Hora de clássico, de falar da vida e da obra de um dos grandes autores da literatura universal, um alemão que marcou a literatura na primeira metade do século XX e se tornou dos maiores escritores do período, Thomas Mann.
Thomas
Paul Thomas Mann nasceu no dia seis de junho de 1875, na cidade portuária de Lübeck, ao norte da Alemanha. Descendente de uma proeminente família de burgueses, era filho de Thomas Johann Heinrich Mann, um respeitado comerciante de grãos e senador da cidade e de Julia da Silva-Bruhns, mulher de origem brasileira, nascida em Paraty. Sua mãe era de ascendência luso-germânica, uma mulher com grande sensibilidade artística, que influenciaria profundamente o futuro de seu filho escritor. Essa mistura entre rigor germânico e temperamento mais sensível e imaginativo, herdado da mãe, tornou-se uma marca evidente em sua personalidade e literatura.
Thomas Mann cresceu em um ambiente que valorizava cultura, disciplina e formação intelectual. Tinha quatro irmãos: Heinrich Mann, que mais tarde se tornaria também um romancista célebre; Carla, com vocação artística; Julia; e o meio-irmão Victor, do segundo casamento do pai.
O convívio com Heinrich, sobretudo, foi importante e complexo, marcado por admiração mútua, rivalidade e divergências políticas entre os irmãos que atravessaram décadas.
A infância de Mann terminou abruptamente com a morte do pai em 1891. A falência da firma comercial da família obrigou a mudança da família para Munique, onde Thomas e Heinrich puderam enfim se aproximar de ambientes literários e intelectuais mais vibrantes.
Thomas Mann estudou em escolas tradicionais, mas nunca foi um aluno entusiasmado pelos métodos rígidos da educação alemã. Após concluir a escola técnica, tentou seguir carreira no funcionalismo público de Munique, porém logo abandonou o caminho. Frequentou por um curto período a Universidade Técnica de Munique, estudando história, economia e literatura, mas também não se fixou. Foi na escrita que encontrou sua vocação definitiva.
Literatura
Seu primeiro grande sucesso veio com o romance “Os Buddenbrook” (1901), obra inspirada na trajetória de sua própria família e que mistura crítica social, análise psicológica e observação minuciosa do declínio de uma dinastia burguesa.
O livro rendeu a Mann reconhecimento imediato e, décadas depois, o Prêmio Nobel de Literatura (1929). Seguiram-se obras que marcaram profundamente a literatura do século XX, como A Morte em Veneza (1912), relato emblemático do conflito entre razão e paixão, e o monumental A Montanha Mágica (1924), que revela a crise espiritual da Europa pré-Primeira Guerra por meio da metáfora de um sanatório nos Alpes.
Confira as obras escritas por Thomas Mann.
– Buddenbrooks – 1901
– Tonio Kroger – 1903
– Sua Alteza Real – 1909
– A Morte em Veneza – 1912
– Ensaios Sobre Friedrich II, rei da Prússia – 1915
– Considerações de Um Apolítico – 1918
– The German Republic – 1922
– A Montanha Mágica – 1924
– Disorder and Early Sorrow – 1926
– Freud – 1929
– Mário e o Mágico – 1930
– Goethe – 1932
– Wagner – 1933
– José e Seus Irmãos – 1933
– As Histórias de Jacó – 1933
– O Jovem José – 1934
– José no Egito – 1936
– José, o Provedor – 1943
– Das Problem der Freiheit – 1937
– Lotte in Weimar or The Beloved Returns – 1939
– As Cabeças Trocadas – 1940
– Doutor Fausto – 1947
– Der Erwählte – 1951
– Confissões do Impostor Félix Krull – 1922/1954
Sua carreira literária foi acompanhada de intensa participação política e intelectual. Inicialmente conservador e defensor do espírito burguês alemão, Mann evoluiu para uma postura humanista e democrática, tornando-se crítico feroz do nazismo.
Em 1933, após a ascensão de Hitler, exilou-se na Suíça e depois nos Estados Unidos, onde se tornou uma das vozes literárias mais influentes contra o totalitarismo. Após a Segunda Guerra, viveu entre a Suíça e os EUA, mantendo constante produção literária e ensaística.
No âmbito familiar, Mann casou-se em 1905 com Katia Pringsheim, pertencente a uma das famílias intelectuais mais ricas e brilhantes de Munique. O casal teve seis filhos, muitos deles também figuras destacadas na cultura europeia e americana, o escritor Klaus, a atriz Erika, o historiador Golo, a ensaísta Monika, o violinista e literato Michael Thomas e a cientista Elisabeth.A casa dos Mann tornou-se um centro de debates artísticos, políticos e filosóficos.
Entre as curiosidades, Thomas Mann era um observador compulsivo, anotando impressões diárias em extensos diários, que só foram publicados décadas após sua morte e revelaram aspectos íntimos de sua vida emocional.
Era também apaixonado por música, especialmente pelo compositor alemão Wagner, cuja obra influenciou profundamente sua estética e estrutura narrativa. Apesar da imagem austera e disciplinada, Mann cultivava humor irônico e sensibilidade refinada, perceptíveis tanto em seus romances quanto em ensaios e discursos.
Frases
Algumas frases marcantes atribuídas a Thomas Mann, algumas incluídas em seus livros:
– “Aquilo a que chamamos felicidade consiste na harmonia e na serenidade, na consciência de uma finalidade, numa orientação positiva, convencida e decidida do espírito, ou seja, na paz da alma.”
– “A solidão mostra o original, a beleza ousada e surpreendente, a poesia. Mas a solidão também mostra o avesso, o desproporcionado, o absurdo e o ilícito.”
– “O escritor é um homem que mais do que qualquer outro tem dificuldade para escrever.”
– “A felicidade do escritor é o pensamento que consegue transformar-se completamente em sentimento, é o sentimento que consegue transformar-se completamente em pensamento.”
– “O tempo tudo clarifica e não há estado de espírito que se mantenha inalterado com o passar das horas.”
– “Uma das situações da vida mais cheia de esperanças é aquela em que estamos tão mal que já não poderíamos estar pior.”
– “Trago em mim o germe, o início, a possibilidade para todas as capacidades e confirmações do mundo.”
– “Há pessoas as quais não é fácil conviver, mas que jamais se podem abandonar.”
– “Um professor é a personificada consciência do aluno; confirma-o nas suas dúvidas; explica-lhe o motivo de sua insatisfação e lhe estimula a vontade de melhorar.”
– “A gente só fica irritado e zangado com uma proposta quando não está muito seguro de poder resisitir-lhe e está intimamente tentado a aceitá-la.”
– “A tolerância torna-se crime quando aplicada ao mal.”
– “A paixão é um fogo que só a razão pode conter, mas nunca apagar.”
– “A escrita é a forma mais profunda de ler a vida.”
Morte
Thomas Mann faleceu em 12 de agosto de 1955, em Zurique, vítima de complicações vasculares.
Uma referência
Morreu como um dos escritores mais importantes da modernidade, figura central da literatura europeia e referência inquestionável na análise do espírito burguês, das crises da civilização ocidental e da complexidade da condição humana.
Seu legado permanece vivo, tanto por sua obra monumental quanto pelo exemplo de intelectual que, em tempos turbulentos, colocou sua voz a serviço da dignidade humana e da liberdade.
































