Vamos falar de mais romance policial e agora vamos conhecer um autor que teve uma importância muito especial na história da literatura, principalmente da americana, e do gênero suspense, trata-se do escritor afro-americano Rudolph Fisher.
Fisher
Rudolph John Chauncey Fisher nasceu no dia nove de maio de 1897, em Washigton D. C., nos Estados Unidos, filho do pastor da Igreja Batista John Wesley Fisher e de Glendora Williamson Fisher. Era o mais novo de três irmãos. Eles foram criados em Rhode Island, na cidade de Providence.
Em 1915 ele conclui o ensino médio, com excelente aproveitamento, e ingressou na Universidade de Brown, localizada em Providence, onde cursou literatura e biologia, concluindo o bacharelado em artes em 1919. Na sequência obteve o mestrado também em artes.
Depois ele estudaria medicina na Universidade Howard, se especializando em radiologia. Em 1924 mudou-se para Nova Iorque e se tornou-se membro do Colégio de Cirurgiões da Universidade Columbia, quando vai publicar vários artigos relacionados às suas pesquisas científicas. No ano de 1927 ele passa a ocupar o cargo de diretor do International Hospital do Harlem. Nessa fase, além dos artigos científicos, Rudolph já escrevia suas histórias e poemas. A vivência dentro da medicina serviu de inspiração para suas obras de mistério.
Literatura
A carreira literária de Rudolph ganhou impulso em 1928 quando ele publicou seu primeiro livro, “Walls of Jericho”. Essa obra é fruto de um desafio proposto por um amigo a Fisher, de escrever uma história tratando as classes altas e baixas do Harlem de forma igualitária.
Desafio proposto, desafio aceito e o autor produziu seu primeiro livro com a mensagem de que é possível aos afrodescendentes americanos ascenderem na vida, mostrando união contra uma trajetória de opressão.
Se essa obra já era forte e apontava para a questão racial, o melhor de Rudolph ainda estava por vir. Em 1932 ele lança “The Conjure-Man Dies”, lançado aqui no Brasil como “A Morte do Adivinho”. Rudolph é um negro, que escreve um romance policial cujo detetive era negro e com personagens em sua maioria negros, ambientado no Harlem, uma novidade para a época. Ele traz a cultura negra para a ordem do dia.
Além desses trabalhos, Fisher escreveu outros contos, ensaios e mais um livro. Confira:
Contos
– The City of Refuge – 1925
– The South Lingers On – 1925
– Vestige – 1925
– Ringtail – 1925
– High Yaller – 1925
– The Promised Land – 1927
– The Backslider – 1927
– Blades of Steel – 1927
– Fire by Night – 1927
– Common Meter – 1930
– Dust – 1931
– Ezkiel – 1932
– Ezkiel Learns – 1933
– Guardian of the Law – 1933
– Miss Cynthie – 1933
– John Archer’s Nose – 1935
Livros
– The Walls of Jericho – 1928
– The Conjure-Man Dies – 1932
Ensaios
– Action of Ultraviolet Light upon Bacteriophage and Filterable Viruses – 1926
– The Caucasian Storms Harlem – 1927
– The Resistance of Different Concentrations of a Bacteriophage of Ultraviolet Rays – 1927
The Conjure-Man Dies
A obra de Rudolph Fisher chegou ao Brasil recentemente, com o lançamento de “The Conjure-Man Dies”, publicado por aqui em 2023 com o título “A Morte do Adivinho”, pela Harper Collins, como parte do “Clube do Crime”.
A história fala do africano N’Gana Frimbo, que vai para os Estados Unidos estudar e acaba se fixando no Harlem e ganhando a vida como adivinho. Ele é assassinado e a investigação fica a cargo do detetive Perry Dart, um policial negro, auxiliado pelo médico Dr. Archer. Uma trama muito interessante e cheia de reviravoltas, que descreve a situação da população negra do Harlem na década de 1930. Um belo romance policial.
Curiosidades
– Rudolph Fisher foi o primeiro negro americano a publicar um romance policial;
– Ele foi um dos primeiros médicos afrodescendentes a clinicar em Nova York;
– Além de escritor e médico, Fisher também era um ótimo pianista e compositor;
Vida Pessoal
Rudolph Fisher passou boa parte de sua vida no Harlem e usou o bairro como inspiração para seus livros, contos e músicas.
Ele se casou com a professora Jane Ryder, em 1923, e eles tiveram um filho, Hugh, nascido em 1925.
O autor faleceu no dia 26 de dezembro de 1934, em Nova Iorque, vítima de um câncer na região do estômago. Na época ficou a suspeita de que o câncer teria sido causado pela exposição excessiva de Rudolph à radiação, em função de seu trabalho como radiologista.
Pioneiro
Rudolph Fisher ainda é um escritor pouco conhecido no Brasil. Ele foi um grande artista, que produziu uma bela obra, apesar de ter vivido apenas 37 anos. Ele foi escritor, músico, dramaturgo, além de médico e radiologista. Foi um dos pioneiros do movimento ‘Renascimento do Harlem’, um movimento cultural iniciado na década de 1920 nos Estados Unidos, que apresentou ao mundo intelectuais, escritores, músicos e poetas negros, valorizando expressões culturais vindas da África.
Apesar de ter vivido pouco, Rudolph deixou um legado fantástico não só para a literatura americana, mas também para a literatura mundial, por sua luta para desenvolver a cultura no Harlem, valorizando suas raízes negras e se transformando em uma referência literária, numa época em que poucos negros tinham a oportunidade de escrever e publicar, ainda mais utilizando personagens negros.
Rudolph Fisher foi um escritor pioneiro que merece ser lembrado, lido e reverenciado.