3 – No trabalho
Na manhã seguinte Ricardo estava na porta do escritório onde Gustavo trabalhava, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Era uma empresa de segurança privada, chamada Boa Vigilância. Após se identificar na recepção, o policial foi levado ao encontro de um dos sócios da firma.
– Bom dia, Inspetor Ricardo. – falou o homem, convidando o policial para se sentar – Meu nome Luís Antônio. No que eu posso ajudá-lo?
– Bom dia, Dr. Luís. O senhor é o dono da empresa?
– Sim. Eu tenho um sócio, mas quem está à frente da administração da empresa sou eu, sou o responsável por tudo aqui. Meu sócio só faz a parte de capitação de clientes. O dia a dia operacional é comigo. – explicou o homem.
– Eu gostaria de falar com o Senhor a respeito de um de seus funcionários, Gustavo Freitas. Ele cometeu suicídio há pouco mais de uma semana. – falou Ricardo.
– Sim, sim. Foi uma coisa lamentável, todos nós ficamos chocados com o que aconteceu, ninguém podia imaginar que o Gustavo pudesse tomar uma atitude como essa. – respondeu o homem.
– Então foi uma surpresa para vocês o acontecido? Ele nunca deixou transparecer nada que levantasse suspeitas sobre seu estado psicológico?
– Nunca. O Gustavo era uma pessoa reservada, não era de muito papo, mas isso não quer dizer nada. Muitas pessoas são extrovertidas, outras nem tanto, o Gustavo pertencia a turma das pessoas caladas e discretas. Nós nunca notamos nada em relação a ele. Se ele tinha motivos para se suicidar, escondeu isso muito bem. Até onde eu saiba, ele nunca fez menção a nada relacionado ao assunto com ninguém, nem deixou transparecer que estivesse com graves problemas pessoais que justificassem um suicídio. Efetivamente foi uma grande surpresa para todos nós.
– Qual era a profissão do Gustavo? – perguntou Ricardo.
– Ele era contador, trabalhava no nosso financeiro.
– Ele trabalhava na empresa há muito tempo?
– Ele era um funcionário antigo, estava conosco há mais de 20 anos. Posso confirmar o tempo exato para o senhor depois.
– Quem eram as pessoas mais próximas dele aqui na empresa? Gostaria de falar com elas.
– Sinceramente vou ter que verificar isso para você. Acredito que fosse o pessoal da própria contabilidade, mas eu não acompanhava a vida dele de perto para saber desse tipo de detalhes. Mas o pessoal do financeiro e do RH trabalha em um espaço físico colado e estão todo os dias juntos. Acredito que ele tivesse mais proximidade com essas pessoas.
– Tudo bem. Eu gostaria de falar com o pessoal do financeiro. Se for possível, ver o local de trabalho dele, os pertences. – disse Ricardo.
– Posso providenciar isso para você, inspetor. Me desculpe perguntar, mas porque tanto interesse em uma pessoa que cometeu o suicídio, afinal de contas pode ser uma atitude reprovável, mas não é um crime. Por acaso não foi um suicídio? – ponderou o homem.
– Temos certeza de que ele cometeu o suicídio, a perícia já confirmou esse fato. A questão é que foram encontrados alguns documentos no computador e no telefone dele que nos levam a acreditar que ele não tomou essa atitude por estar desgostoso com a vida, vamos colocar dessa forma. – esclareceu Ricardo.
– E vocês acham que pessoas aqui da empresa podem ter relação com isso? – questionou o homem.
– Somente agora recebemos as informações da perícia e estamos iniciando uma investigação. Vamos precisar averiguar todas as possibilidades. As relações profissionais e pessoais do senhor Gustavo. Quem eram as pessoas próximas, com quem ele falava, trocava e-mails, com quem conversava nas redes sociais. Enfim, tudo.
– Tudo bem. Vou verificar isso para o senhor. – falando isso o homem pegou o telefone e fez uma chamada pelo ramal. – Suzana, você pode vir até a minha sala, por favor.
Em alguns minutos uma mulher aparentando ter uns quarenta e cinco anos entrou na sala. Ela era bonita e elegante.
– Suzana, esse é o inspetor Ricardo, da Polícia Civil. Ele está precisando de algumas informações nossas. – falou Luís Antônio.
– Bom dia, inspetor. – a mulher cumprimentou Ricardo enquanto sentava.
– Bom dia, dona Suzana. – Ricardo devolveu o cumprimento.
– No que eu posso ajudá-lo? – perguntou a mulher.
Antes que o policial pudesse falar, Luís Antônio se antecipou.
– O inspetor precisa de informações sobre o Gustavo. Eles estão investigando algumas coisas sobre a morte dele e precisam ter acesso as coisas dele que estavam no escritório, informações sobre a vida funcional dele e sobre os amigos aqui na empresa.
