A importante obra de Aluísio Azevedo, “O Cortiço”, é a dica literária

Hoje a dica de leitura vai para uma importante obra do autor Aluísio Azevedo, “O Cortiço”, publicada em 1890, que retrata a sociedade carioca daquele momento, em que se vivia um período pós abolição da escravatura e Proclamação da República.

A obra

“O Cortiço” é um romance urbano naturalista, escrito por Aluísio Azevedo e publicado no final do século XIX, que retrata a vida de diversas pessoas em um cortiço que vai se formando e transformando, de um pequeno espaço e um grande aglomerado de pessoas que lutam pela sobrevivência em um ambiente que pode ser ao mesmo tempo solidário, mas extremamente cruel.

A história retrata a vida do português João Romão dono de uma pedreira e de uma venda, em torno dos quais ele vai instalar o cortiço. Romão vive com a escrava fugida Bertoleza, que trabalha duro na venda, ajudando João a ganhar seu dinheiro, rigidamente economizado. Para ter a dedicação completa de Bertoleza, o português cria um documento falso de alforria para a negra, que acha que está livre, quando na verdade permanece como uma fugitiva.

Na medida em que o cortiço cresce vamos conhecendo os diversos personagens inseridos por Azevedo que retratam o momento de uma sociedade já bem-marcada pela desigualdade social. Aluízio também nos apresenta a presença do imigrante europeu, no livro retratados por portugueses e italianos que vão habitar o cortiço de Romão.

Um dos importantes personagens dessa história é Jerônimo, que se apresenta para trabalhar na pedreira de Romão. Ele é o típico imigrante português, casado, pai de uma filha, rígido nos costumes e que só pensa em trabalhar duro e economizar para poder oferecer algo melhor para a filha e ter uma velhice minimamente tranquila.

Rapidamente Jerônimo se torna um importante empregado de Romão, organizando e dinamizando o trabalho na pedreira. Mas, morando no cortiço com a família, Jerônimo convive com um ambiente totalmente sem regras, de muita confusão, onde ele vai se apaixonar perdidamente pela mulata Rita Baiana, que, por sua vez, é amante do malandro Firmo. Rita acaba se apaixonando pelo português e, por ela, Jerônimo mata o rival, abandona a família e renuncia a todos os seus princípios tornando-se um gastador descontrolado.

Em paralelo, vários dramas são retratados por Aluísio nesse ambiente, como traição, gravidez de jovens adolescentes, desemprego, vícios, entre outras coisas.

Além de precisar controlar a vida no cortiço, João Romão precisa enfrentar outro adversário, seu conterrâneo Miranda, um português que se casou com uma filha de família rica e tornou-se um importante comerciante. Miranda vai morar em um belo sobrado, ao lado do cortiço, e tenta, de todas as formas comprar parte das terras de João, que se recusa terminantemente a vendê-las.

Depois de um tempo Miranda conquista o título de Comendador, o que desperta a ira de João Romão, que passa a sonhar com a ascensão social e com os títulos de nobreza. Influenciado por um amigo comum, Botelho, Romão começa a se aproximar de Miranda. Para tanto, vai mudando de vida, passando a gastar dinheiro com sua própria existência. Reforma seu sobrado, passa a usar roupas de qualidade e vai buscar manter certa distância do povo do cortiço, incluindo aí a negra Bertoleza. Sob a influência de Botelho, João cogita uma aproximação maior com Miranda, passando a cortejar Zulmira, a filha deste. Vendo a ascensão do vizinho, Miranda aceita a corte à filha e passa a ver como interessante essa aproximação.

A vida parece ir muito bem para João, cada vez mais rico e próximo de um casamento com Zulmira. O único e grande problema de Romão passa a ser a escrava Bertoleza, que todos no cortiço sabem que vivia há muito tempo com João Romão e que lhe ajudou a construir a fortuna. Para poder casar-se com Zulmira o comerciante português precisa se livrar da negra. Com medo de expulsá-la João cogita até mesmo matá-la, mas não tem coragem para tanto.

Cada vez mais desesperado com a situação ele decide devolvê-la a seu antigo proprietário, uma vez que, na verdade, ela não era alforriada, tudo não passara de uma grande mentira arquitetada por João para ter a escrava sobre seu controle.

O desfecho da história traz um trágico fim para Bertoleza, mostrando o quanto podem ser cruéis as relações humanas quando há poder, dinheiro e ascensão social em jogo.

Verdade nua e crua

Em “O Cortiço” Aluísio Azevedo mostra a realidade do cotidiano da cidade do Rio de Janeiro no final do século XIX. Uma cidade que cresce como capital da recém-instalada república e povoada de graves problemas sociais. Uma sociedade que vai se formando à sombra de uma abolição que livrou os negros da escravidão, mas deixou-os entregues à própria sorte.

Uma sociedade que se mostra desigual desde o seu princípio, onde muitos vivem na mais absoluta pobreza, lutando diariamente pela sobrevivência para que uns poucos enriqueçam.

Fazendo a leitura de “O Cortiço” é possível entender a origem de muitos dos problemas que vivenciamos ainda hoje em nossa sociedade. É uma leitura extremamente interessante.

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Escritor Carlos Carvalho

Carlos Carvalho

Sou escritor, amante de literatura e apaixonado pelos mistérios criados por Agatha Christie. Escrevo contos, poesias e romances. Sendo o Romance Policial meu gênero literário preferido. Sou formado em Jornalismo e pós-graduado em Assessoria de Imprensa e Comunicação Empresarial.

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