (Galiza) – pelo conjunto da obra – 1996
– Prêmio Nobel da Literatura – pelo conjunto da obra – 1998
– Prêmio Canárias Internacional – pelo conjunto da obra – 2001
– Prêmio Dolores Ibárruri – pelo conjunto da obra – 2006
– Prêmio à Cooperação Internacional CajaGranada – pelo conjunto da obra – 2009
Frases
– “Começar a ler foi para mim como entrar num bosque pela primeira vez e encontrar-me, de repente, com todas as árvores, todas as flores, todos os pássaros. Quando fazes isso, o que te deslumbra é o conjunto. Não dizes: gosto desta árvore mais que das outras. Não, cada livro em que entrava, tomava-o como algo único.”
– “Não existe pontuação quando se fala. Falamos em um fluxo modulado por nossos pensamentos e emoções.”
– “Eu digo a um leitor que está a ler um romance meu que ele seja capaz de ouvir dentro da cabeça a voz que está a dizer aquilo que ele está a ler. Ele está a fazer uma leitura silenciosa, o que é normal. O que peço, alguma coisa posso pedir aos leitores, mesmo no sentido de uma compreensão mais exata daquilo que está escrito, é que tente ouvir dentro de sua cabeça essa voz.”
– “Eu sou tão pessimista que acho que a humanidade não tem remédio. Vamos de desastre em desastre e não aprendemos com os erros.””
“É inevitável o sofrimento, o sangue, o genocídio, porque o homem não é bom, pronto!”
“E eu não tenho nem que provar a existência de Deus nem a sua inexistência.”
“Um imbecil é um imbecil, mesmo quando escreve livros.”
“Neste meio século não parece que os governos tenham feito pelos direitos humanos tudo aquilo a que moralmente estavam obrigados.”
Vida Pessoal
Filho de camponeses pobres e analfabetos, preciso trabalhar ainda muito novo. A carreira literária, iniciada aos 25 anos, mudou completamente a história de sua vida, fazendo do filho de camponeses um ganhador do Prêmio Nobel.
Saramago se casou pela primeira vez em 1944 com Ilda Reis, com quem viveria até 1970. Em 1947 nasceria sua filha Violante dos Reis Saramago, no mesmo ano do lançamento de seu primeiro livro “Terra do Pecado”.
Separado de Ilda, viveu com a escritora Isabel da Nóbrega, de 1970 até 1986. Dois anos depois de se separar de Isabel, casou-se com a jornalista Maria del Pilar del Río Sánchez, com quem viveu até a sua morte.
Ao longo da vida o escritor teve uma forte militância política. Em 1969 filiou-se ao Partido Comunista Português e, após a Revolução dos Cravos (1974) integrou o MUTI (Movimento Unitário de Trabalhadores Intelectuais para a Defesa da Revolução). Em 1989 foi candidato nas eleições portuguesas, sendo eleito Presidente da Assembleia Municipal de Lisboa.
Nos últimos anos de vida, Saramago lutou contra uma leucemia. O escritor faleceu no dia 18 de junho de 2010, na Ilha de Lanzarote, onde residiu nos últimos 17 anos de sua vida.
Um escritor notável
José Saramago foi um dos grandes escritores da literatura universal, um dos maiores da língua portuguesa. Sua obra é vasta, complexa e, muitas vezes, contestadora, o que lhe rendeu problemas, principalmente com a igreja católica.
Independente de posições políticas e religiosas, Saramago foi um escritor brilhante, que marcou a literatura do século XX, deixando um legado literário sensacional e por isso deve ser celebrado e lido.
Viva Saramago! Viva a língua portuguesa!