Depois de refletir por um instante, a mulher respondeu:
– Posso ver isso para o senhor. Posso lhe passar a ficha funcional dele, as pessoas com quem ele se relacionava. Só os pertences dele que já não estão mais conosco, empacotamos e enviamos para a família ontem.
– Para quem vocês enviaram?
– Para a ex-mulher. Falamos com o irmão dele e esse orientou que enviássemos para a ex-mulher e a filha. Assim nós fizemos.
– Entendo. – falou Ricardo – De qualquer forma, tudo o que a senhora tiver de informação sobre o senhor Gustavo vai me ajudar.
– Então vamos até a minha sala para eu providenciar o que o senhor precisa. – convidou ela.
– Tudo bem, inspetor, a Suzana vai cuidar do senhor e providenciar tudo o que o for preciso. Qualquer coisa, estou à disposição. – falou Luís Antônio, levantando-se para se despedir do policial.
A sensação que Ricardo teve era de que o homem queria se livrar dele.
– Tudo bem, Dr. Luís Antônio, agradeço a sua colaboração.
Após cumprimentar o homem Ricardo seguiu Suzana até a sala dela.
– Sente-se, inspetor. Aceita um café? – ofereceu Suzana assim que chegaram.
– Aceito, obrigado.
– Vamos ao que o Senhor precisa, inspetor. – falou ela – Como eu disse, os pertences dele foram enviados para a família. Fora isso, vou lhe passar o histórico dele na empresa, quando entrou, que cargos ocupou, essas coisas. E vou lhe indicar as pessoas que eram mais próximas a ele.
– Eu fico muito agradecido por essa ajuda. – colocou Ricardo.
– Posso lhe fazer uma pergunta? – indagou a mulher.
– Claro, fique à vontade. –
– Por que o Senhor está aqui colhendo todas essas informações? Isso é usual em um caso de suicídio? Pelo menos a informação que chegou aqui na empresa é que foi suicídio, ele se atirou da varanda do apartamento, ou não foi suicídio?
– Não há a menor dúvida de que foi suicídio. Com toda a certeza o senhor Gustavo se atirou da varanda. – respondeu ele, refletindo sobre o fato de todos ali parecerem preocupados com a investigação sobre a morte de Gustavo.
Ele fez uma pausa quando uma pessoa entrou na sala para servir o café. Após a saída desta, ele continuou:
– Suicídio, foi. Mas, a perícia levantou algumas informações no computador do morto que nos obrigam a fazer essa investigação.
– Informações no computador do Gustavo?
– Sim, umas trocas de e-mail e mensagens que levantam algumas suspeitas que precisamos investigar. – disse o policial.
– Entendo.
– Há quanto tempo ele trabalhava aqui?
– Há 22 anos – respondeu ela.
– Vocês possuem e-mail corporativo aqui na empresa? – perguntou ele.
– Temos, sim. Todo empregado que é admitido tem acesso a um e-mail corporativo. É uma ferramenta importante para a comunicação entre os empregados.
– Com certeza. – concordou Ricardo – Acredito que vocês tenham um backup desse material, até por resguardo em questões trabalhistas? – indagou Ricardo.
– Temos sim. O senhor quer ter acesso ao conteúdo dos e-mails do Gustavo? – perguntou ela enquanto fazia anotações numa agenda.
– Sim, queremos verificar o que ele conversou com outras pessoas nos últimos tempos.
– Bem, acredito que não exista problema, de qualquer forma vou encaminhar a questão para o nosso jurídico. – falou ela.
– Se precisar, posso providenciar um pedido formal.
– Não é preciso. Esse é o tramite normal aqui na empresa. Vou passar a questão para eles e lhe aviso em quanto tempo teremos as informações disponíveis.
– Agradeço por sua atenção. – falou Ricardo – Sobre as relações pessoais do senhor Gustavo aqui na empresa, a senhora sabe me dizer quem eram as pessoas mais próximas dele?
– Bem. Tem duas pessoas que eram próximas dele, a Lena e o Marcílio. Eles trabalham na contabilidade e estavam junto com o Gustavo há muitos anos. Que eu saiba, eles são as pessoas mais próximas dele. Se ele tinha outros amigos mais próximos, eles dois devem saber lhe responder.
– Ótimo. Eu posso falar com eles dois? –
– Pode. O Senhor quer falar com os dois agora? – perguntou a mulher.
– Se possível, sim, mas com um de cada vez, se não for muito incômodo. – respondeu o policial.
– Não é incômodo algum. Vou ver uma sala que o senhor possa usar e chamo um de cada vez.
– Mais uma vez agradeço a gentileza. Mais uma pergunta, a empresa possui um seguro de vida para os empregados?
– Temos sim. Um seguro que é oferecido a todas as pessoas que são contratadas. É claro que é optativo, ninguém é obrigado a aceitar.
– A Senhora sabe se o Gustavo tinha esse seguro?
– Tinha sim. Vou levantar a informação precisa para e lhe passo.
– Muito obrigado.