Chegou a hora de falarmos de poesia e de mais um grande poeta da nossa literatura. Ele apresentou um talento único e diversificado, pois além de poeta, foi tradutor, crítico literário, professor, músico, jornalista e publicitário. Infelizmente sua vida foi curta e nos vimos privados de seus múltiplos talentos de forma precoce. Vamos falar um pouco da vida e da obra do poeta Paulo Leminski.
Paulo
Paulo Leminski Filho nasceu no dia 24 de agosto de 1944, em Curitiba, no Paraná. Era filho de Paulo Leminski e de Áurea Pereira Mendes. Seu pai era descendente de poloneses, já sua mãe era de origem indígena e negra.
Em sua infância estudou no Colégio Estadual do Paraná que, naquela época, era considerado o maior colégio público do Estado. O jovem chamava atenção por sua capacidade de aprendizado e pela inteligência que demonstrava ainda muito novo.
Aos 14 anos ele sai de Curitiba e vai para São Paulo, para estudar no Mosteiro de São Bento. Lá ele permaneceu por um ano, quando pode estudar, entre outras coisas, latim, filosofia, literatura clássica e teologia.
Nessa época seu pai queria que ele seguisse a carreira militar, mas Leminski demonstrava o desejo de ser monge, o que ia de encontro a vontade de seu pai. O jovem acabou por não seguir nenhuma das duas, não se tornou militar e, em 1963, deixa para trás suas vocações religiosas.
Desistindo da questão religiosa ele volta a Curitiba onde se envolve cada vez mais com a literatura, incluindo aí a literatura de outros países como a grega, latina, francesa e hebraica, sempre demonstrando uma grande capacidade intelectual.
Literatura
Em 1963 ele se casaria com a artista plástica Neiva Maria de Sousa. Nesse mesmo ano ele ingressaria nas faculdades de direito e letras, não concluiria nenhuma das duas. Ainda em 1963 ele participaria da ‘Semana Nacional de Poesia de Vanguarda’, em Belo Horizonte, quando conheceria os poetas Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos, de quem se tornaria amigo e parceiro em vários trabalhos.
Trabalhando de forma intensa a literatura e seus textos, Paulo publica, em 1964, cinco poemas em uma edição da revista “Invenção”, cuja direção era ocupada por Décio Pignatari, foi sua estreia na literatura. No ano seguinte vai dar aulas de história e redação em cursos pré-vestibulares. Essa experiência na sala de aula faria dele o professor mais requisitado de Curitiba, em função de sua inteligência e habilidade para ensinar.
Em 1966 participaria do II Concurso Popular de Poesia Moderna, do jornal O Estado do Paraná, vencendo o concurso. No ano seguinte, 1967, fundaria o Grupo Áporo, um coletivo de escritores e intelectuais que se reuniam em Curitiba. Nessa época ele começa a escrever aquele que seria o seu primeiro romance, “Catatau”.
Em 1968 Leminski se separa de Neiva e se casa com a poetisa Alice Ruiz. Entre 1969 e 1970 o casal vem para o Rio de Janeiro, onde Paulo vai trabalhar em diversos jornais e revistas. Ainda em 1970 retornam a Curitiba e Leminski vai atuar como redator publicitário.
Em 1975 Leminski publica seu primeiro livro, o romance “Catatau”. Depois dessa primeira e bem-sucedida experiência, o autor publicaria diversas obras, entre livros de poesia, romances, infantojuvenis e biografias, algumas delas publicadas após a sua morte. Confira:
* Poesias
– Quarenta clics em Curitiba – 1976
– Polonaises – 1980
– Caprichos e relaxos – 1983
– Um milhão de coisas – 1985
– Distraídos venceremos – 1987
– La vie en close – 1991
– Metamorfose – 1994
– O ex-estranho – 1996
– Winterverno – 2001
* Romances
– Catatau – 1975
– Agora é que são elas – 1984
* Biografias
– Cruz e Souza — o negro branco – 1983
– Bashô — a lágrima do peixe – 1983
– Jesus a.C. – 1984
– Trotski — a paixão segundo a revolução – 1986
* Obras infantojuvenis
– Guerra dentro da gente – 1986
– A lua foi ao cinema – 1989
Sua poesia era forte e lírica, uma poesia muito bem construída, cheia de simbolismo e carregada de questionamentos metafísicos. Confira no poema “Aviso aos Náufragos”.
Aviso aos Náufragos
Esta página, por exemplo,
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.
Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida,
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.
Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta página, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom-dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não é assim que é a vida?
Além de seus livros, ainda nos anos de 1970, Leminski e sua esposa Alice roteirizaram histórias eróticas em quadrinhos. Paulo Leminski também teve uma forte atividade musical, escrevendo letras de música, tendo como parceiros figuras relevantes do cenário musical brasileiro como Moraes Moreira, Itamar Assumpção e Guilherme Arantes, entre outros. Várias de suas composições foram gravadas por artistas como Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Zizi Posse, Zélia Duncan, Arnaldo Antunes e Ângela Maria.
Sua produção musical foi tão ampla e diversificada que, em 2014, sua filha Estrela Ruiz lançou o álbum “Leminskanções”, com 25 músicas escritas por ele.
Frases
Algumas das frases de Paulo Leminski.
– “No fundo, no fundo, bem lá no fundo, a gente gostaria de ver nossos problemas resolvidos por decreto.”
– “Os livros sabem de cor milhares de poemas. Que memória! Lembrar, assim, vale a pena. Vale a pena o desperdício.”
– “Amar você é coisa de minutos…”
– “Esta página, por exemplo, não nasceu para ser lida. Nasceu para ser pálida, um mero plágio da Ilíada, alguma coisa que cala, folha que volta pro galho, muito depois de caída.”
– “Este mundo não se justifica, que perguntas perguntar?”
– “O inesperado é sua norma máxima.”
– “Aqui eu sou bárbaro, pois não sou entendido por ninguém.”
Vida Pessoal
Paulo Leminski foi casado duas vezes, primeiro com Neiva de Sousa, com quem viveu de 1963 a 1968. Depois ele se casaria com Alice Ruiz, com quem viveria de 1968 a 1988. O casal teve três filhos: Miguel Ângelo (1969), que morreu em 1979, aos 10 anos, vítima de um linfoma; Aurea Alice (1971); e Estrela Ruiz (1981).
Paulo Leminski faleceu no dia sete de junho de 1989, em Curitiba, por conta de uma cirrose hepática.
Simplesmente Genial
O que dizer não só da poesia de Paulo Leminski, mas de todo o seu trabalho literário e artístico? Só podemos afirmar que ele foi um gênio da nossa cultura, com uma produção ampla, variada de alta qualidade. Se viveu pouco, apenas 44 anos, produziu muitos trabalhos que guardam grande relevância para nossa literatura, nossa música e para a cultura brasileira. Enfim, Paulo Leminski foi simplesmente genial.
































