Conto policial “Morte ao Acaso” – Capítulo 3

As primeiras impressões sobre a morte de Suelen

3 – A descoberta do corpo

Ricardo esperou alguns segundos antes de voltar às perguntas.

– Quando foi a última vez que vocês viram a Suelen viva?

– Eu não via a Suelen há uns dois dias. – falou Ângelo – trabalho como segurança e estava na minha escala na sexta. Cheguei no sábado pela manhã, dormi até as 4 horas da tarde. Sai para dar uma volta no calçadão, depois fui para a casa da minha namorada. Voltei por volta das duas horas da madrugada e fui direto dormir. Hoje de manhã o Robson bateu na minha porta pedindo ajuda para entrar no apartamento da Suelen.

– Em qual andar você mora?

– No terceiro andar, aqui em cima.

– Nós dois moramos no mesmo andar. – completou Robson.

– Qual a última vez que você viu a Suelen viva, Ângelo? – perguntou Ricardo.

– Se não me engano na quinta-feira pela manhã.

– E o senhor, seu Robson? Quando viu Suelen pela última vez? – emendou a pergunta Nando.

– Ontem pela manhã. Eu estava na portaria e ela passou por mim. Nos cumprimentamos rapidamente. Depois disso não a vi mais, até entrarmos no apartamento dela.

– Ela estava chegando ou saindo?

– Chegando. Estava com algumas bolsas, acho que tinha ido ao supermercado.

– Quantos apartamentos são por andar?

– São 23 apartamentos por andar. – respondeu o síndico.

– E ninguém viu ou ouviu nada? – quis saber Nando.

– Ninguém falou nada. Só vieram quando notaram a nossa movimentação, aí todo mundo queria ver o corpo, pura curiosidade, foi difícil segurar o pessoal, fofoqueiro tem em tudo que é lugar. Mas, em geral, as pessoas aqui não se preocupam muito com os vizinhos. – explicou Robson – Estão preocupadas em cuidar da própria vida, o que já está bem difícil hoje em dia. A interação entre os vizinhos não é muito frequente e existem muitos apartamentos vazios.

– Além desse Arthur, você sabe se havia mais algum homem na vida da Suelen? – Ricardo perguntou para Márcia.

– Tinha alguém que incomodava ela, mas ela nunca disse quem era. Ela dizia que não era importante, não era nada demais. Talvez fosse alguém do antigo trabalho dela. Mas não sei dizer com certeza, ela nunca me disse o nome.

– Entendi. Muito obrigado pela ajuda. Gostaria de ficar com o contato de vocês, pois, com certeza, vamos voltar a nos falar. Depois vamos precisar tomar o depoimento formal dos três sobre a ocorrência, lá na delegacia.

Eles passaram os respectivos números de telefone para os policiais, que também deixaram seus números com o grupo. Na sequência os dois voltaram para à cena do crime.

– O que você acha? – perguntou Nando depois que voltaram ao apartamento de Suelen.

– Tudo indica que o Luís Roberto está certo, foi alguém conhecido. Nada foi mexido, tudo parece estar no lugar, nenhum sinal de arrombamento ou roubo, a expressão de surpresa dela. Todo o cenário aponta para alguém que ela conhecia e deixou entrar. Difícil imaginar esse cenário com uma pessoa estranha. – comentou Ricardo.

– É verdade. Ninguém deixaria um estranho entrar assim, se aproximar a ponto de poder apertar o seu pescoço, a não ser que fosse seu conhecido e você tivesse algum grau de confiança nele.

– Além disso, seria muito arriscado você entrar no prédio, correndo o risco de ser visto, ir até um apartamento no segundo andar para estrangular uma pessoa e nada roubar. – disse Ricardo.

– Com certeza. Por outro lado, um vizinho poderia transitar tranquilamente pelos andares sem chamar atenção. – afirmou Nando.

– Esse é um ponto interessante. Vamos descer para comer alguma coisa, estou com fome. Enquanto continuamos a analisar o que temos até agora.

– Vamos nessa. – concordou Nando.

Os dois policiais desceram e procuraram uma padaria onde pudessem fazer um lanche.

– Chegou rápido aqui, estava por perto? – perguntou Nando, assim que eles se sentaram para comer.

– Sim, estava em Botafogo, eu falei isso pra você ao telefone. Por que a pergunta?

– Chegou muito cedo ou passou à noite por aqui? Com esse tempo não acredito que tenha saído cedinho de Irajá, aposto que passou a noite por aqui.

– Você é muito curioso, Grilo Falante. – brincou Ricardo, que gostava de chamar o parceiro assim, numa alusão ao personagem da história infantil “Pinóquio”.

– Isso está cheirando a uma nova conquista… – Nando não terminou a frase.

– É, é uma nova conquista sim. – falou apressadamente Ricardo, tentando encurtar a conversa.

– Pronto, lá vem mais encrenca. A policial, a Ritinha, agora essa outra. Porra, você não consegue sossegar, não?

– Deixa quieto. Nós viemos aqui tratar da morte da Suelen, não para discutir a minha vida amorosa.

– Mas o que você quer que eu faça. Você vive correndo atrás de confusão. Lembre-se, quem procura, acha. – profetizou Nando.

– Vai se fuder. Vira essa boca para lá, bicho agourento. – brincou Ricardo.

– Vai nessa. Até a hora que você se der mal com essas histórias. Fico imaginando as três mulheres juntas, todas reivindicando o posto de primeira-dama da delegacia de homicídios, com o nosso galã, vai ser uma baixaria só. – falou Nando sorrindo, feliz por provocar o amigo – Só espero que essa aí não seja policial ou você acaba provocando uma guerra dentro da corporação.

– Fica tranquilo. Nenhuma relação com a polícia. Agora vamos tratar do que interessa. A morte da Suelen.

Confira os Capítulos anteriores:

Capítulo 1

Capítulo 2

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